Quando contempla o plenário Ulysses Guimarães da Câmara dos Deputados a partir da cadeira que um dia foi do próprio, o alagoano Arthur César Pereira de Lira, de 54 anos, vê um xadrez 4D da tropa que comanda com mão de ferro. Ele reproduz o mapa em traços firmes numa folha de papel, hábito que tem quando explica algo, um entre tantos que denunciam sua ânsia por controle. Faz um traço firme até o meio do salão. Da metade para a frente, ficam os deputados “que só querem saber de texto” — ou seja, que se interessam por relatar medidas importantes, pois representam setores econômicos e bancadas temáticas —, e no fundo se posicionam os “que só querem saber de emenda”, o famoso baixo clero. Quando o governo veta um projeto sobre o qual havia acordo, ou insiste em rever um assunto que já passou pela Casa, desagrada a ala do gargarejo. Quando não cumpre compromissos orçamentários, enfurece a turma do fundão.
Lira angariou o enorme poder de que ainda desfruta se tornando presidente de um sindicato que reúne as duas tribos. E boa parte da inquietação atual vem do fato de que seu período na cadeira está terminando, e seu maior temor é perder o controle da própria sucessão. É um erro tachá-lo de “rei do baixo clero”, como se convencionou. Desde que chegou à Casa, em 2011, Arthur Lira só passou um ano na planície. Nos outros 13 ocupou postos de destaque, da liderança de seu partido inúmeras vezes à presidência, passando pelo comando das duas comissões mais vistosas do parlamento, a de Constituição e Justiça e a de Orçamento.
Trata-se de alguém que está na elite da política desde que ingressou nela, como herdeiro de um típico clã político do Nordeste. Mais preciso é chamá-lo de presidente do “sindicato” dos 513 deputados, expressão a que ele mesmo recorre com frequência para explicar o expediente frenético na residência oficial da Câmara, mais conhecida como RO, no qual chega a despachar com 60 “irmãozinhos” por dia. A atividade sindical, que consiste em pilotar as emendas de forma obsessiva e de costurar os textos e as votações em reuniões que varam madrugadas, é que explica tanto seu sucesso quanto a tensão com um governo do qual teve de se aproximar às pressas depois das eleições de 2022.
Antes visto com desconfiança nos círculos econômicos graças à fama de presidente do sindicato dos deputados, Lira passou a ser recebido na Faria Lima e adjacências à medida que ficava claro para o mercado que dele dependia a votação de assuntos como o novo marco fiscal e, sobretudo, a reforma tributária, tema que escolheu para ser o ponto de virada de sua imagem pública. A boa relação construída com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nessa fase de votação das medidas elencadas pelo governo foi um jogo de “ganha-ganha” para os dois, que, mesmo pertencendo a campos opostos, precisavam atravessar os próprios rubicões de desconfiança dos agentes econômicos.
Na votação do novo marco fiscal, o texto depois aprovado na Câmara foi fechado na residência oficial. Em dado momento, Lira pegou de novo uma folha de papel e traçou uma linha:
“MINISTRO, O LIMITE DO PLENÁRIO É ESTE. O QUE FOR ALÉM DAQUI NÃO PASSA”
Arthur Lira, em aviso a Fernando Haddad
Em retribuição, mais ou menos na mesma época ouviu do titular da Fazenda um conselho que rapidamente introjetou. “Suba o elevador”, lhe disse Haddad, numa referência à necessidade de deixar de ser visto como defensor de pautas paroquiais.
Foi a partir dali que Lira se tornou obsessivo pela ideia de aprovar a reforma tributária, que andava em círculos havia 30 anos, antes do fim do primeiro semestre. Mas nem quando passou a circular pelos prédios envidraçados dos bancos e fundos de investimento se afastou do dia a dia do seu sindicato. Sabe que é mantendo o cabresto firme, como fazia nos tempos em que era o rei da vaquejada, que vai construir um futuro que não o relegue ao ostracismo.
É por isso que tenta conter ao máximo a campanha antecipada pelo seu gabinete, neste caso sem sucesso nenhum. Dada a desenvoltura com que os três principais postulantes ao posto, Elmar Nascimento (União Brasil-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antonio Brito (PSD-BA), vêm agindo na pré-campanha, passou a dizer a aliados que pode surgir alguém “mais leve” que lhes tome a dianteira. O pacto velado com Lula também pressupõe que o presidente tem o direito de fazer chegar a ele um nome com o qual não concordaria em hipótese alguma, da mesma forma que não bancaria um postulante que tivesse o veto de Lira. A cláusula não escrita exclui, neste momento, Elmar Nascimento, a respeito de quem Lula não esconde as restrições, e Brito, em quem Lira vê afinidade demasiada com o Palácio do Planalto e o PT.
