A Polícia Federal (PF) concluiu neste domingo a investigação sobre o assassinato da vereadora do Rio, Marielle Franco, ocorrido em 14 de março de 2018. Em relatório entregue à Justiça, os investigadores apontam quem foram os mandantes, quem foram os executores, quem foram os intermediários e qual a motivação do crime.
Neste domingo, a PF cumpriu mandados de prisão contra o deputado federal Domingos Brazão (União-RJ), o irmão dele e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE), Chiquinho Brazão, e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil no Rio.
Os policiais chegaram aos mandantes após a delação premiada do ex-PM Ronnie Lessa, preso desde 2019 por ter sido o responsável pelos disparos que mataram Marielle e seu motorista, Anderson Torres.
Quem foi o mandante do assassinato de Marielle Franco?
Segundo as investigações, a morte de Marielle foi encomendada pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. Na época do crime, Chiquinho era vereador ao lado de Marielle. Ao determinar a prisão da dupla, o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, citou “fortes indícios de materialidade e autoria” dos irmãos Brazão.
- Perfis: Quem são Chiquinho e Domingos Brazão, irmãos presos pela PF suspeitos de serem mandantes da morte de Marielle
- Rivaldo Barbosa: Chefe de polícia preso por morte de Marielle teria prometido que mandantes ficaram impunes
De acordo com a PF, o delegado Rivaldo Barbosa, também preso neste domingo, tinha um acordo com os irmãos Brazão para evitar que eles fossem responsabilizados. O acerto estaria valendo desde o segundo semestre de 2017, quando o crime começou a ser discutido. Barbosa exigiu que o crime não ocorresse no trajeto para a Câmara para evitar “conotação política”.
Em delação, Ronnie Lessa afirmou que Barbosa colaborou “ativamente na construção do plano de execução” de Marielle e assegurou “que não haveria atuação repressiva por parte da Polícia Civil”.
- Trabalho interno: PF aponta ‘sabotagem’ da chefia da Polícia Civil em hora decisiva da investigação e ‘conduta omissiva’ de promotor
- Estranho no ninho: PF aponta infiltrado no PSOL para levantamento de informações sobre atuação de vereadora
Para a PF, o assassinato de Marielle foi idealizado por Domingos e Chiquinho Brazão e “meticulosamente planejada” por Barbosa.
A PF investigou ainda a atuação do ex-titular da Delegacia de Homicídios, Giniton Lages, e o policial Marco Antonio de Barros Pinto. Segundo os investigadores, a dupla desviou “deliberadamente o curso das investigações”, protegendo os mandantes, ao apresentar a tese de que Ronnie Lessa e Elcio de Queiroz teriam cometido um crime de “ódio”, por discordarem da atuação política de Marielle.
Quem executou a morte de Marielle Franco e Anderson Gomes?
O crime foi cometido pelo ex-PM Ronnie Lessa, preso em março de 2019 pela participação nos assassinatos. Lessa foi expulso da PM e condenado, em 2021, a quatro anos e meio de prisão pela ocultação das armas que teriam sido usadas no crime. Lessa fez a delação que apontou os irmãos Brazão como mandantes.
- Demora: Mortes, destruição de provas e falsas denúncias marcaram os seis anos de investigação do crime
- Informação: PF aponta infiltrado no PSOL para levantamento de informações sobre atuação de vereadora
Ex-sargento da PM, Élcio de Queiroz dirigiu o carro em que estava Lessa. Preso desde 2019, ele fez delação premiada. Outro envolvido no caso é o ex-sargento do Corpo de Bombeiros, Maxwell Simões Corrêa, o Suel, acusado de ter cedido um carro para a quadrilha, esconder as armas após o crime e auxiliar no descarte delas.
Em delação, Lessa afirmou que foi contratado por outro ex-PM Edmilson da Silva de Oliveira, o Macalé. Miliciano com atuação em bairros da Zona Oeste sob influência política dos Brazão, Macalé foi procurado pela dupla de mandantes no segundo semestre de 2017, afirma a PF. Ao notar que precisava de um matador profissional, foi atrás de Lessa. Macalé foi morto em 2021.
Por que Marielle Franco foi morta?
Autor dos disparos, Ronnie Lessa contou, em delação premiada, que no segundo trimestre de 2017 Chiquinho Brazão demonstrava “descontrolada reação” à atuação de Marielle para “apertada votação do projeto de Lei à Câmara número 174/2016”.
- Motivação: Votação de PL, expansão de milícias, regularização fundiária: os motivos do assassinato de Marielle
- Entrevista: ‘Seguimos, agora, na luta pela devida responsabilização dos envolvidos’, diz assessora que sobreviveu a atentado
Com o projeto, os mandantes buscariam a regularização de um condomínio inteiro na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, sem respeitar o critério de área de interesse social.O objetivo seria obter o título de propriedade para especulação imobiliária.
O relatório da investigação da PF diz que “inexistem dúvidas” sobre motivação dos irmãos Brazão para assassinato de vereadora. No despacho que autorizou a prisão da dupla, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes afirmou que a “divergência política em relação à regularização fundiária de condomínios da Zona Oeste do Rio” está pro trás do crime.
O Globo