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‘Não misturei meu sobrenome ao de Bolsonaro’, diz governador gaúcho em recado a Doria

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11/02/2021 – 14h40

Pivô do racha tucano, Eduardo Leite dá alfinetadas em João Doria ao lembrar do voto “BolsoDoria” em 2018

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, vem sendo incentivado pela ala do PSDB adversária de João Doria a entrar na disputa pelo posto de presidenciável em 2022. Pivô involuntário do racha tucano, ele dá alfinetadas no governador paulista ao lembrar do voto “BolsoDoria” em 2018 e ao dizer que a Presidência não deve ser uma “aspiração pessoal”.

*O governador João Doria quer assumir a presidência do PSDB e postular sua candidatura para 2022. Qual a sua avaliação?

O fato objetivo é que a liderança que um presidente de partido deve exercer é conquistada diante da agremiação, das principais lideranças.Temos orgulho da história que o PSDB construiu em São Paulo, onde melhorou o ambiente de negócios e adotou responsabilidade fiscal em governos nos últimos quase 26 anos. Mas isso não significa que simplesmente por ter essa história e a maior população, a presidência, ou qualquer outra função de relevância, vai se impor por parte desse estado. Há que se reconhecer a história e a força política também de outras regiões do Brasil e dialogar para construir essa liderança.

Diretórios de vários estados manifestaram hoje apoio a Bruno Araújo. O que isso significa?

Entendo que o atual presidente do PSDB, Bruno Araújo, está conduzindo com muita responsabilidade e habilidade dentro de um quadro político difícil. E ele conquistou essa liderança. Acho que tem todas as condições para que continue na presidência. Há que se reconhecer essa força também de outros estados que o próprio Bruno construiu ao longo da sua trajetória.

O governador João Doria tem dito esta semana que o PSDB precisa fazer oposição clara ao governo de Bolsonaro. Como o senhor vê essa questão?

Não é da natureza do PSDB exercer oposição sistemática, aquela clássica que nós entendemos como oposição, que obstrui, atravanca e cria obstáculos a qualquer iniciativa do governo. Claramente devemos fazer oposição ao Bolsonaro naquilo que diz respeito aos arroubos antidemocráticos, ataques que são feitos às instituições. Não podemos tolerar.

O senhor acha que seria natural a união de partidos do campo democrático contra Bolsonaro para evitar o que ocorreu em 2018, quando o senhor declarou voto no atual presidente?

Acho que é muito importante recuperar o que aconteceu em 2018. Diferentemente do governador Doria, eu não fiz campanha casada com Bolsonaro, não manifestei apoio ao candidato. Em nenhum momento misturei o meu sobrenome ao dele. Pelo contrário, me manifestei como eleitor entre duas alternativas, para que logo depois de tantos escândalos de corrupção não houvesse o retorno ao poder do PT. Mas em 2022 teremos um longo caminho e o processo eleitoral até chegar lá. É prematuro fazer qualquer tipo de pacto de não agressão simplesmente para vencer uma candidatura sem saber o que as outras vão defender.

Aliados de Doria afirmam nos bastidores que aecistas estão insuflando esse movimento na direção de uma eventual candidatura sua. Como vê a situação do Aécio Neves?

Eu não vejo aecismo ou aecistas no partido. Eu não tenho contato com o deputado Aécio Neves. Nenhuma relação. Já manifestei publicamente, em outras oportunidades, que entendo que o processo de expulsão do deputado deveria ter levado efetivamente à expulsão. Eu, tanto quanto outros brasileiros, me decepcionei ao ouvir aquela gravação (conversa em que Aécio pede dinheiro ao empresário Joesley Batista). Uma forma de fazer política que não está de acordo com a forma que eu penso a política. Mas houve uma decisão majoritária. Não gostei do resultado final, mas respeito por ter percorrido todo o debate. Por isso, essa etapa está superada. Agora, querer puni-lo com a expulsão por eventualmente ter sido um articulador de votos no candidato Arthur Lira (na eleição da Presidência da Câmara) é desprezar que houve dentro do partido outras motivações. Pelo que conversei com os deputados, muitas questões internas da Câmara pesaram mais do que qualquer posicionamento político em relação ao governo. Até porque o Arthur Lira foi apoiado pelo governo, mas não era o candidato do governo. Acho errado atribuir isso a um deputado, como é o caso que se atribui ao deputado Aécio Neves

