Uma das boas lições que tive no meu curso itinerante de jornalismo (e lá se vão 54 anos, redondos, amanhã), foi na redação da Folha de Londrina, durante uma das muitas idas a trabalho à capital do café do Paraná. Num mural, várias manchetes do dia dos dois maiores jornais da cidade. Sobre o mesmo assunto, a Folha estampando manchetes afirmativas, o concorrente, “O Panorama”, interrogativas. Foi lembrando disso, na linha do contraponto, que resolvi abrir uma exceção, estampando uma manchete interrogativa: “Mas será (o Barbosinha) o Benedito?” – de quarta-feira passada aqui na coluna “Bastidores”.
Não que haja, ainda, alguma dúvida sobre aonde (não) vai desembocar a sucessão do prefeito Alan Guedes. Principalmente, depois de ouvir de viva voz e presencialmente de um dos cérebros do entorno tucano uma frase com o contraditório de tudo o que rola nos bastidores governistas, dando o tom da mesma interrogação sempre evitada em títulos pela Folha de Londrina, ao admitir o que para eles seria o imponderável, com a afirmação óbvia, mas de forma peremptória, a de que em Dourados, pelas peculiaridades de seu eleitorado “a eleição a gente sempre sabe como começa, nunca como termina”.
Daí a intuição ao abrir a porta de minha sacada nessa manhã fria e de garoa na terra de seu Marcelino e tentar ver se estava saindo alguma fumaça branca do famoso “prédio das araras”, de onde, há exatos 8 dias, não sai mais nem o famoso “alô você”. Não, não é pegação no pé. Nada aleatório, só decorrência do inusitado de uma das mais corriqueiras gafes do dia a dia nas redes sociais.
Logo após enviar em minha lista de contatos a chamada da coluna Bastidores do “Mas será (o Barbosinha) o Benedito?”, que traduzia o último fio de esperança dos descontentes do ninho tucano e seu entorno, mandei também um “áudio” igualmente sepulcral. Foi o bastante para uma enxurrada de retornos, o que me obrigou a explicar a mensagem “mudinha”.
O deputado federal tucano Geraldo Resende foi o primeiro a responder, dizendo que concordava “com todo o conteúdo”. Até aí nem minha ficha havia caído, mas, como sempre orgulhoso por ter um leitor tão ilustre, mandei um emoji de agradecendo, na certeza de um repique que ajudaria a aferir minha direção nessa narrativa. E lá veio a resposta, de uma dubiedade que serve como reflexão, mas do jeito tucano de ser, com o devido reparo: “concordo com o conteúdo do áudio”.
Não menos irônico, o vice-governador Barbosinha disse: “não sei o que é isso”, mas sem perder a deixa de “tirar uma casquinha” do imbróglio, já que não esconde de ninguém seu sonho de administrar Dourados.
O jornalista da Folha de Dourados, Ricardo Minella, foi na mesma direção: “Valfrido, Valfrido… você está mexendo com coisa muito séria…”. E assim vários outros amigos/contatos, aproveitando para entrar na onda do que é o assunto preferido nos bastidores da política douradense nessa fase que antecede as convenções. Como sempre hilário, o também pré-candidato a prefeito Archimedes Ferrinho Lemes Soares, não se sabendo se também entrando ou não no clima, mas, de qualquer forma com um áudio muito oportuno para essas ocasiões: “Som, som, testando, som!”.
Para aumentar ainda mais o clima de suspense, um release da assessoria da deputada Lia Nogueira, que chegou neste domingo, 24 horas após a realização de um encontro de formação política para os filiados do PSDB, promovido pelo Instituto Teotônio Vilela, sábado de manhã no Clube Indaiá. Mesmo mostrando o resultado de um evento chamado “Força Tucana”, nenhuma menção ao nome do provável pré-candidato Marçal Filho, que, pelas circunstâncias, deveria ser a estrela do encontro. Ou seja, silêncio sepulcral.
Nada a estranhar para um pré-candidato cuja assessoria tem sua eleição como favas contadas. As mesmas cabeças pensantes que achavam o mesmo nas campanhas de Geraldo Resende, que perdeu para Délia Razuk, e de Barbosinha, que perdeu para Alan Guedes. Que se lembre, com apoio do então todo-poderoso governador Reinaldo Azambuja, nas duas ocasiões, o mesmo que sábado no Indaiá aparece (foto abaixo) de mãos dadas com Lia Nogueira, ao lado de um elegante, mas aparentemente acabrunhado, Marçal Filho.