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Bendito seja o fruto da sucupira, Alcides Bernal!

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09/01/2013 – 09h37

Minha vontade era analisar as primeiras medidas de Alcides Bernal como prefeito de Campo Grande, mas pelo medonho das nuvens desta manhã chuvosa que inibem o processo criativo e ameaçam a terra de seu Marcelino de escuridão total a partir da Coronel Ponciano, recorro a um vaticínio feito aqui quando da diplomação de Ari Artuzi como prefeito de Dourados. É aquela velha história do dèjá vu. Confiram:

Difícil compreender como dois galhos tão próximos de uma árvore tão comum como a da família das sucupiras possam gerar frutos tão diferentes. É o que acontece com árvore genealógica (também sucupira) de sua excelência, o prefeito Ari Artuzi e de seu tio, o ex-vereador Dioclécio “Sucupira” Artuzi, falecido no exercício da vereança, cujo legado político deixado ao sobrinho, então seu assessor, fez surgir o maior fenômeno eleitoral já visto por estas bandas, no curto período de oito anos. Ari, como dizia minha mãe, é do tipo que tem o tal bicho carpinteiro: não pára quieto, refestelado e pouco dado a boas maneiras. Dioclécio, tadinho, era o recato em pessoa, fala mansa, coração do tamanho de um transatlântico.

Esta semana, depois que o sobrinho recebeu o canudo com o diploma de prefeito da mais importante cidade do interior do Estado o tio resolveu driblar as rígidas normas impostas no andar de cima e bater um fio para a terrinha, aproveitando-se de um celular que passou incógnito pela alfândega celeste na bagagem de um médico recém-chegado (celular, no céu? Só podia ser do doutor Joaquim Lourenço). Conhecedor dos costumes de seu pupilo, que não pára em casa, Dioclécio ligou de madrugada, depois de alguns cálculos no tocante ao fuso horário.

Ari, que havia tido uma quinta-feira cheia de graça, pelas muitas felicitações e comemorações, mal pegara no sono e por isso estranhou o telefone tocando no exato momento em que ele sonhava percorrer em carro aberto a nova perimetral norte, inaugurada em companhia de José Serra, presidente da República, e de Zeca do PT, retornado ao governo depois de massacrar nas urnas aquele que um dia o humilhou como um animal do pêlo curto. Pulou da cama meio grogue, sem saber de onde vinha o barulho do telefone, já imaginando tratar-se de algum doente precisando de uma vaga na nova UTI do Hospital de Traumas. Aos berros, acordou Maria Primeira, mas foi Juliane, a filha mais velha, que o socorreu com o aparelho por ele esquecido na varanda enquanto sapecava uma ponta de peito para Jorginho Dauzacker e Francisco Saraiva, numa comemoração íntima já no começo da madrugada daquele dia tão especial. Afinal, contra tudo e contra todos, eles foram os primeiros a acreditar que era possível mudar a história.

Esfregando os olhos, Ari estranhou aquele monte de números no visor do celular, muito mais que os de uma ligação internacional. Quando reconheceu a voz suave de tio Dioclécio, pensou tratar-se de um pesadelo, mesmo assim arriscou a indefectível pergunta: “Onde o senhor está?”. A resposta foi mais serena que nunca: “Claro que estou no céu, guri, ou tu achas que depois de tudo que fiz por ti estaria no inferno?”. Ari tentou consertar: “É só modo de falar, tio”, e, crente naquilo que parecia um milagre, estufou o peito e mandou ver: “Ajuda eu! Fala aí com Jesus, com São Pedro, vê se acha o Tonanni, também, fala com todo mundo, porque o negócio aqui tá feio, não tô conseguindo nem montar o secretariado. É muita gente querendo uma boquinha pra cupinchada; é o Londres, esse Rigo, até o Zé Teixeira, que não votou em mim, todo mundo pressionando. Já pensou depois do dia primeiro? Ainda nem sei por onde começar”.

Diante de tanta choradeira, mesmo com a pouca experiência da curta passagem pela Câmara de vereadores, Dioclécio sentenciou: “começa pelo começo e vai devagar, não fica aí dando uma de doido, e pega leve com a turma do PT, que continua lá, é tudo gente concursada”.

Quanto à dificuldade do sobrinho em montar o secretariado o tio deu uma receita caseira: “Põe gente da tua confiança, agora você tem a caneta na mão, muito cuidado com os larápios que gostam de meter a mão, e não esqueça essa lei aí (Responsabilidade Fiscal), o Harry Amorim (presídio) já tem gente demais”.

Ainda sobre o secretariado Dioclécio disse que havia acabado de se informar com Renê Miguel, também recém-chegado por lá, todo orgulhoso porque o genro, Maurício Peralta, pode fazer parte da nova equipe. “Parece bom piá esse Peralta, só não me faça outro papelão como aquele de convidar o menino lá da OAB (Sérgio Henrique Araújo) e depois se fazer de esquecido”. Antes que o sobrinho se justificasse ou pedisse mais algum conselho ele apelou para a velha sabedoria popular: “Tem uns tubarão (sic) aí querendo te assustar, querendo tudo só pra eles, tome cuidado com essa gente, em último caso, lembre-se, vão-se os anéis, ficam os dedos”. Ari arrepiou-se todo: “Perder meus dedos? Chega o Lula que já não tem um”.

Tio Dioclécio convidou o sobrinho para, juntos, fazerem uma oração por Dourados, pela família. Nem bem começou – “bendito seja…” – e a conversa foi interrompida com o fim dos créditos do celular do doutor Lourenço. Ari chegou a intuir o final da frase “bendito seja o fruto da sucupira”, mas quando percebeu que rezava sozinho, resignou-se, caindo de novo na cama para fazer sua própria oração, recomeçando com o “ajuda eu”, mas acrescentando um “Senhor” ao bordão que lhe deu tanta sorte, e tantos votos. Bendito seja!

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Alcides Bernal, prefeito de Campo Grande - foto CE

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