Nesta quinta-feira, um grupo de deputados pedirá ao senhor para se colocar como pré-candidato a presidente. O que o senhor dirá a eles

Não sei se eles vão falar isso. Eu vou receber os deputados para apresentar a eles o que fizemos e, mais de qualquer coisa, como fizemos aqui no Rio Grande do Sul. Eu acho que essa vinda deles e o fato de o meu nome estar sendo lembrado para eventualmente liderar um projeto nacional, é, antes de mais nada, um reconhecimento por fazermos política com moderação, com diálogo. Conseguimos implantar medidas muito profundas, sem conflitos ou confrontos desnecessários. Outros estados aprovaram reformas previdenciárias mais tímidas do que a nossa e, só para comparar, no Paraná tiveram que tirar a votação de dentro da Assembleia e fazer na Ópera de Arame por conta dos conflitos. Em São Paulo, teve quebra-quebra dentro da Assembleia Legislativa. Tiveram que esvaziar galerias. Não houve confrontos, porque antes das votações, eu fui aos sindicatos, conversei. Se esse jeito de fazer política pode ser um exemplo para o Brasil, antes de qualquer coisa, eu vou me dispor a ajudar a construir um projeto para o país. E depois lá na frente vamos entender quem efetivamente deve representar o projeto. Se for o caso de oferecer o meu nome, estarei a postos para isso. Se entendermos que outro nome pode melhor representar, acho que tem que reunir duas capacidades: a de governar e a capacidade de ganhar eleição.

A prévia é a saída para o partido?

Se for o caso de ter prévia, não devemos ter medo de fazer prévia. Isso também ajuda até nesse processo de discussão interna, de alinhamentos, dentro do programa, do projeto que se deva levar adiante. Acho que as prévias são saudáveis. É prematuro dizer que eu venha me lançar dentro de prévias que nem sequer estão ainda sendo consideradas.

Como o senhor vê uma possibilidade de participar de uma chapa encabeçada pelo Luciano Huck?

Tem determinadas capacidades que precisam estar presentes num candidato a presidente da República. A de gerir, de fazer política e de ganhar eleição. Acho que a disposição e a disponibilidade do Luciano são louváveis; bem-vindas. É importante que novos atores possam se integrar nessa discussão. É alguém que tem, até pela função dele, carisma para conquistar votos num processo eleitoral. Agora o carisma que ele tem para o programa se traduzirá em votos? Tudo isso tem que ser avaliado. E passada essa avaliação, a efetiva disposição dele de enfrentar um processo eleitoral. Tomar a decisão de entrar e ver a vida profundamente afetada por essa decisão é outra coisa. Tenho de fato conversado com ele. É alguém com uma genuína vontade de ajudar o país. Todas as conversas que tive com ele foram discutindo projeto e futuro para o Brasil e não projeto e futuro para cada um individualmente, para ele ou para mim, como possíveis candidatos. Presidência da República não se dá por aspiração pessoal apenas.

Quando o senhor fala que a Presidência da República não se dá por uma aspiração pessoal apenas, tem um recado para o Doria?

Acho que o governador Doria tem a aspiração, como é legítimo. Para um político que foi prefeito e governador, como eu fui, e como o governador Doria também foi em São Paulo, é legítimo que tenha a aspiração de ascender à posição da Presidência da República. Mas não pode de qualquer maneira, se tem verdadeira intenção de contribuir com o país, fazer a sua aspiração pessoal maior do que a necessidade de encontrar um maior convergência, em torno de uma candidatura que represente aquilo que nós entendemos que o Brasil precisa: sobriedade, sensatez, moderação, ponderação e resultado. O único caminho para produzir resultado é justamente não desperdiçar energia com conflitos políticos estéreis, que não produzem resultado nenhum. Atacar esse ou aquele, grupos, setores. É legítimo que ele tenha aspiração, não necessariamente essa aspiração se traduzirá numa candidatura se não encontrar o ambiente político favorável. Porque a candidatura de um partido, especialmente como o PSDB, não é para atender aspirações pessoais, mas sim um projeto que o país precisa.(Gustavo Schmitt e Sérgio Roxo/O Globo)

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