Na esteira da série de reportagens “Sonhos Americanos”, exibida pela Rede Globo de Televisão às vésperas das eleições presidenciais dos EUA, ou talvez em consequência do envolvimento em uma Feira Cultural promovida pelo meu curso de Inglês da UFGD no último fim de semana na Praça Antônio João, os algoritmos da calada da noite me fizeram interceptar – e interpretar – um telefonema interessante: o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ligando para o ex-presidente Jair Bolsonaro, agradecendo pelo apoio do “mito & Cia.” em sua eleição. Um aviso provocador daquele que volta a ser o homem mais poderoso do mundo a partir de janeiro para aquele que já se acha, se não o mais poderoso, ao menos o mais popular: Luiz Inácio Lula da Silva, que durante a campanha americana chegou a afirmar que a eleição de Trump representaria “a volta do nazismo com nova cara.”
— “Bom dia, mito! Muito obrigado apoiar meu eleição. Ligando para convidar meu posse. Venha com meninos, por favor”, disse Trump, arranhando o português.
Devolvendo a cortesia, Bolsonaro respondeu em seu inglês macarrônico:
— Myth is Your Excellency, great planetary leader. Congratulations on the great victory; this time you didn’t even need to blame the polls or order an invasion of the Capitol, right… ah, ah, ah! (Mito é V. Excia., grande líder planetário. Parabéns pela grande vitória, dessa vez nem precisou acusar as urnas nem mandar invadir o Capitólio, né… ah, ah, ah!)
Trump interrompe:
— Falar de urna, e aquele barbudo fdp, como vocês dizem aí, agora espera ver quem parecer Hitler.
Bolsonaro continua com seu inglês improvisado:
— Well, the nine-fingered son of a bitch is now saying that if I’m a candidate, he’ll run again. But for that to happen, we have to find a way to deal with Xandão. (Pois é, o fdp nove dedos agora tá dizendo que se eu for candidato ele vai disputar de novo, mas, pra isso, temos que dar um jeito no Xandão).
Trump, confuso, pergunta:
— O que ser Xandon?
Bolsonaro explica:
— The bald guy from the STF, the one who closed his friend Musk’s X here in Brazil. The guy won’t leave me alone. (O careca do STF, aquele que fechou o X do seu amigo Musk aqui no Brasil. O cara não larga do meu pé).
Trump promete:
— Eu mandar o FBI cuidar dele.
E, num arroubo, sem imaginar que Bolsonaro pudesse estar sem tradutor ao lado, mandou um recado, como se falasse com o próprio Alexandre de Moraes, o ministro do STF que é o “terror” do bolsonarismo:
— “You can write.” (Você pode escrever).
Para impressionar ainda mais, Bolsonaro arriscou uma gíria em inglês:
— “No cap?” (Sério mesmo?).
Trump, fazendo-se de desentendido, mudou de assunto:
— Ah, além dos meninos, poder trazer também “Cavala” à posse? Ela ser muito diferente…
Foi a vez de Bolsonaro, gozador, fazer-se de desentendido:
— Who is mackerel? (Quem é Cavala?).
Trump, confirmando seu interesse e mostrando o quanto as redes sociais ampliam horizontes, brincou ensaiando um sotaque mineiro:
— Uai, sô, tô falando daquela moça mais votada aí em cidade de seu Gordinho. Quando for Brasil, querer conhecer cabaré dela. Aqui, o FBI fica de olho presidente; não poder pular cerca, como dizem vocês.
Com Trump partindo para as intimidades, Bolsonaro não perdeu a pose e aproveitou para uma puxada de saco básica:
— Ah ah ah, handsome! (bonitão).
Em seguida, disse a Trump que, no assunto “cavalinhas”, o Gordinho (deputado Rodolfo Nogueira) era especialista. No entanto, advertiu sobre a dificuldade da empreitada, já que agora a mulher do Gordinho, Gianni Nogueira, que é beata, foi eleita vice-prefeita na mesma chapa que Cavala, a menos que Trump sugira uma agenda paralela para a primeira-dama americana Melania com ela em Bonito, já que Janja não acompanharia essa visita inusitada.
Trump concordou, mas antes quis saber se as “cavalinhas” eram do mesmo padrão das americanas com as quais ele já se complicou.
Bolsonaro fez apenas um reparo:
— “No horses, Mr. President, all fillies, American standard, according to the fat guy.” (Cavalinhas não, senhor presidente, todas potrancas, padrão americano, segundo o gordinho).
Antes de desligar Trump tira uma última dúvida, o que leva a crer que sua obsessão em conhecer Cavala, suas potrancas e seu bordel despertou nele maior interesse em conhecer a terra de seu Marcelino, estando já inteirado da embromação nas obras de reforma do aeroporto “José Leitão”:
— “Garantir pousar Dourados o Air Force One?” (o avião presidencial dos Estados Unidos).
Bolsonaro concluiu, garantindo, ainda em inglês:
— Yes! I can’t criticize the officers who did that shit in Dourados during my government, after all I’m no longer the supreme commander of the Armed Forces; I’m back to being just a retired and insubordinate captain. But with Gianni Nogueira and Marçal now in command, we’ll have direct flights to Washington. Besides, even AeroLula has landed there before; don’t worry, my president. Bye bye! (Sim! Não posso criticar os oficiais que fizeram aquela titica em Dourados no meu governo, afinal não sou mais comandante supremo das Forças Armadas; voltei a ser apenas um capitão reformado e insubordinado. Mas com a Gianni Nogueira e o Marçal agora no comando, vamos ter voos diretos até Washington. Além do mais, até o AeroLula já pousou lá antes; fica tranquilo, meu presidente. By by!).
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