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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Queda na aprovação de Lula acende alerta, e ministros defendem mais acenos ao centro, sobretudo em pautas de costume

Índice recuou a 51%, enquanto a avaliação positiva e negativa do governo passou a um empate técnico, como apontou nova pesquisa da Genial/Quaest

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O aumento da desaprovação ao presidente Lula apontado em pesquisa Genial/Quaest, divulgada ontem, acendeu um alerta entre os ministros do governo, que veem necessidade de o petista acenar mais ao centro, principalmente em pautas de costume, como aborto, invasão de terras e legalização das drogas. O levantamento mostra que as declarações críticas de Lula sobre Israel derrubaram a avaliação do petista a seu nível mais baixo neste terceiro mandato, sobretudo entre os evangélicos, grupo majoritariamente alinhado ao bolsonarismo. A desaprovação ao presidente passou de 43% em dezembro para 46% e a aprovação recuou de 54% para 51%; entre o segmento religioso, os que desaprovam saltaram de 56% para 62% e os que aprovam despencaram de 41% para 35%.

Já a avaliação negativa do governo subiu cinco pontos percentuais (34%) e encostou na positiva (35%). Como a margem de erro da pesquisa é de 2,2 pontos percentuais, há um empate técnico. A distância entre os grupos que aprovam e desaprovam a gestão petista, que era de sete pontos percentuais na pesquisa anterior, baixou para apenas um. Outros 28% avaliaram o governo Lula como regular.

Neutralizador

Integrantes do primeiro escalão do governo ligados a partidos aliados fizeram chegar ao presidente uma sugestão para que ele passe a dizer em discursos, por exemplo, ser contra a descriminalização do aborto. Eles acreditam que declarações como essa, “de 30 segundos”, podem ser usadas nas redes sociais como forma de neutralizar discursos de bolsonaristas.

Aprovação do presidente Lula por região do país — Foto: Quaest
Aprovação do presidente Lula por região do país — Foto: Quaest

Durante a campanha de 2022, Lula chegou a afirmar algumas vezes ser pessoalmente contra o aborto, embora defenda tratar o tema como questão de saúde pública. A sugestão é que ele volte a repetir isso e, assim, evite desgastes como o da semana passada, quando o governo foi acusado pela oposição de liberar o aborto, devido a uma nota técnica do Ministério da Saúde que derrubava a fixação de prazo para as hipóteses de interrupção legal da gravidez. Diante da repercussão negativa, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, suspendeu a medida.

A avaliação no Palácio do Planalto é que a pesquisa Genial/Quaest reforçou o diagnóstico de que o governo tem dificuldades para se conectar com públicos como evangélicos, frustrando a tese defendida até agora pelo próprio Lula de que eles seriam conquistado por meio de um bom desempenho da economia. A desaprovação no segmento religioso, que responde por cerca de 30% do eleitorado brasileiro, foi a que mais subiu — seis pontos percentuais — a despeito de acenos como o aval para a Câmara dos Deputados aprovar Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a imunidade tributária para igrejas.

A piora acontece após Lula comparar as ações de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto. O tema costuma ser sensível entre evangélicos, que têm identificação com o povo israelita. A fala do presidente foi considerada exagerada por 60% dos entrevistados e 69% dos evangélicos.

Aprovação do trabalho que o presidente Lula está fazendo — Foto: Quaest
Aprovação do trabalho que o presidente Lula está fazendo — Foto: Quaest

Um aliado lembra que Lula não recebeu e não se reuniu com nenhum pastor até o momento e que isso pode ter tido influência na queda da sua aprovação entre o grupo (também de seis pontos percentuais). Na pesquisa anterior, em dezembro, a distância entre os que desaprovam e os que aprovam o petista era de 15 pontos percentuais, margem que agora subiu para 27 pontos.

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que tem trabalhado para tentar aproximar o presidente do segmento religioso, pediu uma reunião com o petista para tratar desse tema. A intenção da parlamentar é promover um encontro de Lula com pastores ligados à esquerda. A avaliação é que a agenda poderia ter mais efeito até do que mudanças legislativas. Uma pessoa próxima lembra que o PT nunca aceitou cobrar impostos das igrejas, por exemplo, e que isso deveria ser mais lembrado.

Outro tema em que aliados defendem um posicionamento mais claro de Lula é em relação às invasões promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A falta de uma condenação veemente por parte do presidente incomoda integrantes do agronegócio.

Uma das sugestões levadas ao petista para melhorar sua imagem com o setor é avançar em um programa de reforma agrária aliado a um acordo com os sem-terra para não haver mais invasões.

Aprovação do trabalho do presidente Lula — Foto: Quaest
Aprovação do trabalho do presidente Lula — Foto: Quaest

Para um integrante do alto escalão do governo, Lula precisa deixar claro aos líderes do MST que cumprirá a promessa de retomar os assentamentos, mas também dizer que, se houver invasão, vai retirá-los, em um aceno aos produtores rurais.

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, disse que encaminhará a Lula uma relação de terras públicas devolutas que possam ser destinada a assentamentos. A lista foi um pedido do próprio presidente.

— Será apresentado mais à frente — disse o ministro.

A maior preocupação

A percepção sobre a economia também influenciou negativamente a avaliação do governo. Entre os entrevistados, 38% responderam que o setor piorou nos últimos doze meses, um avanço de sete pontos percentuais. Houve uma queda de oito pontos entre os que dizem ter havido uma melhora no período (26%).

Segundo a pesquisa, entre os que votaram em branco, anularam o voto ou não compareceram às urnas, 38% enxergam piora na situação econômica, com alta de seis pontos percentuais sobre a pesquisa anterior. O aumento no preço dos alimentos — percebido por 73% dos ouvidos — é a principal explicação deste cenário.

Os dados são os que mais preocupam os auxiliares de Lula, já que o próprio presidente defendia internamente a tese de que a melhora da economia faria com os índices de avaliação positiva do governo aumentassem. A economia é enxergada no Planalto como um caminho, inclusive, para romper a resistência dos evangélicos. Por esse raciocínio, conforme a sensação de bem-estar geral da população avançasse, essa parcela da população poderia enxergar o governo de forma mais positiva.

O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, tentou minimizar o resultado da pesquisa no setor econômico:

— Há uma percepção sobre aumento de preços nos alimentos devido à estiagem em algumas regiões e excesso de chuvas em outras. Já havíamos detectado esse movimento e estamos agindo para reduzirmos o reflexo na capacidade de consumo.

A pesquisa da Quaest foi contratada pelo banco Genial e entrevistou pessoalmente dois mil brasileiros de 16 anos ou mais em todos os estados do país, entre 25 e 27 de fevereiro. O nível de confiança é de 95%.

O Globo

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