10/06/2015 – 09h27
“Fala pra mim, Valfrido, qual vereador tem um cabo eleitoral como eu?”. A pergunta é do pai do vereador Maurício Lemes Soares, o gabola Archimedes Ferrinho, por oito anos também vereador, dos quais quatro como presidente da Câmara Municipal de Dourados. No último domingo, depois de trinta e cinco anos, ele me pegou logo cedo em casa para repetirmos um périplo que começamos na campanha de Luiz Antônio Álvares Gonçalves para a prefeitura principalmente na região do Parque das Nações. Desta vez, baixamos no grande Água Boa. Uma paradinha para acordar o ex-vereador Saraiva, de Glória de Dourados, outra para encomendar um costelão assado no capricho por Valdomiro Marques e, por fim, uma visitinha ao convalescente Akira Oshiro, os dois últimos também ex-vereadores. Estava dada a largada para uma das campanhas de reeleição das mais tranquilas do ano que vem.
Este é o típico caso de se recorrer à antológica observação do chanceler e senador mineiro Magalhães Pinto, para quem “política é como uma nuvem; você olha ela está de um jeito, olha de novo ela já mudou”. Fosse nos tempos do pai, Ferrinho, Maurício Lemes poderia até se aproveitar do minuto de bobeira que teve ao passar a mão no traseiro da colega Virginia Magrini para fazer do limão uma limonada, aproveitando-se do episódio e da fama de garanhão para aumentar sua votação. Mas os tempos são outros, além do que ele é o protótipo do bom moço, religioso, bem casado, ligado ao esporte e aos movimentos culturais.
Antes que Ferrinho me ligue de Porto Seguro, na Bahia, onde está gastando toda sua boa lábia vendendo caminhões para ajudar na campanha do filho, para perguntar o tamanho do estrago, traduzo o espanto e a indignação de uma tiazinha hoje de manhã na padaria. Folhando o jornal do seu Amaral, ela chamava a atenção dos madrugadores para protestar contra o que entendia como mais uma “pouca vergonha” da classe política. A mesma indignação da vítima, a vereadora Virgínia Magrini, que garante nunca ter dado esse tipo de liberdade ao pimpolho de Ferrinho: “ainda que eu fosse uma prostituta ele ou qualquer outra pessoa não teria o direito de fazer isso”.
Maurício Lemes vai ser cassado por isso? Não, claro. No máximo, deve levar reprimenda, em que pese a determinação do presidente Idenor Machado – uma das testemunhas da obscenidade – de fazer cumprir o regimento interno da Casa, que prevê, nesses casos, de um simples puxão de orelhas até a cassação do mandato. Lembrando que nenhum outro vereador tem tanto as costas-quentes quanto Maurício. Além de ser um dos queridinhos da base aliada de Murilo Zauith, tem ligações familiares com nada mais nada menos que três secretários municipais: o sogro Luiz Roberto Martins, secretário de Planejamento, e os primos Alessandro Fagundes, da Fazenda e Márcio Wagner Katayama, de Serviços Urbanos. E, mais importante, o também primo Sérgio Henrique Pereira Martins de Araújo, procurador jurídico da Câmara, que é quem vai dizer a Idenor e a seus pares quanto vai custar esta mão boba do parente. Virgínia fez a parte dela, registrando queixa na Delegacia da Mulher. Maurício disse que foi só uma brincadeirinha.
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