“Deixa que digam/Que pensem/Que falem… Deixa isso pra lá/Vem pra cá/
O que que tem? Eu não estou fazendo nada/Você também…Faz mal bater um papo assim gostoso com alguém?”
Quando o saudoso e imortal Jair Rodrigues estourou nas paradas de sucesso com o samba “Deixa isso pra lá”, ainda nos anos 1960, o advogado e professor Alan Guedes nem havia nascido, mas, anos depois, já na virada dos anos 1990, ainda garoto, curtiria muito este que é considerado o primeiro rap brasileiro, timidamente ensaiando uns rebolados debaixo de uma bica no córrego Laranja Doce, na baixada da Hayel Bom Faker, no BNH-III. Virados o milênio e o século, quis o destino, o mesmo Alan Guedes, como prefeito, resolveria em definitivo o problema das enchentes no mesmo local, com a construção de uma ponte. Uma “pinguela”, como foi apelidada, mas a obra que marcaria o início o seu período obreiro, depois de aguentar o tranco, com porradas a torto e à direita da imprensa e dos adversários no período de rescaldo que precisou para pôr a casa em ordem.
Ainda bem que Alan Guedes aprendeu a rebolar no ritmo do samba com um dos maiores sambistas brasileiros. Sim, porque rebolar é o verbo de conjugação mais difícil para o jovem prefeito nesse período em que se aproxima o acerto de contas com as urnas. Consciente disso, e indiferente às críticas dos arautos do nada, Alan decidiu arregaçar as mangas e enfrentar as feras. Aos que insistem em desentender o processo, e, principalmente, o otimismo do prefeito, lembrando que a mais ameaçadora dessas feras é justamente o deputado Zé Teixeira, de quem Alan Guedes desamigou quatro anos atrás exatamente para ser prefeito. É ele, o mais longevo dos deputados douradenses, quem comanda o exército que ameaça atacar as bases do prefeito, para ficar num exemplo atualíssimo, cabendo aqui uma analogia com o Hamas, o grupo guerrilheiro que acaba de atacar as bases do sempre temido e poderoso exército israelense, reacendendo a interminável guerra no Oriente Médio.
Deixa que diga, que pensem, que falem, deixa isso pra lá. E assim, na toada do primeiro happer brasileiro, Alan Guedes caiu, literalmente, na quiçaça. Os que reclamavam do confinamento do prefeito nesses primeiros dois anos de mandato estão se deliciando. Bastam que sigam sua agenda, principalmente nos finais de semana, para encontrá-lo nos braços do eleitor ou como dizia o então presidente da República, João Figueiredo, sentindo o cheiro do povo. Um grande programa de mutirão está em curso. Entre os serviços básicos de assistencialismo, principalmente na área da saúde, a entrega de documentos de regularização fundiária. Uma arma política infalível, já que famílias que esperavam havia anos por isso não tem como não devolver o “favor” nas urnas.
Vem pra cá, o que que tem? Eu não estou fazendo nada, você também. Ao contrário do que gostariam os adversários, só para não perder a trilha do rap, este “não estou fazendo nada, você também” o prefeito pode usar com ênfase, para se referir ao turbulento período uragânico e o que a ele se seguiu, em termos de acertos e desacertos. A administração Alan Guedes pode até não ser uma Brastemp, mas, pelo retrospecto das últimas administrações ele pode bater no peito e até incluir em seu discurso de campanha: uma administração sem B.Os, sem a polícia e o MP fazendo visitas de rotina à prefeitura. Nenhum secretário demitido por improbidade, preso ou dormindo e não amanhecendo na cidade, como em tempos recentes.
Daí a folgança, ainda de carona com Jair Rodrigues, “faz mal bater um papo assim gostoso com alguém?”. Sim, conversar com o munícipe-eleitor não faz mal, nem é crime. Pelo contrário, faz um bem danado, ainda mais quando a visita é para anunciar boas-novas. Eis aí, uma vez bem dirigida, a tão poderosa máquina administrativa que faz toda a diferença, principalmente para um prefeito que vem levando a cidade aos trancos e barrancos.
