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sábado, dezembro 27, 2025

Antônio João Hugo Rodrigues e o legado de um grande repórter

Jornalista, diretor do grupo CORREIO DO ESTADO morreu ontem em Campo Grande

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Hoje é um daqueles dias em que vão abundar loas, nas mídias sociais, principalmente, pela morte do jornalista Antônio João Hugo Rodrigues, do grupo Correio do Estado, na noite desta segunda-feira, vítima complicações cardíacas, aos 75 anos. Antes de ser empresário, um grande repórter. Daí, escrever menos sobre o Antônio João empresário das comunicações, ou tão temido AJ, como era conhecido, principalmente nos meios políticos. Pouco a enaltecer também do senador por alguns meses, quando assumiu a vaga no salão azul do Congresso para Delcídio do Amaral disputar o governo do estado.

O desencarne do empresário é uma grande oportunidade para uma reflexão sobre o jornalismo praticado no Mato Grosso do Sul. Conheci Antônio João na metade da década de 1970, quando engatinhava como repórter da Rádio Clube de Dourados. Aliás, ele me conheceu. Ou melhor, me descobriu, quando, no começo da noite de um domingo, após a cobertura de um acidente de um ônibus do Expresso Queiróz que tombou na saída de Dourados para Campo Grande, tomei a iniciativa de mandar para o Correio do Estado (pelo ônibus que substituiu o acidentado), um rolo de filmes com as fotos do veículo com as rodas pra cima, ato contínuo, chegando na emissora, passando por telefone as informações sobre as vítimas. Passada uma semana recebi uma cartinha, ele agradecendo pelo material, que foi manchete da edição da segunda-feira, e manifestando o desejo de uma parceria. Mais uma semana e ele veio me visitar, reforçando o convite, o que retribuí indo conhecer o jornal, que funcionava ainda na baixada da avenida Calógeras, em Campo Grande. Como já havia sido sondado como correspondente da Folha de Londrina, preferi levar AJ na barriga. Mesmo assim ficamos amigos e até fizemos alguns trabalhos juntos, ele como correspondente do Estadão, eu da Folha de S. Paulo, como uma bela reportagens sobre um intercâmbio entre índios caingangues, de uma tribo de Santa Catarina, e os guarani-caiovás, da Reserva Indígena de Dourados. Eu fazendo o texto, ele as fotos. Além de craque do texto, Antônio João foi também um bom fotógrafo.

Quando falo em legado como grande repórter é porque foi assim que Antônio João se impôs, antes de virar empresário, pela fatalidade da perda precoce dos dois irmãos que administrariam o grupo depois da morte do patriarca da família, professor José Barbosa Rodrigues. Primeiro, José Maria, que cuidava da parte administrativa do jornal, depois assumindo a direção da TV Campo Grande, afilhada do SBT no MS. Não muito tempo depois, Marcos Rodrigues, que era o operacional do grupo. Como o repórter, o redator-chefe, o jornalista da família, com os conceitos arraigados do velho professor Barbosa, AJ sempre primou pelo bom jornalismo. E como tal era respeitado. Temido, até, principalmente pelos políticos que sempre insistiam em fazer xixi fora do penico. Tempos em que o Correio do Estado tinha a liderança absoluta do setor no estado.

Mas a biografia do grande repórter começa a ser tisnada quando ele se vê obrigado a conciliar o legado do pai, preservando, além do jornalismo imparcial, a história, tão cara para A. J. Barbosa, com as questões empresariais. O que sempre correu nos bastidores sobre negociações do aí empresário Antônio João com o governo e com as prefeituras – a da capital, principalmente – é de fazer Assis Chateaubriand dar cambalhotas no sepulcro. Mas o pior foi quando o jornalista-empresário resolveu entrar para a política. “Ameaçou” ser deputado, prefeito de Campo Grande, depois de eleger Nelsinho Trad para o cargo, peitando André Puccinelli, que já naquela época tentava emplacar seu preposto Edson Girotto. AJ só sossegou o facho quando conseguindo enriquecer o currículo com o título de senador, sabe-se Deus a que custo, já que o titular da cadeira era o sempre pragmático Delcídio do Amaral.

Que a passagem de Antônio João sirva, pois, de exemplo aos profissionais da comunicação. Repórteres, jornalistas ou empresários – e nunca é tarde para que se faça essa distinção. Repórter, jornalista, é uma coisa, dono de jornal, de TV de rádio e, agora, de site, é outra bem diferente. Não se fazem mais grandes jornalistas e, concomitantemente, grandes empresários como o lendário Assis Chateuabriand, o global Roberto Marinho ou os herdeiros das famílias Mesquita e Frias, do Estadão e da Folha de S. Paulo. E um exemplo mais recente de que essa história de misturar empresas jornalísticas com política partidária nunca dá certo é a lambança provocada pelos jornalistas Carlos Lacerda e Samuel Wainer, ambos no centro do longo imbróglio que levou o presidente Getúlio Vargas ao suicídio em 1954.

Como ícone de seu tempo, Antônio João Hugo Rodrigues não poderia partir sem polemizar nas redes sociais. Aposentado e escanteado no jornal que ajudou a construir passava o tempo promovendo regabofes com políticos em seu cafofo – uma mistura de redação e estúdio em que se deleitava na sede do Correio do Estado espinafrando os políticos no Facebook. Uma de suas últimas patacoadas foi desdenhar da candidatura de Eduardo Riedel ao governo do Estado:

“Ridel, Ridél… como é mesmo o nome desse candidato aí inventado pelo Azambuja?”.

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