A história da Maçonaria no Brasil é marcada por uma relação complexa e multifacetada com a política partidária, desde os primórdios, desempenhado um papel significativo nos bastidores políticos, envolvendo-se em debates, influenciando decisões e, em alguns casos, participando ativamente na esfera política, o que remonta aos períodos coloniais, servindo como centros de discussão intelectual e política, como no processo de independência, com maçons notáveis como José Bonifácio de Andrada e Silva desempenhando papéis importantes na formulação dos ideais que moldaram a nova nação. Mas, sempre de forma discreta e reservada, evitando acintes como faz agora a loja mais antiga de Dourados, a “Antônio João”, pelo que se vê no outdoor instalado no trevo de acesso à prefeitura de Dourados.
Embora as experiências e relações entre a Maçonaria e o comunismo possam diferir significativamente em diferentes contextos históricos e geográficos, a apelação da peça publicitária, por coincidência na semana em que o presidente Lula comemorou a indicação do senador comunista e ministro da Justiça Flávio Dino para o STF, deixa claro o posicionamento partidário pelo bolsonarismo. Nenhuma dúvida de que veneráveis dessa loja, como Armando da Silva Carmelo, José Floriano de Freitas, Rômulo Vieira e o ex-prefeito João da Câmara estão se remoendo além túmulo, sem contar o constrangimento de alguns “bodes” da nova geração, mas sempre discretos, como Antônio Eugênio Bergo Duarte, Sebastião Nogueira e Everaldo Leite, este, empresário em cuja padaria o debate político é intenso, mesmo assim, simpático ao presidente Lula, jamais emitindo sua opinião.
Ao longo dos séculos, a Maçonaria tem desempenhado um papel significativo na história, influenciando pensadores, líderes e sociedades em todo o mundo. No entanto, mais recentemente, observa-se uma decadência gradual desta venerável instituição, e muitos apontam para a vulgarização no critério de escolha dos membros de suas novas lojas como um dos principais catalisadores desse declínio, até se nivelando ao que acontece com as igrejas pentecostais.
Com suas tradições antigas e rituais secretos, a Maçonaria sempre foi conhecida por buscar membros que compartilham valores de fraternidade, moralidade e busca por conhecimento, o que não combina com os ideais negacionistas e golpistas de alguns bolsonaristas. Lembrando que durante o período da ditadura militar brasileira muitos maçons foram perseguidos pela associação com ideais democráticos. Agora, essa crescente proliferação de novas lojas maçônicas parece indicar uma abordagem menos criteriosa na escolha de seus membros. E essa busca pela quantidade em detrimento da qualidade parece comprometer a integridade e a profundidade das experiências maçônicas, minando a coesão e a autenticidade da ordem.
A vulgarização desses critérios, pois, com o ingresso de membros que não compartilham os princípios fundamentais, parece estar diluindo sua influência e seus propósitos. Tanto que ao se jogarem quixotescamente numa pendenga política com Lula pela escolha de Flávio Dino para o STF, além de afrontar a Suprema Corte, a irmandade da “Antônio João” se nivela a figuras folclóricas como o apóstolo Valdomiro, que vende tijolo e sua camisa suada para quem quiser chegar ao céu, entre outros falsos profetas, como o bolsonarista empedernido Silas Malafia, com suas abordagens carismáticas e promessas imediatas de transformação espiritual.
Essa competição, não com Lula ou o STF, mas com as igrejas pentecostais leva a uma mudança de foco nas lojas maçônicas, onde a ênfase em valores espirituais e éticos é substituída por estratégias de marketing para atrair novos membros. Isso pode resultar na perda da identidade única da Maçonaria e na descaracterização de sua missão original. A busca por números pode comprometer a qualidade das relações entre os membros e enfraquecer a coesão interna da ordem.
Para reverter esse cenário seria interessante que a Maçonaria reafirmasse seus princípios e mantivesse padrões rigorosos na seleção de seus membros. A preservação da integridade e dos valores que a tornaram uma instituição respeitada ao longo dos séculos é crucial para sua relevância contínua na sociedade contemporânea. Além disso, é importante que evite a tentação de competir diretamente com outras instituições, como faz agora com um presidente eleito democraticamente ou com a Suprema Corte do pais, concentrando-se na autenticidade de sua mensagem e na qualidade das experiências oferecidas aos seus membros.
Assim, ao fazer uso da logomarca que é símbolo da discrição que faz parte do comportamento maçônico para propaganda eleitoreira do bolsonarismo, alguns membros que usurpam o nome da mais antiga Loja Maçônica de Dourados jogam também na lata de lixo o lema iluminista “liberdade, igualdade, fraternidade” que exprime as aspirações teóricas da sociedade maçônica que, se atingidas, levariam a um alto grau de aperfeiçoamento de toda a humanidade.
Só por Gadu!