O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), se reuniu na tarde desta sexta-feira (16) com o presidente Lula (PT) no Palácio do Alvorada. A reunião, que durou pouco mais de uma hora, foi marcada mais cedo, após cancelamento da agenda do petista em Rio Verde (GO) e ocorre na iminência de o presidente da Casa emplacar o seu primeiro aliado na Esplanada dos Ministérios.
A confirmação do deputado federal Celso Sabino (União Brasil-PA) para o lugar de Daniela Carneiro no Ministério do Turismo representará o ingresso prático de Lira no primeiro escalão do Executivo.
O presidente da Casa é o principal líder do centrão e foi o responsável pela base de apoio ao governo de Jair Bolsonaro (PL). Ele tem feito declarações públicas criticando a articulação política do Executivo com os parlamentares.
Nas redes sociais, o presidente da Câmara afirmou que “não se falou de mudanças no ministério” do petista.
Segundo Lira, os dois discutiram “pautas para o crescimento do país”, sobretudo a reforma tributária e o projeto de lei que trata do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Há uma expectativa que o PL seja apreciado no plenário da Câmara na quarta-feira (21).
“Tratamos do bom momento da economia brasileira, a intenção de trabalharmos juntos pelo país, e as recentes aprovações de matérias pela Câmara dos Deputados com esse objetivo”, escreveu Lira.
Segundo relatos, ficou acertado que os dois deverão voltar a se encontrar quando retornarem de viagens ao exterior.
Lira escreveu ainda que ouviu de Lula “a intenção de reduzir o envio de MPs [medidas provisórias], um anseio do Congresso Nacional”.
O rito da tramitação das MPs no Congresso se tornou motivo de disputa entre Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Lira e deputados defendem modelo adotado durante a pandemia da Covid-19, no qual as matérias eram analisadas diretamente no plenário da Câmara e depois do Senado, sem passar por análise em comissão mista (formada por deputados e senadores). Já Pacheco e senadores defendem a instalação de comissões.
Essa foi a segunda reunião entre os dois políticos neste mês —o primeiro foi no último dia 5. Em entrevista à CNN Brasil, Lira afirmou que os dois trataram de uma “arrumação mais efetiva da base do governo na Câmara e no Senado”.
O encontro ocorre também em meio a possibilidade de o PP entrar formalmente no governo federal. Aliados de Lula afirmam que as conversas nesta sexta-feira podem girar em torno disso. Segundo assessoria de imprensa de Lira, trata-se de uma “visita institucional”.
Mais cedo nesta sexta, Lira recebeu uma visita do ministro Paulo Pimenta (Secom). Ele também esteve com o ministro Rui Costa (Casa Civil) na quinta (15).
O presidente da Câmara vem cobiçando o Ministério da Saúde, hoje chefiado por Nísia Trindade. Para tentar avançar nas negociações com o governo, aliados de Lira avaliam propor que o PP possa apadrinhar um ministro da Saúde que seja do setor, em vez de indicar diretamente um parlamentar para o comando da pasta.
O centrão quer que o Executivo abra espaço na Esplanada para acomodar integrantes de legendas como PP, União Brasil e, ainda que incerto, o Republicanos.
Em evento mais cedo, no entanto, o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) afirmou que a discussão sobre reformulação ministerial não cabe a pastas como a da Saúde por se tratar de uma indicação técnica.
“Não está em discussão em relação ao Ministério da Saúde a composição partidária. Tem outros ministérios que foram discutidos com a composição partidária, que é parte da democracia, se faz na democracia. O ministério do Turismo é um exemplo disso”, afirmou Padilha.
Victoria Azevedo/Folha de S. Paulo
