Na fase final desta campanha, em que, discretamente, foi uma grande âncora da chapa petista, a deputada Gleice Jane fez um manifesto cobrando mais visibilidade para as mulheres nos planos de governo de todos os candidatos à prefeitura. Professora, sindicalista e uma das mais aguerridas militantes do partido do presidente Lula em Dourados, a deputada acabou ganhando maior visibilidade política, fortalecendo-se para um segundo mandato na Assembleia Legislativa. Embora ela não fale abertamente, vê essa projeção como um trampolim para, um dia, ocupar a cadeira de prefeito – agora conquistada por Marçal Filho, mas que, por oito anos (2001-2009), “foi dignamente ocupada pelo companheiro Tetila”, o também discreto colega professor de todos os petistas. Tetila, que humildemente emprestou seu nome como candidato a vice-prefeito na chapa do professor Tiago Botelho, cujo projeto é ser candidato a deputado federal, para ficar mais próximo do amigo Lula.
Assim, por sua condição hierárquica como a maior liderança do PT em Dourados, além de ajudar o colega professor Botelho a ter uma performance melhor do que a apontada nas pesquisas, tirou o companheiro Elias Ishy da solidão política em que ele se encontrava no Jaguaribe desde os tempos áureos de Biasotto, Tetila e João Grandão. Isto, pela participação decisiva na eleição do mais jovem vereador da história de Dourados, Franklin Rosa, o ambientalista e legítimo representante LGBTQIA+, além de conseguiu emplacar a indígena Cris Terena como primeira suplente.
Em uma cidade marcadamente bolsonarista, impulsionada pela força do agronegócio, e com o governo Lula ainda enfrentando dificuldades, o avanço eleitoral do PT, com a chapa majoritária Tiago Botelho-Laerte Tetila, é expressivo. Os 17.845 votos – ou seja, 14,48% da intenção de voto do eleitorado douradense – representam o dobro do que o partido obteve em seu auge, na eleição de Tetila em 2000.
Amigo de Lula, Tiago Botelho não esmorece e reafirma que esta eleição marcou a reconstrução do PT em todo o país: “Nós construímos novas lideranças e disputamos essa eleição contra o poderio econômico de um lado, e contra o uso da própria máquina pública, de outro”, lembrou. Em um texto publicado ontem nas redes sociais, Botelho divulgou o demonstrativo de gastos declarados oficialmente pelos adversários, justificando, assim, a desvantagem que enfrentou.
Em outro texto, Botelho desejou sorte ao prefeito eleito: “Diferente de muitos da extrema direita, que, ao perder uma eleição, procuram um culpado, eu jamais farei isso. Marçal Filho é o prefeito eleito. Desejo-lhe todo o sucesso e que ele tenha sabedoria, diálogo e compromisso com o povo”.
Mirando o futuro, Botelho afirma: “Nós viemos para ficar e organizar um campo político forte e representativo em defesa da nossa cidade e das pessoas. Dourados tem que ser boa para todo mundo”.
Dependendo do futuro do governo Lula, o PT já está mapeando as eleições de 2026. Uma peça-chave desse plano é a candidatura ao Senado do deputado federal Vander Loubet, hoje a figura mais expressiva do partido no estado. Como herdeiro natural dos votos de Loubet, principalmente na Grande Dourados, o ex-deputado João Grandão poderia retornar triunfalmente à Câmara Federal, levando consigo o companheiro Tiago Botelho.
Com isso, Gleice Jane teria uma reeleição tranquila, com tempo de sobra para promover suas propostas na Assembleia, especialmente aquelas que dão mais visibilidade às mulheres, povos originários, quilombolas e LGBTQIA+. Mais realista do que Botelho em relação à administração de Marçal Filho, ela questiona: “O que esperar? Vamos ter políticas sérias?”. Em um tom mais pessimista, Gleice admite que, pela primeira vez, saiu de uma eleição sem saber o que esperar do eleito. E, com a autoridade de seu mandato, falando em nome dos vereadores eleitos, ela manda um recado direto: “O que eu sei é que a oposição será qualificada”.