Presidente do MDB, o deputado federal Baleia Rossi admitiu incômodo com a articulação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em São Paulo, que retirou Marta Suplicy da gestão do prefeito Ricardo Nunes, integrante do partido, culminando no retorno da ex-ministra à legenda do chefe do Executivo para compor chapa com Guilherme Boulos (PSOL). Nesta entrevista ao jornal O Globo, o parlamentar afirmou ainda que o apoio do MDB ao petista em uma eventual disputa pela reeleição em 2026 não é garantido e classificou como “exagero” o movimento do Congresso para ampliar emendas.
O MDB integra o governo Lula com três ministérios, mas tem possíveis presidenciáveis para 2026: Simone Tebet (ministra do Planejamento) e Helder Barbalho (governador do Pará). A tendência é apoiar a reeleição de Lula ou lançar candidatura própria?
Nós temos lideranças em ascensão em praticamente todos os estados, além das figuras que estão se destacando nacionalmente, como o Helder, a Simone e o Renan Filho (ministro dos Transportes). Para termos qualquer pretensão futura, é preciso ter uma eleição municipal forte. Agora, o foco do partido é 2024.
O senhor, então, não garante que o partido estará com Lula em 2026?
Não está definido. Temos três dos melhores ministros, isso é importante, nos dá uma condição de colaborar com a agenda do país. Se olharmos para as pautas prioritárias do governo, muitas foram encampadas pelo MDB, como a reforma tributária, que é de minha autoria e relatoria do senador Eduardo Braga. A paridade de salários entre homens e mulheres e a poupança jovem ensino médio foram ideias da campanha da Simone Tebet que o presidente Lula assumiu como compromisso após ter o apoio dela.
Como avalia o fato de Lula ter articulado para que Marta Suplicy deixasse a prefeitura e aceitasse ser vice de Boulos?
Claro que causou um desconforto porque ela estava no governo do Ricardo há três anos. Acho que até pelo fato de o MDB fazer parte do governo, ele (Lula) poderia ter agido de maneira diferente, sim. Mas a gente tem que respeitar. É a eleição mais importante do Brasil. É natural o presidente Lula articular.
A ida da Marta para a vice fortalece a campanha de Boulos? A indicação de Aldo Rebelo para o lugar dela foi um “remédio” que a gestão municipal encontrou?
Houve uma janela de oportunidade. A vinda do Aldo fortalece a frente ampla, a proposta de conseguir reunir pessoas que pensam diferente, mas que querem o melhor para São Paulo. Não gostaria de perder a Marta, claro. Eu gosto dela. Mas o fato é que ela sempre teve uma identidade com a esquerda, o perfil dela sempre foi esse, ela não mudou.
O MDB pode apoiar o Alexandre Ramagem no Rio para ter o apoio do PL em São Paulo, abrindo mão da candidatura do Otoni de Paula?
Em março vamos fazer uma pesquisa para verificar a capacidade de crescimento do Otoni, que hoje é pré-candidato a prefeito. Temos o Washington Reis e o Picciani que são secretários do Cláudio Castro. E ele gostaria muito que o MDB apoiasse o Ramagem.
O MDB integrou a frente ampla de Lula para derrotar Bolsonaro. Dois anos antes, o senhor foi o candidato anti-Bolsonaro à presidência da Câmara, contra Arthur Lira. Não é contraditório o partido agora se aliar ao ex-presidente na eleição de São Paulo, para enfrentar o candidato de Lula?
De maneira alguma. Eleição municipal é momento de se discutir as questões do município. O nosso candidato a prefeito de São Paulo é o Ricardo Nunes, um “radical de centro”, que aos 16 anos se filiou ao MDB e sempre militou no MDB. O Ricardo Nunes nunca teve uma atitude antidemocrática. Estamos buscando o apoio de todos aqueles que acham que o Boulos vai ser um desastre para São Paulo. A verdadeira frente ampla quem está fazendo é o Ricardo Nunes, com a possibilidade do apoio desde o PL, mais à direita, passando pelo Republicanos, PP, PSD, União Brasil, PSDB, Solidariedade, agora com reforço do Aldo Rebelo. É uma composição plural, de pessoas que pensam de forma diferente, mas veem nele a melhor alternativa para São Paulo.
Considerando a história do MDB na luta pela redemocratização, como o partido justifica a aliança com Bolsonaro, que exaltou a ditadura militar, numa das principais cidades do país?
Essa tentativa de polarização ou de nacionalização da campanha de São Paulo não é boa para a cidade. Boulos tenta nacionalizar porque ele não tem o que mostrar. Ao contrário do Ricardo, que vai falar de gestão. A gente respeita o presidente.
Está certa a filiação do vice-governador do Rio, Thiago Pampolha? Será a aposta do MDB para o governo do Rio em 2026?
Combinamos de fazer a filiação dele em fevereiro, após conversa com o governador Cláudio Castro, mas está certa, sim. Ele é uma promessa muito grande. Deverá ser nosso candidato ao governo do Rio em 2026.
Elmar Nascimento (União-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL) estão entre os cotados para disputar a presidência da Câmara. Haverá um racha na base?
Eu defendo a pré-candidatura do Isnaldo. Ele é um grande líder, tem contribuído muito com o avanço das pautas na Câmara, tem uma convivência harmônica com todos os líderes. Mas não depende de mim, mas da vontade do líder e da construção de apoios. Acho que as candidaturas à presidência da Câmara ainda vão afunilar e, lá na frente, teremos convergências. Não acredito que a eleição vai interferir no andamento das pautas (do governo) deste ano e nem na base.
Como vê o aumento das emendas parlamentares nos últimos anos e a ofensiva do Congresso para ter mais controle do Orçamento?
Eu sou um deputado que defende as emendas parlamentares. Mas a maneira com que a gente está tendo a execução do Orçamento acaba criando um desequilíbrio entre Executivo e Legislativo. O governo é eleito em cima de um programa e, para executá-lo, precisa ter o controle do Orçamento. Acho que é exagero a maneira com que as emendas estão sendo discutidas no Legislativo.
Como equilibrar?
Fortalecendo o orçamento discricionário dos ministérios. Muitas vezes vemos os ministros sem condições de colocar em prática projetos que, na visão deles, são importantes porque o orçamento está em outras rubricas que não as que eles podem executar.
Bianca Gomes/O Globo — São Paulo