Arthur Lira, em sua residência oficial em Brasília
A proximidade de Elmar Nascimento com Carlos Suarez é citada por Lula a cada conversa que tem sobre o futuro da Câmara. Foi a ligação entre o empresário, conhecido como “rei do gás”, e o deputado baiano que rendeu vários jabutis incluídos no projeto que permitiu a privatização da Eletrobras e que, hoje, banca a ostentatória campanha do deputado baiano à sucessão de Lira, com convites a festas nababescas de réveillon e carnaval. Lira, aliás, esteve no camarote do “irmão” em Salvador, mas ninguém do seu núcleo próximo imagina que ele vá dinamitar de vez as pontes com Lula para sustentar sua candidatura caso fique explícito o veto do Planalto. A não ser que a relação com o governo se deteriore de vez, o que seria ruim e levaria alto grau de imprevisibilidade para os planos dos dois lados.
Lira já tinha mais de 40 anos quando foi eleito para o primeiro mandato de deputado federal. Filho de Benedito de Lira, o Biu, ex-deputado, ex-senador e hoje prefeito do município alagoano de Barra de São Miguel, Arthur formou-se em Direito pela Universidade Federal de Alagoas em 1993, mesmo ano em que assumiu o primeiro mandato como vereador de Maceió, aos 23 anos. Desembarcou em Brasília, em 2010, para o primeiro voo nacional com 84.676 votos na bagagem. Três eleições depois, em 2022, já presidente da Câmara, foi o mais votado do seu estado, com 219.432 votos.
Na chegada, se juntou ao grupo de Ciro Nogueira para desbancar do comando da sigla a velha guarda que cerrava fileiras com o veterano deputado José Janene, morto no ano anterior. A nova geração tratou de derrubar o ministro das Cidades de Dilma Rousseff, Mario Negromonte (BA), e designar Agnaldo Ribeiro (PB) em seu lugar. Em 2015, já no auge da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa associaram a briga pelo comando do partido a uma disputa pela distribuição de propinas oriundas da diretoria de exploração da estatal, o que deu origem ao inquérito que ficou conhecido como Quadrilhão do PP, no qual Lira figurava, que veio a ser arquivado em 2021.




A arte de se livrar de investigações é outro aspecto da biografia do presidente da Câmara. O último episódio dessa natureza veio em meados do ano passado, quando o ministro Gilmar Mendes anulou integralmente o inquérito para apurar sua participação na compra superfaturada de kits de robótica, que envolvia diretamente um de seus mais próximos assessores, Luciano Cavalcanti. Apontando vício de origem pelo fato de o inquérito ter se desenvolvido todo em Alagoas a despeito de Lira ter prerrogativa de foro, Gilmar anulou inclusive provas obtidas em grampos e buscas e apreensão contra Cavalcanti e outros investigados. Superou ainda obstáculos recentes como os relatos feitos pela ex-mulher Jullyene Lins, que chegou a formalizar uma série de acusações de agressões e omissão de patrimônio contra Lira, todas elas arquivadas.
Na briga de grupos dentro do PP, coube a Lira assumir a liderança do partido, função que ocupou até 2013. Mas foi só no mandato seguinte, seu segundo como federal, que ele ajudou a viabilizar o impeachment de Dilma e ascendeu aos postos de comando estratégicos na Casa, graças em boa parte à sua proximidade com o então todo-poderoso Eduardo Cunha, que o designou para a Comissão de Constituição e Justiça, em 2015, e para a Comissão Mista de Orçamento já nos estertores, antes de ser cassado e preso pela Lava Jato.
A CCJ foi o grande trampolim de Arthur Lira. Ali, distribuiu favores para colegas de todos os partidos e acabou com a letargia que fazia com que o colegiado discutisse muito e votasse pouco. As duas características — atuação pluripartidária e capacidade de fazer a pauta andar — seriam repetidas na Comissão de Orçamento e à frente da própria Câmara, e virariam ativos na consolidação da ampla coalizão em torno de si.
