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segunda-feira, outubro 21, 2024

De olho no eleitor de Marçal, Nunes e Boulos miram virada de voto na periferia

Com anúncios nas redes sociais, programas de rádio, eventos e parcerias com vereadores, candidatos buscam melhorar desempenho do primeiro turno, sobretudo na Zona Leste

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Diante da desafiadora tarefa de conquistar votos dados ao ex-coach Pablo Marçal (PRTB) e de melhorar o desempenho onde a disputa foi mais acirrada no primeiro turno, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), vêm ajustando a mira das ações de campanha e propagandas nesta etapa da corrida à prefeitura de São Paulo. A estratégia é investir de forma cirúrgica em determinados bairros — numa tentativa de conquistar eleitores em locais onde eles saíram derrotados em 6 de outubro e tentar virar o jogo.

Boulos foi mais bem votado em bairros do Centro expandido, como a Bela Vista, na Zona Oeste e em poucos bairros da Zona Sul. O pior resultado foi registrado justamente na maior parte da Zona Leste, que agora concentra seus anúncios segmentados por bairros. Nunes também tem focado na região, onde não venceu em nenhuma zona eleitoral, e na Zona Noroeste. O principal trunfo do prefeito foi a Zona Sul, sendo Pedreira e Capela do Socorro os locais com maior vantagem.

O jornal O Globo analisou dezenas de anúncios pagos pelos candidatos nas redes sociais e constatou que quase metade do investimento de Boulos é direcionado a localidades como Itaim Paulista, São Mateus e São Miguel Paulista, na Zona Leste, e, em menor escala, Freguesia do Ó, na região Norte da cidade. Nunes, por sua vez, tem veiculado um volume menor de anúncios, mas chama atenção o conteúdo ideológico e o fato de também estarem voltados para distritos onde Marçal se saiu melhor do que ele e o psolista.

A biblioteca de anúncios mostra ainda que o candidato do PSOL direcionou promessas de construir casas para trabalhadores de aplicativo, apoiar o pequeno empreendedor, oferecer educação em tempo integral e viabilizar um hospital da mulher, entre outros conteúdos, para as regiões mais afastadas na Zona Leste da cidade. A candidata a vice de Boulos, Marta Suplicy (PT), também foi convocada para as gravações direcionadas a alguns bairros, como Guaianases, onde foi inaugurado um dos primeiros Centros Educacionais Unificados (CEU) na sua gestão como prefeita.

Na semana passada, as propagandas segmentadas ativas nas contas de Boulos no Facebook e no Instagram tinham consumido pelo menos R$ 85 mil. Em posição mais confortável nas pesquisas, Nunes vem investindo menos. O anúncio direcionado ao eleitorado de Pablo Marçal custou R$ 2 mil e traz um discurso conservador feito no debate da Band, no qual acusa Boulos de ter sido favorável à legalização das drogas e à desmilitarização das polícias.

O direcionamento do discurso do prefeito fica mais evidente em outras mídias. A Zona Leste, por exemplo, ganhou um programa de rádio exclusivo no horário eleitoral gratuito, na segunda-feira (14). Na peça, há um jingle especialmente feito para a região, citando bairros como Vila Curuçá, São Mateus, São Rafael, Iguatemi, Aricanduva, Penha, Cidade Tiradentes e Sapopemba, entre outros.

“Alô, Zona Leste, entregamos muitas obras aí. Eu já licitei e dei início às obras no BRT Radial-Leste”, diz o prefeito na peça. A demora na construção do corredor de ônibus tem sido alvo de críticas de Boulos. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) também aparece no programa do aliado citando projetos de habitação e saneamento básico nos bairros de Guaianases e Itaim Paulista, duas zonas eleitorais onde Boulos se saiu melhor. No primeiro, o psolista teve 32,6% dos votos contra 27% do emedebista, enquanto no outro bairro houve quase um empate entre o prefeito e o deputado.

Nunes também conta com o reforço de vereadores na estratégia de dialogar mais com a periferia da cidade, o que ajuda a evitar migração de votos para o psolista. Dois dias após a primeira votação, o prefeito se reuniu com os parlamentares da legislatura atual, além de candidatos eleitos, e pediu que se mantenham engajados na tarefa de fidelizar os votos.

Líder do governo Nunes na Câmara Municipal, Fábio Riva (MDB) diz que esse trabalho segmentado é “importantíssimo” e que os vereadores são peça fundamental por já serem mais próximos e conhecidos da população.

— Em Perus, por exemplo, onde eu fui mais votado, o prefeito está fazendo uma importante obra de contenção de enchentes, e meu trabalho é passar essa informação para a população — diz o parlamentar, que recebeu 44,6 mil votos, a maioria na região Noroeste da cidade.

Nessa área, Nunes perdeu tanto para Marçal como para Boulos. O ex-coach levou a melhor em Pirituba, enquanto o deputado saiu vitorioso em Perus e Jaraguá.

Competição intensa

Para o cientista político Eduardo Marques, diretor do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) da Universidade de São Paulo, houve uma competição muito intensa dos votos na cidade no primeiro turno e, por mais que Boulos, Nunes e Marçal tenham vencido em alguns bairros, a diferença de votos foi pequena entre eles em praticamente todos.

A principal novidade este ano, avalia Marques, é o apelo que Marçal teve no primeiro turno no miolo da Zona Leste, incluindo os bairros mais pobres:

— Acredito que esse resultado vem do discurso do Marçal muito endereçado ao público sem trabalho formal, a essas pessoas com vínculo mais frágil com o mercado de trabalho e que se enxergam como empreendedores, mas que, na verdade, são trabalhadores precarizados.

Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira mostra cenário amplamente favorável a Nunes na tarefa de angariar votos de Marçal. O instituto aponta que 77% dos eleitores do influenciador pretendem migrar o voto para o prefeito no segundo turno, contra 8% que optam por Boulos.

No caso do eleitorado de Tabata Amaral (PSB), que ficou em quarto lugar, 52% preferem Boulos e 27%, Nunes. O levantamento geral coloca o prefeito com 51% das intenções de voto e o deputado com 33%, com brancos e nulos somando 14%.

Hyundara Freitas e Samuel Lima/O Globo — São Paulo

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