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domingo, novembro 24, 2024

Candidatos já começam a invocar os ‘milagres’ de ‘São Artuzi’

Entre os mais mais famosos bordões de campanha, o "ajuda eu", do ex-prefeito Ari Artuzi

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Sem nenhum requinte de produção, mais pela chamativa vinheta do plantão do Jornal Nacional da Rede Globo do que pelo conteúdo em si, uma dessas inúmeras bobagens que rolam pelas redes sociais acaba chamando a atenção dos eleitores pelo fundo de verdade que traz, embora injusta com a “catiguria” dos políticos, enquanto generalizada. Até porque a crítica recai mais sobre os vereadores, acusados de só aparecem de quatro em quatro anos, já que é deles a responsabilidade do varejo da política, exatamente no levantamento das demandas de suas comunas para que o prefeito e os parlamentares em nível estadual e federal se encarreguem de viabilizar os recursos para as sempre tão cobradas obras e serviços.

O “sumiço” dos nobres representantes dos douradenses no Jaguaribe traz à tona alguns dos mais manjados bordões desses políticos que nessa época, a cada dois anos, voltam a bater à porta dos eleitores. É por meio deles que o seu José ou a comadre Maria são alertados para a importância do grande evento que se aproxima. Depois de vendido o peixe, a cantada final. E fatal. Embora o voto seja a cereja do bolo democrático, como tal um produto proibido de ser vendido, além dos que pedem, discreta e educadamente, com um simples aperto de mão e um tapinha nas costas, há os que insistem em comprá-lo. Em bairros mais pobres da periferia de Dourados existe até tradição dos que na noite que antecede as eleições formam grandes rodas de chimarrão ou tereré, com seus títulos à mão, à espera dos cabos-eleitorais, com suas famosas malas-pretas, a serviço dos coronéis da política.

Nessas horas, com ou sem dinheiro, os candidatos capricham na investida a seus alvos. Muitos deles inspirados em grandes mestres nesse tipo de arte, como o ex-prefeito João Totó Câmara e o ex-deputado Ivo Cersósimo. Aliás, “mestre” é um dos bordões preferidos dos com pouca ou quase nenhuma imaginação. O próprio Totó, um dos políticos mais perseguidos pelo regime militar, usava sempre sua boa e fina ironia para ir até um pouco além, chamando a cada um de seus correligionários, indiscriminadamente, de “general”. Já seu guru, Harrison de Figueiredo, discípulo de Ernesto Che Guevara, por isso o primeiro a ser preso sempre que o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) fazia suas patrulhas, dirigia-se à companheirada como “paraguai”. Isto, antes de Almir Sater cantar ao Brasil e ao mundo que é da terra onde o Brasil foi Paraguai. Ou seja, um douradense.

O ex-deputado Ivo Anunciato Cersósimo era um capítulo à parte. Além dos bordões tinha sempre um “aviso” na ponta da língua para se livrar dos eleitores mais pidões: “mas… olha, eu preciso muito falar com você”, já chispando. Murilo Zauith, que até hoje gosta de relembrar as histórias de Ivo Cersósimo, herdou dele o seu principal bordão. Para o ex-vice-governador, que faz mistério sobre seu papel nessas eleições de 2024, todo mundo é “fera”. Até o mais “competente” dos candidatos, o açougueiro-cabeleireiro Jeferson Bezerra, o que compete, compete, compete… em todas as eleições sem nunca chegar lá, tem o seu bordão preferido. “Líder!”. Obviamente, um exemplo clássico de complexo de inferioridade.

Essas escapatórias discursivas são decorrência da ausência de uma capacidade que deveria se inata a quem se apresenta para esse tipo de competição, qual seja, a de se lembrar dos nomes “de todo mundo”. Um privilégio para mentes brilhantes como a do ex-governador paulista Paulo Salim Maluf. Além de saber o nome de todos os correligionários costumava lembrar dos de seus respectivos cônjuges e por aí afora, se duvidassem até dos pets de estimação.

Aqui estado, um craque em decorar nomes de eleitores e aliados é o ex-governador André Puccinelli. Em alguns casos, gritando nome e sobrenome sempre que cruza com alguém que não vê há tempo, como é o caso do ex-assessor do mesmo Ivo Cersósimo, a quem faz questão de cumprimentar assim, como Lourival Mesquita Ramos. Seu fiel seguidor, o ex-prefeito Braz Melo aprendeu com ele esse tipo de tratativa.

Candidatos já começam a invocar os ‘milagres’ de ‘São Artuzi’
Ari Artuzi e ex-governador André Puccinelli, para quem o ex-prefeito era apenas um “animal de pelo curto” (foto: O progresso Digital)

Diferente de tudo e de todos, por isso se transformando no maior fenômeno eleitoral da terra de seu Marcelino, Ari Artuzi podia não saber direito o nome das pessoas ou até não conseguindo pronunciar o de alguns ou de instituições – Vilfrido em vez de Valfrido, “ispital”, em vez de hospital e por aí afora – mas tinha uma forma mágica de fazer política. De “entregador de doentes” nas portas de hospitais com uma ambulância herdada de Dioclécio Artuzi, o tio vereador, Artuzi foi, de forma meteórica, de vereador a prefeito, passando por deputado estadual (da segunda vez o mais votado da história). Para ele não tinha tempo ruim nem embromação. Não deixava nada para depois. O segredo de tudo isso? Gostar, verdadeiramente, do tal do cheiro do povo.

Não à toa que alguns candidatos já começam a invocar os bordões famosos do prefeito mais popular da história douradense. Chamado pejorativamente de “animal de pelo curto” pelo ex-governador André Puccinelli, o ex-caminhoneiro se elegeu prefeito ao incorporar em suas peças de campanhas alguns de seus bordões. Como a resposta ao seu famoso e dissonante “ajuda eu”, que deu gancho para o contraponto “O Artuzi está pedindo e o povo respondeu, é com ele que eu vou”.

Ps. Vejam que a análise é restrita a campanhas eleitorais não ao que acontece com essas figuras depois de eleitas. No caso de Artuzi, por se tratar de um fenômeno eleitoral, com mandatos parlamentares marcados pelo assistencialismo, não tendo a chance de ser testado como gestor, na prefeitura, de onde foi defenestrado ainda no início do mandato, obrigado a renunciar, segundo ele, com uma escopeta apontada para sua cabeça, no presídio federal de Campo Grande. Sim, o prefeito de Dourados foi preso, acusado de corrupção, e, antes mesmo de sentenciado, levado para um presídio destinado a criminosos de altíssima periculosidade. Estranho, aliás, que até agora nenhum vereador ou deputado tenha sugerido o início do processo de beatificação do fenomenal Ari Valdecir Artuzi.

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