“NÃO GERO EXPECTATIVA COM NADA”
Arthur Lira, ao comentar sobre o futuro pós-presidência da Câmara
Na campanha pela reeleição de Jair Bolsonaro, Lira fez tudo o que estava a seu alcance para ajudar o ex-presidente, de quem se aproximara na primeira campanha para a presidência da Câmara, ainda em 2020. Foi o presidente do PSD, Gilberto Kassab, famoso em Brasília por farejar sempre com precisão para onde vai soprar o vento do poder, quem disse ao alagoano que sua chance de vitória em fevereiro do ano seguinte estava em formar um bloco de centro-direita e ter o apoio do presidente. Depois de várias reuniões no Alvorada, Bolsonaro empenhou a ele seu apoio para enfrentar o candidato tardiamente definido por Rodrigo Maia, que tentou até o último instante uma quarta candidatura ao posto mais alto da Câmara, rompendo acordo selado com Lira.
Com o apoio do PL, do Republicanos, de parte do DEM, partido do próprio Maia, e votos espalhados em quase todas as outras siglas, inclusive na esquerda, não foi difícil para Lira vencer Baleia Rossi (MDB) por 302 votos a 145.
Começava ali a escalada para se tornar um dos homens mais poderosos da República. Sua eleição também pavimentou o caminho para o ingresso efetivo do Centrão no governo de Bolsonaro, que praticamente delegou a Lira e ao presidente de seu partido, o senador Ciro Nogueira, em seguida indicado para a Casa Civil, a gestão do Orçamento da União, num arranjo que já havia começado na gestão Maia, mas só virou um escândalo no primeiro semestre de 2021, quando viria a ser batizado primeiro de “tratoraço” e, depois, de Orçamento secreto.
O mecanismo, pelo qual emendas parlamentares conhecidas pela rubrica técnica de RP9 eram distribuídas sem identificação clara a deputados escolhidos pelos comandantes da Câmara e do Senado, garantiu a Lira aumentar exponencialmente a rede de apoios que tinha levado à sua primeira eleição para a presidência.
Foi para preservar esse arranjo lucrativo que Lira arregaçou as mangas para ajudar a reeleição de Bolsonaro no parlamento e para buscar votos para ele em Alagoas. A pauta de “bondades” às vésperas da eleição — que se mostraram, depois, uma bomba fiscal a ser herdada pelo futuro governo — tramitou com tranquilidade na Câmara e também no Senado, pilotado por Rodrigo Pacheco. Em Alagoas, o exército de Lira conseguiu dar ao candidato do PL a derrota mais “honrosa”, digamos, no Nordeste: 58,5% dos votos válidos para Lula e 41,5% para o então presidente. Maceió foi a única capital da região em que o candidato do PL venceu Lula.
No dia do segundo turno, Lira estava tenso. Votou em Maceió e embarcou para Brasília para acompanhar a contagem de votos da residência oficial. Antes mesmo da confirmação da vitória de Lula, jogou a toalha. Ligou primeiro para Bolsonaro e foi claro:
“GAME OVER. O SENHOR PRECISA RECONHECER A DERROTA E SE PREPARAR PARA 2026”
Arthur Lira, para o ex-presidente Jair Bolsonaro
Em seguida, ignorou convite de Alexandre de Moraes para acompanhar a proclamação do resultado da sede do Tribunal Superior Eleitoral e convocou a própria coletiva, na qual foi a primeira autoridade a reconhecer a vitória de Lula. Naquele momento, já havia telefonado para o petista e o cumprimentado pela vitória. Do outro lado da linha não estava mais o candidato que dissera na campanha que Lira tinha a pretensão de ser “imperador” por meio do controle do Orçamento, mas um presidente eleito que, em tom amigável, perguntou pelo pai do presidente da Câmara e prometeu lhe fazer uma visita em breve.
A transição e a nova campanha de Lira à reeleição começavam efetivamente ali.
GESTO AO GOVERNO E OLHO NO FUTURO
Em dezembro, com a transição já em curso, veio a decisão do STF de colocar uma pá de cal no Orçamento secreto, mas, a despeito das severas críticas que fizera na campanha, Lula autorizou seus auxiliares a oferecerem ao Congresso uma nova versão do mecanismo de distribuição de emendas em troca da aprovação da PEC da Transição. Foi Fernando Haddad quem, acompanhado de outros petistas, foi à RO pintar um quadro sombrio das contas públicas legado por Bolsonaro e Paulo Guedes: “Se não for feito nada, este governo não termina e o próximo não começa”.
