Saindo ontem de um perrengue burocrático na Central do Cidadão dei de cara com o colega Silva Júnior, que me convidou para um evento sobre o quê não soube explicar, na OAB, ali ao lado, mas dizendo desconfiar ser mais um workshop dessas empresas de consultoria que vira-e-mexe aparecem vendendo ilusões aos incautos administradores e empresários douradenses. Meio contrariado, mas já envolvido por seu sempre afetuoso abraço, fui indo, explicando que por minha condição de ‘aposentado’ não tenho mais saco para esse tipo de moagem, ao que ele me intimou, senão como jornalista, como cidadão. “Vamos lá, cara, como bom filho do Jaguapiru”, acrescentou, como gosta de me apresentar sempre em suas lives.
Ao adentrar à casa dos advogados a fita rebobinou aos bons tempos da combativa 4ª. Subseção de Ayrthon Barbosa Ferreira, o dr. Petiscão, de José Marques Luiz, de Alaércio Abraão, de meu guru Harrison de Figueiredo, mais recentemente do agora sumido Sérgio Henrique Martins, cuja administração marcou época, enfronhando-se na política e tomando a frente em questões decisivas como a implantação do Anel Viário Norte. Retornando ao meu cafofo deparo-me com as manchetes do dia, duas delas, do site O Jacaré, aqui reproduzidas na sequência, dando conta do montante pelo qual Flávio Brito – o homem forte do deputado Geraldo Resende – é acusado de desviar da Secretaria da Saúde, ao lado, o deputado Neno Razuk como alvo de mais uma operação do Gaeco, agora por envolvimento com o jogo do bicho.
À noite, depois da interrupção de um treino de natação por conta de mais um toró das tardes de verão primaveral, no telejornal MS-2, da TV Morena, o pimpolho de Roberto e Délia Razuk, em seu inalienável direito de resposta, dizendo, no melhor estilo Lula do Mensalão, que não sabe nada a respeito de jogo do bicho, que não tem nada com isso, blablablá. Ou melhor – e pior! – que sabe, sim, da existência do jogo do bicho na capital, mas que nenhuma banca é dele, neste caso, como na metáfora do sapo com medo d’água, infringindo a lei que como deputado teria obrigação de zelar.
Nessas horas sempre dá vontade de abandonar a mixe aposentadoria para retomar a lida como nos áureos tempos dos ‘surtos’ urgânicos, não para questionar apenas o deputado Neno Razuk, mas também seus pares, senão os da base governista, por razões óbvias, mas os que foram eleitos para exercer o papel de oposição. Aliás, que falta faz uma bancada de oposição no Guiaicurus. O governador Eduardo Riedel certamente até agradeceria, para que tivesse mais mobilidade quando da necessidade de remanejamento das rubricas orçamentárias de seu governo.
Não fosse a ‘aposentadoria’ um estorvo à condição de insubordinado do jornalismo seria o caso, por exemplo, de refrescar a memória do deputado Neno Razuk, exibindo aqui uma arte gráfica com o mapa do loteamento do jogo do bicho no estado, onde seu pai, o ex-deputado Roberto Razuk, como precursor do rentável negócio, sempre apareceu em destaque. Além dele, o primo Jamil Name, pai de Jamilson Name, que com Neno Razuk compõe a ‘bancada do bicho’ na Assembleia, e o ex-presidente dessa mesma Assembleia, hoje no comando do Tribunal de Contas do Estado, o não menos poderoso Jerson Domingos. Todos, sob a liderança do capo Fahd Jamil, o rei da fronteira, o primeiro-primo. Poderia também destrinchar a fala do deputado quando ele diz estar com a consciência tranquila, ao ‘informar’ que “todo mundo sabe que o jogo do bicho continua solto em Campo Grande”, uma agressão à inteligência dos minimamente esclarecidos, como se todos, seus eleitores, principalmente, fosse um bando de otários.
Elucubrando, enfim, sobre a possibilidade de retomar o jornalismo, mais uma pergunta que faria a Neno Razuk: e quanto às máquinas caça-níqueis apreendidas aos borbotões, ele também não sabe de nada? Não menos condenável, mas seria o caso de repetir ex-secretário de saúde e deputado federal de retorno, ops, Geraldo Resende, ante as denúncias que acabam de levar um assessor para a cadeia e põe o principal deles – Flávio Brito – no centro do escândalo da manipulação de licitação para desvios de recursos da saúde: fingir-se de morto, ou aceitar que dói menos, a versão abrandada para o bolsonarismo do “já que o estupro é inevitável relaxa e goza”, da então senadora petista Marta Suplicy.