A eleição de Isa Marcondes, a autodenominada “Cavala”, como a vereadora mais votada de Dourados, é um verdadeiro marco de transformação e choque para uma cidade tradicionalmente considerada provinciana. Isa não só conquistou corações e mentes com seu carisma, mas também conseguiu fazer isso quebrando todos os estereótipos possíveis. Ela é dona de uma “casa noturna” e chegou ao Palácio Jaguaribe com um slogan que beira o cômico, mas toca em uma ferida aberta: “Dourados está uma zona e de zona eu entendo. Vamos acabar com a roubalheira.” Uma jogada ousada, que mescla crítica política com autoconfiança.
O sucesso de Isa reflete um lado progressista do eleitorado de Dourados que poucos imaginariam existir. Em uma eleição em que o segundo mais votado, o vereador Franklin Schmalz da Rosa, do PT, também é um ambientalista e representante da comunidade LGBTQIA+, a mensagem é clara: parte da população de Dourados quer mudança, quer diversidade, quer pluralidade.
Mas a realidade é sempre mais complexa do que parece. A vice-prefeita eleita, Gianni Nogueira, uma líder evangélica, representa o outro lado da moeda, mais conservador, e tem um histórico de desentendimentos com Isa. Ela e o marido, deputado Rodolfo Nogueira, são apontados como responsáveis “expulsão” de Cavala do PL, sob alegações de preconceito. Essa tensão é um reflexo das muitas cidades brasileiras onde a modernidade e o conservadorismo vivem em um delicado equilíbrio.
Isa, agora, tem pela frente um grande desafio: debater e enfrentar figuras como o pastor evangélico Sérgio Nogueira, reeleito vereador, conhecido por suas posturas homofóbicas durante o mandato. O embate entre os dois promete render discussões acaloradas no plenário, com Isa e Franklin representando uma força progressista em meio a uma estrutura política que ainda carrega fortes traços conservadores.
O interessante dessa eleição é que, enquanto as forças religiosas e tradicionalistas ainda têm poder na cidade, a presença de figuras como Isa e Franklin mostra que Dourados está mudando. Há uma abertura para o novo, para a diversidade e para a aceitação de pessoas que, até pouco tempo atrás, eram marginalizadas ou silenciadas.
A vitória de Isa Marconces é um tapa na cara do preconceito e um exemplo de como o Brasil, mesmo em suas cidades menores e aparentemente mais conservadoras, está cada vez mais disposto a abraçar o diferente, o autêntico e o plural. E, claro, não há como negar que sua campanha foi brilhantemente irreverente, com aquele toque de ironia que só alguém com a vivência e a bagagem de Isa poderia trazer. Agora, resta ver como ela vai “acabar com a roubalheira” e se posicionar no campo minado da política local. Uma coisa é certa: Dourados nunca mais será a mesma.