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Adalberto Abrão Siufi, o novo bode expiatório da Saúde

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06/05/2013 – 18h47

Quando entrei no gabinete do prefeito Braz Melo mais branco do que sempre fui e tremendo mais que aqueles antigos jipes Toyota em marcha lenta, com um envelope de laboratório à mão e procurando por Eduardo Marcondes, a sempre eficiente Elizete Cavalcante viu que algo de anormal estava acontecendo e tratou logo de providenciar uma água com açúcar. O exame de sangue de minha filha, Ana Carolina, ainda menininha, detectara uma diminuição de glóbulos brancos. Uma suspeita de leucemia. Prontamente, o secretário de saúde, por coincidência o pediatra dela, apontou para o nome de Adalberto Siufi. Depois de dois dias sem dormir, corri pra Campo Grande. Antes mesmo de novos exames, apenas com um puxãozinho nas pálpebras, observando a mucosa um tiquinho pálida, ele arriscou: ela pode ter tudo, anemia, até tuberculose, menos leucemia! Os novos exames constataram uma intoxicação e só então ela confessou que havia xeretado na dedetização da casa da avó, em Guia Lopes.

Durante o calvário de meu amigo Harrison de Figueiredo tive a oportunidade de reiterar minha gratidão e admiração pelo médico Adalberto Abrão Siufi. Numa das muitas vezes em que lá estive, comentando sobre uma pinta escura nas costas de meu irmão, que morava em Porto Velho, ele quis mais detalhes sobre a dita cuja. Quando disse que era bem escura e irregular, recomendou o embarque no primeiro voo que saísse de Rondônia para Campo Grande, dizendo tratar-se de um melanoma, advertindo (antes de Luiz Ignácio, o Lula da Silva, ter se apropriado da expressão), com aquele seu jeitão de gente boa uma barbaridade, que se meu brother não operasse imediatamente, poderia “sifu”. Dois dias depois, com um pequeno curativo no lombo, meu irmão embarcava de volta para suas ovelhas.

Sobrinho do professor e diretor do Hospital do Câncer de São Paulo, Alfredo Abrão (uma das maiores referências no tratamento da doença no Brasil) e primo do não menos laureado, na mesma especialidade, Rafael Abrão, Adalberto fica com os louros da especialidade em Mato Grosso do Sul. Não só pela competência nos diagnósticos, no tratamento ou no bisturi, mas principalmente por estar incluído no cada vez mais restrito grupo de profissionais que fazem da medicina um sacerdócio. Se estava mal assessorado, se a filha, também médica e gestora de seus negócios, não puxou o pai ou se o genro, de repente, teve algum interesse contrariado, o que pode ter gerado o conluio com o – “bem falso, né” – diretor do Hospital Universitário, José Carlos Dorsa, são outros quinhentos.

O que faltou na pauta do competente Maurício Ferraz, do Fantástico, foi um pouquinho mais de detalhes quanto à questão burocrática que emperra a anacrônica máquina pública – a mesma burocracia que permitiu a uma médica de Curitiba abreviar cerca de trezentas vidas sem que ninguém se desse conta. Assim como as papeletas na UTI do hospital “evangélico” de lá indicavam o dia e a hora do desencarne de pacientes terminais, as do Hospital Universitário e do Câncer de Campo Grande podem muito bem ter chegado atrasadas ao setor de processamento, o que justifica, na opinião de quem entende do riscado, como George Takimoto, o recebimento de uma fatura meses depois do procedimento, não sendo, pois, o óbito fator determinante da quitação da dívida. No mais, parece tratar-se de má gestão da coisa pública, cabendo ao Ministério Público, sim, denunciar, desde que na dosagem correta.

Daí a transformar isso num escândalo nacional, só mesmo para alavancar a cada vez mais capenga audiência da Rede Globo ou atender aos interesses de quem tem alguma culpa em cartório e está tentando desviar o foco de situações bem mais graves e para explodir a qualquer momento. O retorno da operação Uragano, por exemplo, que agora em seus finalmentes, da mesma forma que o mensalão petista, deve contribuir para aumentar a já preocupante super-população carcerária. Com seus pesadelos uragânicos e rezando para que tudo acabe antes de começar o processo eleitoral, Delcídio do Amaral é um dos que estão se aproveitando – nas mídias sociais – para tripudiar em cima da história de Adalberto Abrão Siufi e, de quebra, tentando minar o prestígio do governador André Puccinelli. Talvez porque, como parceiro (inclusive agora, nesses momentos difíceis) de Ari Valdecir Artuzi, o senador, melhor que ninguém, saiba a dor de cabeça que é uma papelada enrolada como esta que está levando um ícone da medicina do estado à execração pública. Como se vê, a exemplo do próprio Valdecir, Adalberto Siufi pode não passar de mais um bode expiatório.

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O médico Adalberto Abrão Siufi - foto: Giuliano Lopes

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