Um dos mais proeminentes líderes do agronegócio na região, bolsonarista raiz, chega todo esbaforido à padaria que é o templo da fuxicaiada política soltando impropérios sobre a administração do prefeito Alan Guedes, por conta da buraqueira na periferia da cidade. Ele é consolado por um seguidor do ex-prefeito e ex-vice-governador Murilo Zauith, com a observação de que isso já começou a mudar e com garantia de que tudo vai estar “zero bala” ainda antes da eleição do ano que vem, ao que um não muito convicto apoiador do pré-candidato Marçal Filho diz que só o radialista para pôr fim a esse estado de coisas.
Demonstrando pouco interesse naquelas elucubrações na mesa preferida de Murilo Zauith, na calçada, o fazendeiro entrou para uma forrada básica no estômago, mas não se demorando muito no interior da padaria, onde foi cantado no voto pelo também pré-candidato a prefeito Archimedes Lemes Soares. De saída, passando, de novo, pela mesa do fuxico, recebe uma informação recém-chegada de Brasília, pelo zap do assessor murilista, que o faz repensar não apenas o voto que acabara de prometer a Ferrinho, mas também o conceito sobre a administração do prefeito Alan Guedes.
“E se o Bolsonaro apoiar o Alan para a reeleição?”, quis saber o informante. Sem pestanejar, o bolsonarista disse que se isso acontecer ele não apenas vota, de novo, no prefeito, como faz campanha para ele. “Você fica encarregado de me mandar os adesivos do Alan”, completou, peremptório, antes de embarcar em sua rampage novinha em folha. Desenxabido, o apoiador de Marçal Filho complementou: “neste caso, também sou Alan desde criancinha”.
A menos de um ano (6 de outubro) das eleições de 2024 o registro desta cena do cotidiano da famosa padaria da Cuiabá vem a propósito da repercussão, até aquele instante ainda tímida, nas redes sociais, da conversa entre Alan Guedes e Jair Bolsonaro terça-feira passada em Brasília. É que quando o dito cujo bolsonarista chegou ao local, antes de pegar o caminho da roça, o assunto na bendita mesa era exatamente a “carta na manga” que o prefeito poderia ter, por tanta convicção que demonstra em seu projeto de reeleição.
Para corroborar, a informação ao blog de um passarinho brasiliense, bem mais saltitante que aqueles do ninho de Alfredo Barbara, que no melhor estilo das “secretárias do lar” das novelas da Globo ficou atrás da porta do gabinete do ex-presidente na sede do PL em Brasília: o resultado do encontro entre Alan Guedes e Bolsonaro pode afetar diretamente outro ninho – o dos tucanos douradenses, até pelo tanto de penas que anda saindo de lá ultimamente.
Segundo o passarinho correspondente era para ser apenas uma visita de cortesia do prefeito, em solidariedade por tudo o que Bolsonaro vem sofrendo depois que deixou a Presidência. Mas a prosa teria se prolongado por cerca de uma hora, com direito a cafezinho e muitos salamaleques. Claro que Alan Guedes pôs na balança também a surra que Bolsonaro deu em Lula (mais de sessenta por cento dos votos) na eleição presidencial, em Dourados, cidade-polo do agronegócio tão bem gerenciado nos quatro anos de governo bolsonarista por sua companheira de partido, a agora senadora Tereza Cristina, enquanto ministra da agricultura. Em retribuição o ex-presidente teria acenado com seu apoio ao projeto de reeleição do prefeito, muito mais pela parceria política de seu PL com o PP de Alan Guedes e de Tereza Cristina do que pela “desistência” de seu gordinho (o deputado Rodolfo Nogueira), que optou por continuar representando Dourados no Congresso Nacional.