A declaração saiu meio que sem querer, mas quando ele percebeu a gravidade do que tinha falado já era tarde. Não gravei porque não esperava tanta sinceridade e tamanha coragem, de imediato advertindo que não se fala certas coisas diante de um jornalista. Surpresa maior, quando o vereador Creusimar Barbosa ratificou sua fala. Surpresa, não pela verdade nela explícita, para quem conhece Murilo Zauith, mas pelo que isso pode causar de problemas a um dos mais fiéis escudeiros do ex-prefeito e ex-vice-governador, ex-deputado estadual e federal, só não ex-senador ou ex-governador porque talvez o eleitorado de Dourados não tenha se apercebido, como Creusimar, dessa condição que deveria ser sine qua non para quem se aventura na política nesses tempos bicudos, de tanta corrupção.
De qualquer forma um bálsamo, vindo de um legislador, como tal um dos responsáveis pela fiscalização da coisa pública, num momento crucial da política da terra de seu Marcelino, quando partidos batem cabeça em busca de um nome para disputar com Alan Guedes. Até porque a busca não é pelo melhor candidato para ganhar a eleição, mas pelo que, uma vez sentado na tão cobiçada cadeira, se não puder fazer mais ou melhor que o atual prefeito, que pelo menos repita Murilo Zauith nesse tão precioso quesito.
A fala de Creusimar Barbosa se reveste ainda de maior importância ante a insistência das práticas corruptivas em todos os níveis de poder, para a manutenção do status quo, principalmente de velhos e já manjados caciques da política. Num contexto em que brasileiros e brasileiras (como dizia na abertura de suas falas o imortal presidente José Sarney) já se acostumaram a ler notícias de políticos nas páginas policiais. Em nível de Brasil, a partir do famoso mensalão e da controversa Lava-Jato, que levaram um ex-presidente da República à cadeia, nesse intermeio, também no âmbito petista, uma presidente a ter o mandato cassado por pedaladas fiscais; no estado em que um ex-governador também foi preso acusado de corrupção e, principalmente, na cidade em que há quatorze anos toda uma geração foi varrida do mapa político por avançar acintosamente aos cofres da prefeitura, com seu prefeito, vice-prefeito, quase toda a Câmara de Vereadores e grande parte do secretariado presos, cassados ou sendo obrigados a renunciar.
Se faltou uma gravação para servir de prova, em caso de eventual contestação, a enfática declaração de Creusimar Barbosa teve quatro testemunhas, além de três novos filiados e pré-candidatos a vereador pelo União Brasil, uma que pela singularidade de sua convivência com Murilo Zauith estaria disposta a testemunhar em favor do jornalista, não apenas pelo que ouviu, mas pela forma convicta como corrobora com a fala de Creusimar, antes dele, a mais fiel escudeira de Murilo Zauith: Andreia Vieira – a “Goiaba”, ex-assessora, confidente, motorista e até segurança de Zauith em todas as suas campanhas políticas e durante seus mandatos. Em que pese a motivação da visita dela ao vereador, para hipotecar solidariedade pela condição dele, também, de “desadotado” por Murilo Zauith no pós-Covid.
Foi neste ambiente, de reminiscências “murilistas” que, ao refutar os comentários de bastidores de que Zauith teria soltado sua cadeira de rodas ladeira abaixo, que o também ex-motorista Creusimar Barbosa mandou um recado aos pré-candidatos que “rodeiam Murilo nas padarias”, informando aos desavisados que ele continua conversando com o poderoso-chefão – “e com dona Cecília” – na residência do casal, que nunca deixou de frequentar. “O único dono de Murilo é dona Cecília”, alfinetou, sem citar nomes, mas numa charada ao presidente da UDAM e também pré-candidato a vereador José Nunes, presente frequentemente ao lado do ex-prefeito na padaria do fuxico.
Até porque já vai longe o 1º. de Abril tão polêmico, não escreveria aqui que o vereador Creusimar Barbosa ainda sonha em ver o chefe de volta à prefeitura, como o tertius tão especulado ultimamente, mas deixando isso bem claro nas entrelinhas. A ponto de se emocionar para a frase que vai para os anais da história:
— Murilo Zauith é o único político que conheço que não é corrupto.