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Bom humor, futebol e um susto: A primeira visita do príncipe Phillip ao Brasil, em 1962

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13/04/2021 – 09h14

Príncipe de Edimburbo, que morreu sexta-feira passada, foi recepcionado pelo presidente João Goulart e viu Pelé contra o Palmeiras, no Pacaembu

O príncipe Phillipe chegou em Brasília às 17h daquela quinta-feira, dia 15 de março de 1962, pilotando ele próprio o Handley Page Dart Herald, fabricado no Reino Unido e de propriedade da família real. Desceu do avião sorridente, trajando terno cinza e gravata verde, acenando para as pessoas com o chapéu numa das mãos. Recebido com honras militares pelos Dragões da Independência, ele foi diretamente levado ao Palácio do Planalto para uma conversa informal com o então presidente, João Goulart.

Seis anos depois, o príncipe consorte voltaria ao país acompanhando a Rainha Elizabeth II, mas, em sua primeira visita ao Brasil, o Duque de Edimburgo foi o centro das atenções. E não se fez de rogado. Entre os muitos compromissos na capital federal, em São Paulo e no Rio, ele visitou o Congresso Nacional, onde alfinetou um padre eleito deputado;assistiu a um jogo entre Santos e Palmeiras no Pacaembu, onde conheceu o craque Pelé; e levou flores ao Monumento aos Pracinhas, na Zona Sul do Rio. Deixou como marca o bom humor permanente. O nobre nascido na Grécia em 1921 era famoso por suas piadas, muitas vezes consideradas gafes.

Recebido por Goulart, os dois trocaram presentes. Enquanto o britânico ganhou o clássico livro de gravuras “Viagem pitoresca e histórica através do Brasil”, do francês Jean-Baptiste Debret, o presidente recebeu dois volumes da obra “Britain and Independence of Latin America”, além de uma pintura de Nicholas Pocock do século XVIII. Depois, no Palácio da Alvorada, Phillip elogiou a construção, mas fez graça ao dizer que não poderia morar ali porque seus filhos destruiriam as vidraças e sujariam os tapetes andando de bicicleta (na época, o príncipe Charles tinha 13 anos).

Numa conversa mediada pelo subsecretário de Estado, Renato Archer, o marido da rainha perguntou muito sobre a trajetória de Jango, e ficou interessado quando o presidente disse que nascera na fronteira com o Uruguai, no Sul do Brasil. “Então, o senhor deve montar bem a cavalo, fui informado de que os homens na fronteira são ótimos cavaleiros”. Quando o político gaúcho confirmou, Phillip perguntou se ele andava a cavalo em Brasília, mas Goulart disse que não, por falta de tempo. “Mas então o senhor leva seu mandato muito a sério”, brincou o príncipe.

À noite, houve um banquete de 55 talheres em homenagem ao duque, com a presença do então primeiro-ministro do Brasil, o mineiro Tancredo Neves. No dia seguinte, fez um tour por Brasília e visitou uma escola na Superquadra 108 do Plano Piloto, onde um aluno o impressionou realizando um experimento de física, introduzindo um ovo numa garrafa. Em suas andanças, arriscou uma análise sobre a arquitetura, comparando as construções da capital a “maços de cigarro” fincados no chão.

Phillip visitou o Senado e a Câmara dos Deputados. Quando viu centenas de cinzeiros sobre as bancadas parlamentares, foi irônico ao perguntar se, em momentos de exaltação, eles não eram usados como armas pelos membros do Congresso. O visitante manteve a ironia quando viu a batina do deputado federal mineiro Padre Vidigal. Ao saber que havia quatro deputados e um senador sacerdotes, não pensou duas vezes antes de perguntar: “Mas e a Igreja, o que acha disso tudo?”, gerando risadas constrangidas dos interlocutores.

A saída para São Paulo estava marcada para o meio-dia de 17 de março, mas o Duque de Edimburgo levou um baita susto. O avião decolou pontualmente, mas o motor esquerdo entrou em pane, causando tensão entre os passageiros e obrigando a aeronave a voltar ao aeroporto para reparos. Ele desceu com cara de poucos amigos, mas se refez do imprevisto: depois de almoçar com autoridades e tomou emprestado o avião presidencial, um modelo Vickers Viscount, fabricado no Reino Unido, em 1953.

