Que Reinaldo Azambuja é um sujeito bem-sucedido em tudo o que faz, tanto na vida pública como na privada, ninguém tem mais dúvidas, depois do grande governo que vem realizando no Mato Grosso do Sul, apesar dos solavancos políticos, jurídicos e, principalmente, da economia nacional. O que pouca gente sabia é que por traz do discreto fazendeiro de Maracaju existia um grande estrategista político. Tanto que insiste em guardar a sete chaves o quadro por ele desenhado para sua sucessão, e que vai “sugerir” ao eleitorado, mas só a partir das convenções partidárias.
Passado, já, o tão esperado 2 de abril – data, apenas para as desincompatibilizações para quem vai disputar, primeiro nas convenções partidárias, no meio do ano, depois as eleições de outubro – quando se esperava que as primeiras pinceladas de Azambuja ajudassem o eleitor a ter uma noção das cores predominantes de sua obra, eis que tudo ficou mais nebuloso ainda. De soslaio, apenas, os que insistem em bisbilhotar a obra inacabada adiantando os indícios de que ele deve insistir num contraponto ao antecessor André Puccinelli, que com sua ajuda acaba de passar à história como o governador do Aquário do Pantanal. Na mesma linha, pois, da preservação da natureza, por que não uma aquarela com um tucaninho sobrevoando o Parque dos Poderes procurando, para pousar, o Palácio idealizado por Pedro Pedrossian (mas que até hoje não saiu do papel), em que pese o estigma lançado pelo velho cacique político João Leite Schimdt, quando da fundação do PSDB, de que a ave símbolo do partido é de pouca autonomia de voo?
Uma maritaca já meio depenada, mas ainda barulhenta, depois de longo período de cativeiro, seguida por um pardal que não satisfeito em ajudar a conter o fluxo de trânsito na capital alardeia surpreender também no interior, para isso desfazendo o ninho no frondoso arvoredo dos altos da Afonso Pena. Engana-se quem pensa que esse é o quadro que jamais Azambuja pintaria, até porque com a tinta que como nunca antes na história abunda ele poderia deixar de lado essas telas e, para não complicar, inspirando-se numa paisagem que é mais comum ainda no cotidiano capital, dando-se por satisfeito se conseguir pintar uma modesta ararinha azul. Por fim, quem foi que disse que Azambuja não aprecia também cores fortes, como o vermelho da famosa estrela que volta a reluzir no horizonte pantaneiro?
Sem maiores perorações, alguém que entende o mínimo da arte da política poderia imaginar que André Puccinelli, Marquinhos Trad e Rose Modesto, todos, muito bem lastreados eleitoralmente em Campo Grande, estariam se acotovelando para subir ao palco da sucessão, como se não soubessem que é uma só a cadeira em disputa? Evidente que pode pintar alguém aí desse trio como coadjuvante, na sempre problemática cadeira de vice ou numa do cobiçado salão azul do Congresso Nacional. André Puccinelli, com o único objetivo de lavar sua honra? Marquinhos Trad fazendo o que nem o mesmo Puccinelli ousou (quando também foi prefeito pela segunda vez), abandonar uma prefeitura famosa por ter dinheiro aos borbotões, apenas porque andou conversando com Deus? E Rose Modesto, abrindo mão de uma reeleição tranquila, para a Câmara Federal? Sem contar, agora, o Contar, ops! E até Zeca do PT! É uma questão puramente matemática. Divididos os votos da capital, quem é o grande beneficiado?
Mantido o copião de Azambuja o tucano (‘muito prazer, eu sou’) Eduardo Riedel, que por ora patina nas pesquisas, chegaria à capital do estado com um caminhão de votos interioranos, a maioria cabalados pelos tão alardeados 70, dos 79 prefeitos que estariam “apaixonados” pelo trabalho dele. Prefeitos que, em tese, têm a maioria dos vereadores e das tais lideranças municipais. Com todo o capital político que tem, patrocinando, incentivando ou, que seja, aceitando placidamente essa enxurrada de candidatos de Campo Grande Azambuja certamente faz um retrospecto para tirar lições da primeira eleição direta para o governo do Mato Grosso do Sul, quando o candidato pedrossianista José Elias Moreira ganhou em todos os municípios do interior, mas levando uma sova de 3×1 de Wilson Martins na capital.
Tirante as metáforas e as obviedades, e como a eleição, este ano, acontece concomitantemente com a Copa do Mundo do Qatar, e no momento em que as atenções da humanidade se voltam para a Rússia, não tem como não recorrer ao lendário anjo das pernas tortas, Mané Garrincha. Depois de ouvir pacientemente a estratégia do técnico Vicente Feola, durante a preleção para o jogo contra a então União Soviética, na Copa de 1958, Garrincha saiu-se com essa: “Seu Feola, mas aí tem que combinar com os russos”.