Diante da promessa de ressurreição das emendas RP9 com outra sigla e da garantia de apoio a sua reeleição, Lira arregaçou as mangas e passou a trabalhar a favor do texto da PEC que, entre outras medidas, garantiu ao governo um extra-teto de gastos de R$ 145 bilhões no primeiro ano, que lhe permitiria pagar o Bolsa-Família de R$ 600 e honrar outros compromissos de campanha.
Foi a primeira vez em que Lula e seu time assistiram o método Lira de angariar votos. Em jornadas madrugada adentro, o presidente da Câmara chegou a receber apelo dos presidentes de seu partido, Ciro Nogueira, e do Republicanos, Marcos Pereira, para que trabalhasse contra o texto, pois essas siglas, juntamente com outras do Centrão, assegurariam sua reeleição à presidência sem a necessidade de apoio do governo. No dia seguinte, Lira foi até Ciro Nogueira:
“EU ESTOU DISPOSTO A FAZER ESSE GESTO. VOCÊ ME APOIA?”
Arthur Lira, sobre aprovação da PEC da Transição
Obteve do presidente do PP a garantia de que não trabalharia a bancada contra sua orientação. Ali se iniciava uma divergência interna que não chegou a abalar a amizade de ambos, mas que persiste ainda hoje.
Para passar a régua na vitória de Lira à reeleição com um recorde de 464 votos, veio o 8 de Janeiro, e a união dos três Poderes contra a tentativa de golpe selou de vez a decisão de Lula de não permitir que sua base lançasse algum nome contra o alagoano. Dali em diante, a relação de ambos seria marcada por idas e vindas, desconfiança mútua, mas, inequivocamente, pela dependência do governo em relação ao czar da Câmara para que sua pauta, sobretudo a econômica, avançasse no primeiro ano.
Às vésperas do carnaval deste ano, Lira estava inquieto com sinais de que o governo resolvera agir para minar sua influência na Câmara, cortando emendas e ignorando acordos em matérias já votadas. Tinha proferido um discurso colérico, em tom ameaçador, na abertura do ano legislativo. Via na ação do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, com quem se estranha desde março passado, a personificação de seus problemas de acesso ao presidente.
Arthur Lira, em sua residência oficial em Brasília
Acionou vários interlocutores de Lula até que conseguiu a garantia de uma audiência na sexta-feira pré-folia. Enumerou ao presidente as várias votações cruciais para o sucesso do governo que garantira “no braço”, e as muitas vezes em que acordos foram selados com o aval de ministros como Haddad, Padilha e Rui Costa, da Casa Civil, e ainda assim foram descumpridos.
Não foi a primeira conversa em termos semelhantes que tiveram, depois de um início de governo em que Lula hesitava em receber Lira sem a presença de testemunhas. Numa dela, logo depois de um dos momentos de crise mais aguda, quando o presidente vetou mais de 30 pontos do Marco Legal de Garantias, em novembro, um irritado presidente da Câmara invocou o testemunho de Haddad de que o acordo para que não houvesse veto envolvera reuniões longas na RO em que até uma ata dos termos da negociação fora lavrada. O ministro da Fazenda deu razão a Lira.
Não era a primeira vez que uma matéria exaustivamente negociada, com Lira empenhando seu capital político para o governo vencer, recebia vetos não combinados. O mesmo acontecera no arcabouço fiscal e no projeto que restabeleceu o voto de minerva nos julgamentos do Carf. E voltaria a acontecer no Orçamento e na reoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia, desta vez com uma Medida Provisória enviada nos últimos dias do ano depois de o Congresso ter derrubado um veto de Lula.

“MINISTRO, O LIMITE DO PLENÁRIO É ESTE”
Arthur Lira, durante negociações com o ministro Fernando Haddad
No repeteco da DR, em fevereiro, o presidente tentou sondar qual era a chance de Lira restabelecer relações com Alexandre Padilha. Ouviu que era nula, e sugeriu que, enquanto durasse a interdição, o alagoano falaria com Rui Costa e diretamente com ele.