Não há muitos registros da passagem de Phillip pela capital paulistana, mas, no sábado, dia 18 de março daquele ano, ele assistiu a um jogo amistoso entre Santos e Palmeiras, vencido pelo Santos por 5 a 3, com dois gols de Pelé, que, em seguida, foi apertar a mão do visitante e entregar-lhe a taça comemorativa feita especialmente para aquela partida.

Pelé com o príncipe Phillip após amistoso entre Santos e Palmeiras no PacaembuPelé com o príncipe Phillip após amistoso entre Santos e Palmeiras no Pacaembu | Reprodução
Na chegada ao Rio, às 14h15 do domingo, dia 19, o aristocrata deixou o aeroporto a bordo de um Chevrolet modelo Beal Air conversível, de 1953. Em frente à sede do Estado-Maior das Forças Armadas, na Cinelândia, ele passou em revista as tropas perfiladas e se dirigiu à embaixada da Inglaterra, onde um grupo de mulheres o recebeu com aplausos.

Cerca de 60 homens faziam a segurança do marido da Rainha Elizabeth no Brasil. No dia 20, ele e seu comboio fizeram uma visita à Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, na Rua Graça Aranha, onde foram festejados com chuva de papéis picados caindo das janelas dos prédios no Centro. Depois, Phillip visitou o Monumento aos Pracinhas, no Flamengo. Ele depositou uma coroa de flores no local e conversou com dois ex-combatentes brasileiros, procurando saber onde eles lutaram durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945).

Passistas da Portela se apresentam para Phillip na Embaixada da Inglaterra, em 1962Passistas da Portela se apresentam para Phillip na Embaixada da Inglaterra, em 1962 | Foto de arquivo/Agência O GLOBO
Na embaixada inglesa, o duque cumprimentou cada um dos 150 jornalistas presentes. Um repórter tentou presentear o estrangeiro com uma foto da rainha publicada numa revista da época, mas Phillip recusou dizendo: “Guarde com você, eu tenho a original”. Em seguida, ele reparou numa foto de Jânio Quadros, o ex-presidente brasileiro que renunciara em 1961. Foi quando um jornalista mais atrevido disse, em mau inglês: “De um lado, a bela, do outro, a fera”, desencadeando risadas entre os colegas.

A passagem pelo Rio incluiu ainda visitas à Floresta da Tijuca, com paradas na Vista Chinesa e na Mesa do Imperador, à Refinaria Duque de Caxias e ao Iate Clube da Ilha do Governador, de onde ele partiu para um passeio de barco pela Baía de Guanabara. Já no Palácio da Guanabara, residência oficial do governador, cargo então ocupado por Carlos Lacerda, o nobre inglês ganhou a chave da cidade e conversou sobre as glórias do futebol brasileiro com o então assessor de esportes, João Havelange, que viria a se tornar presidente da Fifa.

Phillip e a Rainha Elizabeth II chegam em São Paulo durante visita ao Brasil em 1968Phillip e a Rainha Elizabeth II chegam em São Paulo durante visita ao Brasil em 1968 | Foto de arquivo/Agência O GLOBO
Na noite do dia 20, durante um banquete com mil convidados no Palácio do Itamaraty, ao se despedir do Brasil, Phillip leu um texto em português: “Estou simplesmente encantado com a acolhida da minha visita ao Brasil, o que considero um testemunhio da amizade tradicional que liga Brasil e a Grã-Bretanha”, disse ele, antes começar o jantar. No cardápio, caviar, robalo com champingnon, faisão “a la bohemienne” e, de sobremesa, “bombe royale”. Ao final da refeição, foram distribuídos charutos baianos.

Com mais uma agenda cheia prevista para sua visita a Buenos Aires, na Argentina, o duque foi embora no dia 21 de março, mas, antes da partida, ainda houve tempo para uma visita à British School, em Botafogo, onde ele conversou com alunos e professores. À tarde, mais um banquete, desta vez na Embaixada Inglesa, com a presença do presidente João Goulart como convidado. O evento terminou com exibição de dançarinos e músicos de frevo, além de passistas e ritmistas da escola de samba Portela.(Blog do Acervo/O Globo)

O Príncipe Phillip em visita no Monumento dos Pracinhas, no Flamengo, no Rio, em 1962 | Foto de arquivo/Agência O GLOBO

Pelé com o príncipe Phillip após amistoso entre Santos e Palmeiras no Pacaembu | Reprodução

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