Melhor retrato impossível, do momento do quadro sucessório em Dourados – a avidez com que o deputado Geraldo Resende avança sobre um pedaço de sopa paraguaia (foto abaixo) para fazer bonito diante do governador Eduardo Riedel, mais moderado, ao saborear a mesma iguaria durante o lançamento de um projeto de reforma e ampliação da Casa Paraguaia em Dourados semana passada. De boca fechada, seguindo sua rigorosa dieta alimentar, o prefeito Alan Guedes apenas assiste, com aquela sua tranquilidade oceânica, como quem está consciente de que todo aquele apetite de Geraldo não tem o menor propósito, depois da acusação do “dedo podre” do eleitorado, feita pelo deputado que sempre sonhou com sua cadeira.
Mesmo apetite pelo barracão da Coronel Ponciano desde sempre demonstrado pela deputada também tucana Lia Nogueira, para quem a administração municipal “é o caos”, discurso cada vez mais solitário, na medida em que ela vê diminuírem os adeptos dessa tese. Inclusive, pelo óbvio da coisa, por alguns do arautos midiáticos de seu mandato, devagarinho e disfarçadamente já começando correr atrás do prejuízo, em busca de interlocutores e de argumentos para a desconstrução da tese do caos. Discurso que terá que ser repensado pela própria deputada, desde que dê tudo errado o que o “jurássico venal” sempre tão emparedado vem tentando mostrar sobre o que verdadeiramente seria a repetição do caos para Dourados.
Fora da grande-angular dos fotógrafos oficiais, outros três pré-candidatos que sonham com o apoio do tucanato, apenas sentindo o cheiro da sopa, fingem que não estão nem aí para os salamaleques entre Eduardo Riedel e Alan Guedes – o também tucano Zé Teixeira e o vice-governador Barbosinha e o radialista Marçal Filho, já convidados para o ninho; Barbosinha pelo próprio Geraldo, o do “alô você” por Zé Teixeira.
Pelo adiantado dos janeiros e pelos problemas de saúde, “seu Zé” consciente de que esta é a última chance de transformar em realidade seu sonho de encerrar a carreira como prefeito. Mais que isso, no melhor estilo Antônio La Selva, da novela “douradense” Terra e Paixão, pela obsessão de defenestrar seu ex-pupilo da cadeira, depois da “traição” na disputa passada. Marçal Filho, não se vendo longe de seu “aquário” radiofônico, vivendo o drama de apenas repetir a pedida das campanhas municipais anteriores. Até porque, toda vez que se exaspera nas críticas à administração municipal, comentando as pautas negativas de sua emissora, ele deve ficar imaginando até aonde vai sua competência para fazer tudo aquilo que cobra diariamente do prefeito em seu horário eleitoral antecipado na FM-94. Barbosinha, indiscutivelmente o que tem o melhor traquejo para a coisa, também como “La Selva”, não querendo falar em sucessão por enquanto, mas dando a entender que quanto mais pena sair do ninho tucano melhor para ele, que acabaria sendo o tertius.

Daí o desassossego dos tucanos. Alan Guedes só não acompanhou Eduardo Riedel na sopa paraguaia, porque no todo da programação foi um grude só com o governador. E para aumentar esse desassossego, principalmente de Lia Nogueira, cujo discurso, do caos, foi para o beleléu depois do afago do governador ao prefeito no tocante ao esforço da administração municipal para resolver, principalmente, os problemas de saúde. Isto num ato solene como há muito não se via em Dourados, na inauguração do maior hospital da Cassems no estado.
Assim, o chamego entre Riedel e Alan só evidencia a tranquilidade do governador em relação ao seu comportamento no processo sucessório municipal. Até porque são muitos os investimento dos governos do estado e federal que se confundem com os da prefeitura. Como instituição, pois, governador tucano e prefeito progressista estarão sempre juntos, alinhados, no mesmo palanque, repetindo o palanque do ano passado, quando Alan apoiou Riedel escancaradamente. Palanque que deve se repetir em 2026 para Reinaldo Azambuja, que já avisou que quer encerrar a carreira no Senado. Também, para que Riedel não repita o fiasco que foi o apoio do chefe Azambuja às tentativas de Geraldo Resende e Barbosinha nas eleições anteriores para a prefeitura. Um risco que certamente o governador não vai querer correr nesse seu début para se firmar também como chefe político.