Lula também escutou outro apelo que não era inédito: estava precisando receber mais deputados e senadores. Lira ainda brincou que gostaria de conhecer aquele Lula que promovia churrascos e festas nos mandatos anteriores. Em uma das conversas que tiveram, o presidente chegou a lembrar, com certo saudosismo, que nos mandatos anteriores “mandava mais” que no atual.
O presidente também perguntou o que Lira planejava para o dia seguinte ao deixar a cadeira — resposta esta que foi vaga. Após passar o bastão ao sucessor, a ideia de ocupar um ministério de Lula não parece seduzir Arthur Lira. É difícil a alguém que foi chefe por tanto tempo passar a ser chefiado e, portanto, passível de demissão. Além disso, dividir espaço no ministério com Renan Filho, herdeiro de seu inimigo histórico, o senador Renan Calheiros, não o convence.
O caminho mais mencionado por ele quando se dispõe a tratar deste que é um assunto-tabu é eleger ainda mais prefeitos que os que hoje já orbitam em torno de si em Alagoas para, em 2026, ser eleito numa das vagas do Senado. Lula chegou a enunciar a pessoas próximas um plano em que tanto Renan quanto Lira seriam eleitos com seu apoio. Mas a guerra política entre eles no Estado é tão acirrada que o arranjo não convenceria o eleitorado.
Lira venceu a eleição para a prefeitura de Maceió em 2020 ao apoiar João Henrique Caldas, o JHC, no segundo turno. Em compensação, perdeu a disputa pelo governo com a vitória de Paulo Dantas, aliado dos Calheiros, dois anos depois. Na mesma eleição, no entanto, fez a maioria da bancada de deputados federais. Uma lá, outra cá.
O último lance da briga envolve a disputa pela CPI da Braskem, instalada na última semana depois de insistência de Renan e contra a vontade de Lula e Lira. No entanto, numa outra demonstração de quão acirrada é a disputa por poder em Alagoas, o senador não conseguiu ser escolhido relator da comissão e pediu seu desligamento da investigação. Lá e cá.
Em novembro, Lula reuniu os dois lados da guerra em torno de uma mesa no Planalto. Disse que não desejava a CPI nem a venda da companhia para nenhum grupo nacional, bem como a pulverização de seus ativos no exterior. Ficou, ao menos pontualmente, do mesmo lado de Lira contra seus aliados de mais tempo no estado.
Arthur Lira, em sua residência oficial em Brasília
Se equilibrando entre a fama de coronel, que atribui a um estereótipo pela sua origem nordestina, e o mais recente verniz de queridinho do mercado que lhe foi dado pelo pacote de medidas econômicas que entregou, Lira costuma ostentar um lado família no qual desempenha, inclusive, a função de “pãe”, pelo fato de três dos cinco filhos terem lhe dado razão na briga com a ex-mulher.
São algumas das facetas de alguém que dorme pouco, articula muito, se irrita com facilidade, é temido pelos funcionários pelo tom colérico com que se dirige a eles e os assessores em série que demitiu, mas que, nas brechas de tudo isso, exibe um humor peculiar, chama a todos os deputados de “meu irmãozinho” e tem um dos raciocínios mais rápidos e pragmáticos de Brasília.
“NUNCA DAQUI DESSA CADEIRA VAI PARTIR A FALTA DE DIÁLOGO”
Arthur Lira, a despeito de alguns recados em contrário disparados recentemente
Elenca como ativos o fato de se dedicar às pessoas, de conhecer cada deputado pelo nome e saber das suas demandas, o que lhe daria “amplitude”, característica da qual demonstra se orgulhar.
“TENHO DO QUE RECLAMAR? SÃO 34 ANOS DE MANDATO. TENHO 54. MEU PAI TEM 82 E ESTÁ QUERENDO IR PRA REELEIÇÃO. EU NÃO QUERO ISSO PRA MIM. ESCREVA AÍ QUE EU NÃO GERO EXPECTATIVA COM NADA”
Arthur Lira, em mais uma das econômicas declarações que aceitou dar para este perfil
Vinda de alguém que controla o plenário no olho de cima da Mesa Diretora e passa dias esquadrinhando traições e programando os próximos passos que dará, eis uma afirmação difícil de acreditar.
CRÉDITOS
TEXTO: Vera Magalhães
EDIÇÃO: Thiago Prado
DESIGN: Mario Martinho
DESENVOLVIMENTO: Eber Macedo e Magno Cruz
PRODUÇÃO: Luã Marinatto e Vinicius Machado
Jornal: O Globo
