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sábado, outubro 5, 2024

‘O objetivo do Irã com o ataque foi fazer um espetáculo para o mundo testemunhar’, diz pesquisadora

Lina Khatib, ligada à consultoria Chatham House, em Londres, diz que o Irã queria enviar uma mensagem muito clara e firme para impor respeito e ser visto como capaz de responder diretamente a Israel (após o ataque contra o consulado iraniano em Damasco)

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O Irã lançou um ataque sem precedentes contra Israel no sábado (13/4), em uma escalada da situação turbulenta no Oriente Médio. A ofensiva do Irã é uma retaliação ao ataque ao seu consulado em Damasco, na Síria, que matou comandantes militares iranianos no início deste mês. O ataque foi atribuído a Israel, embora o país não tenha assumido a autoria.

Após o ataque do Irã, Israel disse que, com a ajuda dos Estados Unidos, interceptou quase todos os mais de 300 drones e mísseis lançados pelo país. O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, afirmou que o confronto com o Irã “ainda não acabou”. Mas o Irã disse que o ataque “alcançou seus objetivos” e acrescentou que usará uma força maior força se Israel realiar.

Para entender o que pode acontecer agora em uma região que já é palco da guerra na Faixa de Gaza, a BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) conversou com Lina Khatib, pesquisadora especialista em Oriente Médio ligada à Chatham House, uma consultoria e centro de pesquisas em Londres.

BBC News Mundo – Porque é que o Irã fez este ataque agora?

Lina Khatib – Acredita-se que o objetivo do Irã com este ataque foi proporcionar uma espécie de espectáculo para o mundo testemunhar.

(A ofensiva) foi amplamente coreografada e bastante limitada. E até o próprio Irã emitiu uma declaração após o ataque em que dizia: “consideramos o assunto encerrado”, referindo-se à possibilidade de retaliação.

Isto mostra que o Irã queria enviar uma mensagem muito clara e firme para impor respeito e ser visto como capaz de responder diretamente a Israel (após o ataque em Damasco).

Mas é claro que o Irã não quer que a coisa se torne uma escalada de tensões.

Israel disse que “o confronto com o Irã não acabou”. Existe o perigo de qualquer um dos lados lançar outro ataque e escalar a disputa?

Estamos em um momento muito perigoso porque mostra a ‘audácia do Irã’, como descrito pelos políticos ocidentais.

Penso que o Irã é um país que se sente muito vulnerável militarmente diante de Israel e dos Estados Unidos, e essa vulnerabilidade traduz-se muitas vezes em ‘audácia’.

Portanto, não creio que este seja o fim das tensões entre o Irã e Israel e isto mostra a importância de os aliados ocidentais apresentarem uma estratégia abrangente contra o Irã.

A resposta ao ataque foi uma demonstração da capacidade do sistema de defesa aérea de Israel, que conseguiu interceptar a maioria dos mísseis e drones lançados por Teerã?

Sim. E Israel mostrou ao Irã que não está sozinho. A intercepção de mísseis iranianos no sábado dependeu em grande parte dos Estados Unidos e de seus aliados na região, como a Jordânia e o Egito. Isto foi muito bem demonstrado após o ataque e foi uma mensagem para Teerã. Da mesma forma, o Irã mostrou que possui um poder militar significativo, mas este poder não será suficiente para derrotar militarmente Israel.

Mas os Estados Unidos estariam dispostos a participar de um ataque contra o Irã se Israel decidisse realizá-lo?

Não creio que alguém esteja disposto a fazer isso. A resposta israelense já foi bastante firme. Mas também penso que se alguém foi recompensado pelas ações do Irão no sábado, foi o governo de Benjamin Netanyahu, que alcançou uma vitória importante ao defender com sucesso Israel após o ataque.

Alguns analistas afirmaram que foi Israel quem iniciou esta escalada de tensões com o ataque ao consulado iraniano em Damasco no início de abril. Você concorda?

Não. Este período específico (de tensões) faz parte do quadro mais amplo que começou em 7 de outubro com o ataque do Hamas a Israel. Pouco depois desse ataque, o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen e grupos apoiados pelo Irã na Síria e no Iraque também começaram a atacar Israel. Portanto, trata-se de um contexto mais amplo que vai além deste conflito.

Os Estados Unidos falam frequentemente em respeitar as leis e os sistemas jurídicos internacionais e, no entanto, Israel matou pessoas dentro de um consulado, com um ataque direto.

Me parece que Israel planejou habilmente um ataque que poderia ser considerado como não tendo violado qualquer lei internacional, porque o edifício que atacaram supostamente não foi designado como território oficial iraniano. Essa foi a justificativa que eles deram.

Infelizmente, neste contexto da guerra no Oriente Médio e em outros conflitos em geral, tem havido interpretações muito criativas do direito internacional e das leis em matéria de direitos humanos, que permitiram que todos os agentes continuassem a fazer tudo o que queriam.


O objetivo de alcançar algum tipo de estabilidade no Oriente Médio está mais distante agora do que nunca?

Completamente. Tanto a crise israel x palestina, um conflito que está em ebulição há décadas, como as intervenções do Irã que estão desestabilizando o Oriente Médio, mostram que o objetivo está mais distante.

Infelizmente, tanto o Reino Unido quanto os Estados Unidos e a Europa sempre ignoraram o papel desestabilizador do Irã porque se concentraram no programa nuclear iraniano. E agora estamos vendo as consequências de “fechar os olhos”.

E o mesmo aconteceu com o conflito nos territórios palestinos, que foi ignorado durante décadas sem que se tentasse encontrar uma solução. Portanto, a única forma de estabilizar a região é tentar resolver estas duas questões em conjunto.

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