Num discurso semana passada no Parque das Nações I, seu tradicional reduto eleitoral, o ex-presidente da Câmara Municipal, Archimedes Lemes Soares, o Ferrinho, disse que sua pré-candidatura à prefeitura é para dar continuidade ao trabalho iniciado por Ari Artuzi. “Vou ser prefeito para continuar o trabalho de Artuzi, não apenas executando obras (citando a Perimetral Norte, que só saiu por insistência do ex-prefeito), mas principalmente o grande trabalho social, com os pobres voltando a ter vez na prefeitura, especialmente os que precisam de um melhor atendimento na saúde”. Ao fim de sua fala, uma velhinha do alto de seus 80 e lá se vão cacetadas corre até o pré-candidato e, emocionada, pede um abraço e diz com esse discurso “dá pra acreditar”, já prometendo seu voto e de toda a família. É o conhecido vox Populi vox Dei. Alguém duvida que isso não vai dar rock? Ferrinho não só amanhece na periferia todos os dias – não há que se negar que ninguém mais entende do tal cheiro do povo do que ele – , como imiscui-se, literalmente, nas cúpulas partidárias (vide foto – “alas” La Torraca) buscando viabilizar seu nome. Aonde vai pede votos, adiantando pontos de um eventual programa de governo e garantindo que já tem até o nome do mais cobiçado entre todos os candidatos a vice-prefeito.
Outro palanque – Enquanto isso, mesmo levando bordoadas a torto e à direita pelos sectários da imprensa marrom e por figadais adversários que não conseguem enxergar além dos limites do mesmo Parque das Nações, o prefeito Alan Guedes também vai angariando apoios para seu projeto de reeleição. E seu maior ponto de apoio está, olha, vejam só!, no salão azul do Congresso Nacional. Sem dizer ainda a que veio como senadora, só eleita pelo peso do bolsonarismo, a rainha do agrotóxico, Tereza Cristina, articula com o governador Eduardo Riedel e com o deputado Rodolfo Nogueira uma estratégia para garantir a continuidade da atual administração. Estratégia que passa pela vinda do ex-presidente Bolsonaro a Dourados, para repetir a carreata que fez no início de sua primeira campanha presidencial e, quem sabe, até tomar um cafezinho na famosa padaria do Everaldo, na Rua Cuiabá. É o que basta, imaginam, para garantir mais quatro anos para o filho do doutor Eudélio.
Polarização – Assim sendo, com a eleição caminhando para ser definida por influência direta de um mito sobrevivente de uma facada e pelo espírito do maior fenômeno eleitoral da terra de seu Marcelino, vítima da perseguição política que o levou à cadeia, daí à renúncia e à morte, como ficam os tucanos, com três potenciais nomes na linha de largada para a disputa? Pelo acima colocado, já falam até de se unirem, Zé Teixeira, Geraldo Resende e Lia Nogueira para uma visitinha a Murilo e dona Cecília Zauith, oferecendo o nome da deputada barraqueira como eventual candidata a vice do ex-vice governador.
Maître – Depois do deputado Geraldo Resende saçaricando ao som da “Mercedita” enquanto mexia uma galinhada com uma escumadeira na área gourmet de sua humilde residência num dos mais luxuosos condomínios fechados de Campo Grande, agora o ex-garçom Laudir Munaretto, presidente do Jaguaribe, também de olho na cadeira do prefeito Alan Guedes, no melhor estilo Masterchef, ensinando a preparar uma massa. Não demora, nesses tempos em que as redes sociais são como a panacéia para políticos sem propostas, e a deputada Lia Nogueira aparece dançando na boquinha da garrafa.
“Mineirinho I” – De camarote, assistindo a todo esse espetáculo, o vice-presidente da Assembleia Legislativa, deputado Renato Câmara. Cercando-se de uma competente assessoria de imprensa, procura divulgar seu mandato, passando ao longe das intrigas sucessórias paroquiais, sempre “ciscando pra dentro”. Depois de levar uma invertida em sua primeira tentativa de ser prefeito de Dourados, espera, sem demagogia barata, a bola quicar na área para ele. Não diz que é candidato, mas sinaliza discretamente, como ao cruzar com Ferrinho outro dia, marcando uma conversa para a virada do ano.
Mineirinho II – Agora sem aspas. Isto mesmo, Antônio Braz Genelhu Melo, mineiro de Aimorés, um dos melhores prefeitos que Dourados já teve, pode estar ensaiando seus dias de fênix. No velório da mãe do deputado Geraldo Resende, ao lado de seu ex-vice Valdenir Machado, brincou com a coluna, dizendo que o “eleitor douradense já está com saudades até de Jorge Antônio Salomão” – o radialista que administrou a cidade num momento de dificuldades como agora e que, com um mandato de apenas três anos, pouco ou quase nada pôde fazer. Perguntado se já mandou remasterizar seu jingle-chiclete de campanha – o “eu vou votar no Braz, Braz, Braz! – substituiu sua costumeira gargalhada por um discreto sorriso, em respeito à dona Ermenegilda.
Tertius – Outro que atua discretamente nessa direção é o vice-governador José Carlos Barbosinha. Não está tirando proveito (pelo menos até o momento em que esta coluna é escrita) nem do fato de estar governador por uma semana. Alheio às intrigas “palacianas”, não se aborreceu nem com as “bics” deixadas – “todas sem tinta” – por Eduardo Riedel, que está na terra do Tio Sam. “Transição tranquila, medidas abruptas só quando o vice está desajustado com o titular. O governo segue o ritmo normal, como deve ser”, disse o governador Barbosinha à coluna, acrescentando que “Riedel está muito tranquilo porque sabe da responsabilidade do seu vice”. Será que alfinetou de algum dos antecessores douradenses? É assim que Barbosinha sonha, também, que pode ser o nome de consenso do grupo político do ex-governador Reinaldo Azambuja para a tão cobiçada cadeira de Alan Guedes.
Vingança – A propósito do “murro na mesa” do governador Eduardo Riedel aventado ontem aqui no blog, um chegado de Murilo Zauith (mas quem está falando dele?) disse que “isso é só o começo”. Além de um inimaginável apoio do trio tucano de “prefeituráveis” para um provável retorno, Zauith também sonha herdar o espólio bolsonarista. Afinal, é o que restou, depois dos clamorosos erros de avaliação na última eleição, primeiro apoiando Rose Modesto ao governo do estado, depois, no segundo turno, o capitão Contar contra Eduardo Riedel.
