Olimpicamente ignorado nas últimas eleições como profissional do marketing eleitoral (só porque insisto no contraponto aos políticos que fazem xixi fora do penico), pulei da cama cedo nesta sexta-feira para ver de perto o resultado do trabalho dos privilegiados colegas. Pensei, inclusive, em esticar a rodada de cerveja semanal com meus filhos até meia noite, para ver de longe a tão propagandeada largada da campanha de reeleição do prefeito Alan Guedes, marcada exatamente para os onze minutos desta madrugada, mas a preciosidade da minutagem para coincidir com o número de seu partido me remeteu ao livro “Onze Minutos”, de Paulo Coelho, um conto de fadas moderno, melancólico e sensual narrando a história de Maria, uma brasileira que sai de casa ainda jovem determinada a entender o papel do sexo nas relações amorosas, disso tudo o nosso mago da literatura concluindo com exatidão o tempo considerado como razoável para se chegar ao orgasmo – exatamente onze minutos. Convenhamos, muito pouco para quem deseja muito mais.
Ponto de parada, claro, a padaria do fuxico político. O único carro adesivado não era de nenhum candidato, mas de um dos personagens mais envolvidos no processo eleitoral, pela dúbia condição de colega de trabalho de Marçal Filho, nos estúdios da 94 FM, e guru de Alan Guedes – o radialista Bronka. Adesivo, que se diga, de sua condição de repórter policial. E foi como tal, por sua competência profissional que foi escolhido por Alan Guedes para seu mestre de cerimônias na campanha passada, depois na prefeitura, o que gerou um vínculo de afeição e companheirismo. Tanto assim que Bronka esteve por muito tempo na bolsa de apostas como eventual candidato a vice-prefeito de Alan.
Antes disso, ao ligar o celular, às cinco da matina, um zap de um amigo com a foto do filho, candidato, num santinho digital. De braços cruzados. Na padaria, outro amigo, este o próprio candidato, todo faceiro, também, com seu santinho. Da mesma forma, de braços cruzados. Ambos, pelo menos oficialmente, do mesmo palanque, o que se deduz que a produção e direção de fotografia são do mesmo estúdio, da mesma mente “brilhante”.
A menos que esses dois candidatos estejam mandando um recado ao pessoal da famosa mala-preta, já dando o ritmo da campanha: todo mundo de braços cruzados, pelo menos enquanto a dita-cuja não chega. Pior, pelo que corre nos bastidores, os primeiros contemplados já avisaram que a grana não dá nem pro cheiro. Disso pressupondo-se, já de cara, o tão temido estouro de boiada, que sempre ocorre na reta de chegada, faltando quinze dias, uma semana para o dia D.
Isto porque é inimaginável que por mais fraquinho que seja o profissional contratado para cuidar da imagem desses pobres coitados (os candidatos a vereador), o cidadão não tenha as mais elementares noções de linguagem corporal, de fundamental importância para quem se apresenta como candidato a um cargo eletivo. A linguagem corporal complementa as palavras e ajuda a moldar a percepção dos eleitores sobre o camarada da foto. Gestos, postura e expressões faciais podem comunicar confiança, sinceridade, autoridade ou, por outro lado, insegurança e desinteresse, mesmo sem o candidato dizer uma palavra.
Assim, quando um candidato é fotografado de braços cruzados, isso pode passar várias mensagens, dependendo do contexto. Em geral, braços cruzados são interpretados como uma postura defensiva ou de fechamento. Pode sugerir que a pessoa está se protegendo ou se sentindo desconfortável, o que pode ser visto como um sinal de falta de abertura ou acessibilidade. Em raríssimas exceções pode até transmitir confiança e autossuficiência, mas isso geralmente depende da expressão facial e do contexto geral da imagem, o que não é caso dos personagens aqui citados. Tanto nas fotos como pessoalmente, o acabrunhamento é amplo, geral e irrestrito.