Durou pouco a alegria dos tucanos. Exatos 16 dias. O radialista Marçal Filho só confirma agora aquilo que todo mundo já sabia. Que sua candidatura era um blefe. Seu retorno ao PSDB, em 15 de março ontem findo foi comemorado com pompa e circunstância. O palanque até parecia pequeno, daqueles eventos que dão a impressão de ter mais gente no palco do que na plateia, todos se acotovelando para aparecer ao lado do “líder das pesquisas” e ídolo das secretárias do lar que voltava prometendo revolucionar a administração da terra de seu Marcelino.
Pelo tanto que ao longo de sua trajetória radiofônica só critica todas as administrações, agora com a responsabilidade de fazer certo tudo aquilo que sempre apontou como errado, talvez por não confiar tanto assim em seu taco, Marçal Filho só faltou recorrer a um surrado bordão, para garantir que vai fazer em quatro anos tudo o que os últimos prefeitos não fizeram em quarenta. Aliás, exatos quarenta e dois anos, quando o último fazedor famoso, o grande José Elias Moreira, renunciou ao cargo para disputar o governo do estado.
Agora a bomba. Bomba, na verdade, só para os (nem tão assim) apaixonados, pois essa bola vem sendo cantada desde sempre. O próprio Marçal já havia sinalizado, quando impôs como condição para retornar ao PSDB, a convite do deputado Zé Teixeira, que o vice-governador Barbosinha não aceitasse convite do deputado Geraldo Resende para também se aninhar entre os tucanos. A preocupação com a sombra de Barbosinha deixa claro que essa história de liderança nas pesquisas é só uma balela momentânea, daí a imperiosa necessidade do apoio unânime do establishment. Além disso o radialista também exigia a fidelidade do governador Eduardo Riedel, que, sabidamente, tem um compromisso implícito com Alan Guedes, não só pela parceria administrativa, mas principalmente por tudo que o prefeito fez por ele em sua campanha, quando estava ainda na zona do traço nas pesquisas.
A bomba, agora, é porque Riedel foi além do que se não combinado pelo menos desejado por Marçal Filho. Ao bancar a entrada de seu vice e braço direito no PSD de Gilberto Kassab, o governador criou uma situação da qual pode não ter como fugir, caso Barbosinha se decida pelo tira-teima com Alan Guedes. Afinal, com seu tão decantado currículo de professor universitário, deputado de dois mandatos, Secretário de Justiça e Segurança Pública e gestor que marcou época na Sanesul, fazendo política desde guri, quando se elegeu em Angélica como um dos prefeitos mais jovens do Brasil, Barbosinha não se prestaria a esse tipo de papel, ainda mais para alavancar o projeto político de quem não lhe quer por perto. Mais, um projeto avalizado por Gilberto Kassab, político dos mais pragmáticos do país, secretário de Relações Institucionais do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, depois secretariar outros prefeitos e governadores, também de São Paulo; ministro dos governos Dilma Rousseff e Michel Temer e deputado federal, mas, acima de tudo, por sua condição de ex-prefeito da capital paulista, sempre um presidenciável em potencial.
Assim, como pomo da discórdia da sucessão municipal, Marçal Filho vê aquele que diz ser seu chefe político, o ex-governador Reinaldo Azambuja, se afastar, por razoes óbvias, de Eduardo Riedel, indo para o beleléu o discurso do governador, durante a filiação na S::S::C::H, de que “não é gato nem caco de vidro para ficar em cima do muro”. A lambança é tanta que além de Azambuja também o deputado Zé Teixeira parece desconfortável na hercúlea empreitada, depois de não conseguir convencer Murilo Zauith a aderir, fumando o cachimbo da paz com Azambuja, no mesmo evento de filiação.
A solução, para evitar o rompimento entre criador e criatura (Azambuja e Riedel), depois do fator Barbosinha – com essa mexida mais visível ainda no radar do bolsonarismo – seria uma recuada ou, por se tratar de tucanos, uma revoada, com o radialista Marçal Filho aceitando disputar como vice-prefeito na chapa do vice-governador, que, uma vez eleito, ficaria no cargo só dois anos, renunciando para disputar o Senado em 2026. Antes que Barbosinha se encante com os argumentos da colega advogada Gianni Nogueira e de seu marido, o produtor rural e deputado federal Rodolfo Nogueira, amigo do peito de Bolsonaro.