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sábado, novembro 23, 2024

Carlos Bernardo ‘reencarna’ Ari Artuzi com força-tarefa para ajudar na catástrofe gaúcha 

CEO da UCP coordenou pessoalmente a coleta, depois a entrega de equipamentos e insumos aos desabrigados do Rio Grande do Sul

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O título pensado para este texto seria “Ari Artuzi cuspido e escarrado, Carlos Bernardo comanda força-tarefa nas enchentes do Rio Grande do Sul”. Nesses tempos de fake News, entretanto, em que poucos são os que têm autoconsciência linguística, melhor não brincar com coisa séria, em meio a uma catástrofe, até em respeito ao nosso personagem, que a princípio poderia se ofender, mas, ao final, se ufanar – e esta é a intenção, pela exemplar iniciativa. É que o dito popular remete ao nobre mármore esculpido em Carrara, utilizado na Roma Antiga na construção do panteão dos deuses. Ademais, pela dubiedade do provérbio, por muitos entendido como “esculpido e encarnado” em Carrara, o que remete ao tema da reencarnação do espírito, talvez mais apropriado para a comparação de Carlos Bernardo a Ari Artuzi.   

Uma das poucas diferenças entre ambos é que Ari Artuzi, o caminhoneiro que virou mito da política em Dourados, era pobre, muito pobre. Carlos Bernardo, além de rico e poderoso é tão ou até mais excêntrico que Artuzi. Até no jeitão de falar. Artuzi era semianalfabeto. Talvez por isso tenha entrado na enrascada que abreviou sua meteórica carreira política e a própria vida. Carlos Bernardo, além de quase doutor-médico é também um quase poliglota. Aliás, quando aflora esse lado ele fica ainda mais parecido com o fenomenal ex-prefeito douradense. Seu portunhol só não é melhor que o “ajuda eu” que soava mais como um pedido de socorro do que de votos, propriamente, para Artuzi, mas, pelo inusitado do socorro que está prestando às vítimas da tragédia gaúcha, Carlos Bernardo pode, sim, vir a ocupar o lugar de Artuzi no panteão dos mitos da política de Dourados e do Mato Grosso do Sul.

Carlos Bernardo ‘reencarna’ Ari Artuzi com força-tarefa para ajudar na catástrofe gaúcha 
“Exército” de Carlos Bernardo a caminho do Rio Grande do Sul (foto: UCP)

Pela maneira como vem se inserindo nesse contexto, inclusive já tendo disputado uma eleição para deputado federal, mas só para aprender o caminho das pedras, Aparecido Carlos Bernardo só precisava de uma boa oportunidade mostrar seu poder de fogo. Muito mais que isso, e aqui entrando no tema que é a especialidade deste site, para mostrar que tem o perfil ao qual me referi num texto recente, para se tornar no grande líder político que a cidade e a região tanto precisam. Perfil que além de competência exige determinação, atitude, ousadia e, acima de tudo, sentimento humanitário. Lembrando, a propósito, que Bernardo tem negócios na fronteira, mas reside em Dourados, onde tem seu grupo de amigos, com os quais gosta de se reunir em regabofes que em muito lembram os fartos tempos Zé Elias.

Por mais paradoxal que possa parecer, a semelhança com o caminhoneiro que virou prefeito não é aleatória, podendo-se até dizer que o CEO da UCP é uma das crias de Artuzi, como gosta de dizer o decano do jornalismo fronteiriço, João Natalício de Oliveira, já que atuou, ainda como “pastinha” da publicidade, na campanha que elegeu o “animal de pelo curto” (no dizer de André Puccinelli) prefeito de Dourados.

Carlos Bernardo ‘reencarna’ Ari Artuzi com força-tarefa para ajudar na catástrofe gaúcha 
Carlos Bernardo organiza a distribuição de donativos na chegada ao Rio Grande do Sul (foto: UCP)

Daí à dispensa do contraponto, antes que se diga que Bernardo só está fazendo isso por interesses outros, o político inclusive, sem levar em consideração o preceito bíblico que reza “que não saiba sua mão direita o que fez a mão esquerda”. Até porque sua missão extrapola o personalismo. Tudo o que está fazendo é em nome da UCP (Universidade Central do Paraguai). Quantos outros dirigentes de Universidades – as brasileiras, principalmente – muitos que têm ou já tiveram mandatos políticos eletivos que simplesmente cruzam os braços em situações como essa?

Se Carlos Bernardo tira ou não proveito político dessa tragédia é o de menos, levando-se em conta a abundância não apenas das águas do Vale do Taquari que fizeram transbordar o Guaíba, com um ainda incalculável número de vítimas e de cidades inteiras levadas, literalmente, água abaixo. O que importa é a atitude de um empresário milionário ao sair de sua zona de conforto para montar uma força-tarefa que fez questão de comandar pessoalmente até o Rio Grande do Sul. Transparente como costuma ser nas redes sociais, onde muitos candidatos gostam de ficar de frufru, inclusive aproveitando a tragédia para demagogia política, Bernardo não escondeu nem mesmo o desconforto familiar, deixando apreensivas a jovem esposa grávida e a filhinha aos prantos, preocupadas com os riscos de sua missão.

Ari Artuzi começou a virar mito quando, já vereador, pegou uma picareta e foi às ruas para arrancar os tachões das ciclofaixas implantadas pela administração do prefeito Laerte Tetilha. Como prefeito, mostrou atitude ao colocar o governador André Puccinelli em cima de uma caminhonete e se embrenhar no brejo do Jaguapiru para definir o traçado da Perimetral Norte de Dourados, depois de ameaçar abrir ali uma picada para desafogar o tráfego pesado do centro da cidade caso o governo estadual não tomasse uma providência.

Carlos Bernardo ‘reencarna’ Ari Artuzi com força-tarefa para ajudar na catástrofe gaúcha 
Carlos Bernardo conferindo carregamento de água a ser distribuído pela UCP à população gaúcha (foto: UCP)

Carlos Bernardo, lá na pequena Pedro Juan Caballero, arrecadou tudo o que os gaúchos mais precisam nesse momento, água, comida, agasalhos, equipamentos e arrebanhou gente. Um pequeno exército, cerca de cem colaboradores de sua Universidade, entre mecânicos, eletricistas, motoristas, tratoristas, enfermeiros e médicos. Todos embarcados em viaturas da UCP, caminhonetes, carretas, sua frota de aviões e até o ônibus do time de futebol por ele também dirigido, o 2 de Maio, que disputa a primeira divisão do futebol do Paraguai.

Ironicamente Ari Artuzi foi banido da política pela operação Uragano, alguma coisa parecida com furacão, na linguagem dos ancestrais asiáticos. Não menos irônico que Carlos Bernardo possa emergir da tragédia gaúcha para outros salvamentos, em terra firme. Até para que se evite, por aqui também, profecias como a do jornal “A E´poca”, de Caxias do Sul, há exatos 83 anos.

Carlos Bernardo ‘reencarna’ Ari Artuzi com força-tarefa para ajudar na catástrofe gaúcha 
Fac-símile do jornal da época da primeira tragédia do Rio Grande do Sul (arquivo do médico Luiz Machado)
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