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O Mato Grosso do Sul bem que merecia ter um senador assim

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07/03/2013 – 19h00

Confesso que nunca fui fã do sujeito, com seus discursos empolados da tribuna do Congresso mais parecendo demagogia de palanque nas periferias em épocas de eleição. Mas esta semana ele se superou, ao anunciar, batendo no peito, como líder da oposição no Senado, a ida “ao grande” brasileiro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, nesta quinta-feira, para pedir a prisão não apenas dos mensaleiros da República das Jabuticabas, como também dos corruptos do seu estado – o Pará -, devendo puxar a fila o senador peemedebista Jader Barbalho. O tucano Mário Couto, também senador, é o autor desta proeza.

Por uma dessas coisas que muita gente insiste em classificar como sobrenatural, o antológico discurso de Mário Couto coincidiu com o exato momento em que um dos últimos ditadores latinos – o coronel Hugo Chaves – dava a estrebuchada final em Caracas. Mas nem a tentativa do colega Eduardo Suplicy de comunicar a morte e manifestar solidariedade ao povo venezuelano foi capaz de interromper o raciocínio – depois disso – do candidato a mais ilustre entre os conterrâneos de Fafá de Belém. Sem apartes. Em sua ânsia para que o Brasil tivesse mais detalhes sobre o tamanho da fortuna amealhada à custa de corrupção pelos Barbalhos no Pará o senador nem tomou conhecimento da partida daquele que se dizia o último dos bolivarianos.

A veemência de Mário Couto era uma reação a recente reportagem em que ele aparece como estelionatário, claro, no jornal da família Barbalho. O homem espumava, socava a tribuna, e, aos berros, exibia a capa da revista Veja de quando o senador Jader Barbalho desembarcou algemado de um avião, em Brasília, para reforçar o argumento de que filho de peixe peixinho é, e que, portanto, o Barbalho Filho, dono do jornal que o acusa e candidato a governador do estado ano que vem, não tem moral para lhe criticar. Depois de elencar as propriedades da família, como fazendas com mais de cinquenta mil cabeças de gado, emissoras de rádio, jornal e TV, informou que Barbalho Filho tentou suborná-lo, quando presidente da Assembleia Legislativa, desafiando-o a interpretá-lo judicialmente para que possa provar todas as acusações.

Fazia tempo que não assistia as sessões do Senado. Coisa dos deuses, certamente. E o eco das palavras de Mário Couto martelando aqui na cachola, numa espécie de déjà-vu: “Como pode alguém que vive só da política ficar tão rico assim?”. Especificamente sobre o jornal, repetiu inúmeras vezes: “Este jornaleco foi montado com o dinheiro do povo do Pará, isto não lhe pertence, Jaderzinho”.

Parodiando o saudoso professor Raimundo, da escolinha de Chico Anísio, diante das respostas sempre na ponta da língua de seu Ptolomeu às perguntas que Rolando Lero jamais conseguia responder, seria o caso de dizer: o Mato Grosso do Sul bem que merecia ter um senador assim. A propósito do infausto acontecimento da semana, dá pra imaginar a cara de espanto, lábios trêmulos, e toda a elegância de nosso Rolando Lero no Senado, ao término do discurso de Mário Couto, quando finalmente Suplicy conseguiu seu aparte: “Mas morreu, mesmo, nosso sibilino comandante e companheiro Hugo Chaves?”.

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