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sábado, novembro 23, 2024

O paradoxo de Pinóquio e as pesquisas eleitorais

Nunca antes na história se mentiu tanto numa campanha eleitoral em Dourados como agora

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Depois de uma noite infernal, certamente acometido por todos os vírus da moda — incluindo aquele da “gripezinha”, como Bolsonaro se referia à Covid — acordando de meia em meia hora para tossir feito um cachorro louco, fui tirado da cama por um zap do ex-prefeito Braz Melo. Cá com meus botões, imaginei que ele fosse me pressionar por conta das charadas de ontem nas redes sociais ou pelo post que fiz na sequência, uma coisa completando a outra. De máscara, lá fui eu para a padaria do fuxico. Mas não, era só mais uma chantagem emocional do amigo, no que Braz é craque quando se trata de pedir votos.

Conversa vai, conversa vem, sobre o assunto do momento — ele continua me achando um cara difícil —, recheada de reminiscências, com belos exemplos de grandes políticos que se foram, como os ex-prefeitos João Totó Câmara e José Elias Moreira, além do médico “comunista” Archiduque Fernandes. Foi aí que encontrei a inspiração que faltava para o tema de hoje: a guerra de narrativas que pode decidir a sucessão do prefeito Alan Guedes.

Na saída, me acompanhando até o carro, como sempre faz, Braz me entregou discretamente um maço de santinhos da filha Gisella, que até hoje me chama de tio — conheci-a quando era menininha, ainda Silva Melo (o que, nessas horas, o pai faz questão de lembrar). Depois de casada com o ex-vereador Mané Dourado, ela se tornou a bem-sucedida empresária Gisella do Braz. O pai, tão bom marqueteiro, que, ao começar a escrever este texto, resolvi conferir o material: quinze santinhos, caprichosamente contados — ou não —, o número do MDB, partido pelo qual a filhota tenta conquistar uma das cadeiras do Jaguaribe.

Mas o que isso tem a ver com o paradoxo de Pinóquio, o resultado gerado por um conflito de lógica baseado na famosa história infantil do boneco esculpido de um tronco de pinheiro, cujo nariz crescia sempre que ele contava uma mentira? Tudo! Braz Melo é o maior exemplo de como uma mentira pode mudar o rumo de uma eleição. Não no sentido das que, contadas mil vezes, acabam virando verdade, como dizia Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista de Hitler, mas aquelas que fazem o peão cair do cavalo — candidatos com discursos rasos, principalmente beatos, que usam o nome de Deus em vão. Por isso, meus caros leitores e leitoras, preciso fazer mais um parágrafo, para deixar tudo bem claro.

Na emblemática eleição de 1988, em que Braz venceu José Elias Moreira por 41 votos na controversa urna 185, do Parque das Nações II, por muito pouco ele não pôs tudo a perder durante o último debate, na TV Morena, que se diga. Isso porque deixou de ouvir seu marqueteiro (este que vos escreve, o mesmo que acompanhou Zé Elias pari passu no primeiro mandato de deputado federal), para não cutucar o diabo com a vara curta. A história era que o adversário havia votado contra a educação e a reforma agrária na Constituinte. Não deu outra: o desmentido de Zé Elias foi devastador, contundente, de dedo em riste. Braz acabou eleito, mas por um milagre de “são” Marcelo Miranda, operado no dia da eleição, em que Dourados amanheceu coberta com as cores do emedebista. Mesmo assim, até hoje Braz carrega o trauma dessa história de Pinóquio.

Agora, como diria o presidente Lula, amigo de Tiago Botelho, nunca antes na história da terra de seu Marcelino se mentiu tanto numa campanha eleitoral, o que nos leva à conclusão de que este será o parâmetro do eleitor na hora do voto. Mentiras que começam com as famigeradas pesquisas, useiras e vezeiras na manipulação que enoja o eleitorado douradense. Voltando à eleição vencida por Braz Melo, Zé Elias, assim como Marçal Filho agora, largou com 64% contra 7% do adversário. Depois veio Humberto Teixeira, o azarão, derrotando o candidato do popularíssimo Braz Melo, o engenheiro Antônio Nogueira, também contrariando todas as pesquisas. Aí veio Ari Artuzi, o fenômeno, derrotando o favoritíssimo e todo-poderoso vice-governador Murilo Zauith, até chegarmos a Délia Razuk e Alan Guedes, já na era Azambuja, humilhando nas urnas os candidatos do “esquemão” governamental (os também favoritos, segundo as mesmas pesquisas, Geraldo Resende e Barbosinha) que hoje “opera” para Marçal Filho.

Na mesma linha do indecoroso título do post anterior, da rima da praga de urubu que cai… “no mesmo lugar”, mentiras também vêm do governo do PT, que alavanca a candidatura de Tiago Botelho. Ora, gastar milhões com publicidade na TV para mostrar que o governo federal entregou um sem-número de obras na região — entre elas, o aeroporto de Dourados “que voltou a funcionar”, com o áudio coberto pela imagem de um Boeing decolando — é uma afronta à inteligência do eleitor, mesmo daqueles da “Vila Querosene”. Por mais paradoxal que seja a comparação da Vila Santa Felicidade, o bairro mais pobre da cidade, com o combustível usado pela aviação.

Mentiras também da candidata bolsonarista a vice-prefeita de Marçal Filho, a beata Gianni Nogueira, sobre a falta de insumos e outros problemas na saúde municipal, seguindo a linha do caos pregada pela deputada Lia Nogueira, já desmentida pelo prefeito Alan Guedes judicialmente. E há ainda as mentiras estocadas para o próximo mandato, caso Alan Guedes seja reeleito, prometendo o céu na terra aos professores — algo que, se fosse verdade, já deveria ter sido feito há tempos, para não perder esse precioso quinhão do eleitorado.

O pior de tudo é a miopia eleitoreira que joga a autoestima dos douradenses para baixo. Dizer que Dourados está um caos é a maior de todas as mentiras. “Só não vê quem não quer”, como dizia a propaganda com que o governador Zeca do PT ajudou a reeleger o companheiro Tetila em 2004, ao se referir à importância do alinhamento entre o governo do estado e a prefeitura. Da mesma forma agora: não é mentira que Alan Guedes foi um dos principais avalistas da eleição de Eduardo Riedel. E se o governador está no palanque de Marçal Filho, é apenas por uma questão partidária, que acaba no dia da eleição. Se houve caos, foi na administração anterior, quando o Ministério Público e a polícia faziam visitas rotineiras à equipe da prefeita Délia Razuk, hoje apoiadora de primeira hora de Marçal Filho. Desnecessário, a propósito, repisar o caos uragânico da era Artuzi, e seria ingenuidade acreditar que o eleitor não vê em qual palanque estão os protagonistas de sempre.

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