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quinta-feira, dezembro 26, 2024

Indiciamento de Bolsonaro afeta eleição de 2026, muda discurso e gera temor de delação de generais

A narrativa aposta num eventual cenário em que o cerco sobre Bolsonaro poderia turbinar sua imagem de perseguido pelo sistema, e fortalecer seu capital eleitoral

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O indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas pela Polícia Federal (PF) por tentativa de golpe de Estado tem antecipado cálculos eleitorais para a próxima eleição presidencial e gerado temor de que generais delatem aliados.

A tensão cresceu no círculo íntimo de Bolsonaro. Uma pessoa próxima a ele afirma “não duvidar” que os militares de alta patente possam fechar acordos de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF) para prejudicar o ex-presidente, e que os “generais são inconsequentes”. A preocupação tem lastro no caso do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e um de seus homens mais leais, cuja delação abasteceu as investigações.

Após o relatório de 884 páginas da PF ser tornado público pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, na última terça-feira, 26, pessoas no entorno de Bolsonaro passaram a colocar a disputa presidencial de 2026 como suposta motivação oculta por trás das investigações contra o ex-presidente.

Na quarta-feira, bolsonaristas mudaram o foco da defesa dos aliados, usando como subsídio uma pesquisa eleitoral indicando vantagem numérica de Bolsonaro contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) num eventual duelo pelo Palácio do Planalto. O discurso aposta num eventual cenário em que o cerco sobre Bolsonaro poderia turbinar sua imagem de perseguido pelo sistema, e fortalecer seu capital eleitoral.

“A trama midiática contra @jairbolsonaro tem um único objetivo: tirar da corrida eleitoral o único nome capaz de derrotar Lula”, diz o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em suas redes sociais, sendo endossado por outros parlamentares. “A nova estratégia da esquerda é deixar seus oponentes inelegíveis. Sem prender ou assassinar seus rivais políticos, eles visam manter ares de democracia no país dominado”, escreve seu irmão, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O reposicionamento do discurso, que antes focava na questão processual — o deputado federal Paulo Bilysnkyj (PL-SP) vinha dizendo que “no relatório da PF não existe prova da participação de Bolsonaro em nenhum fato”, e o comunicador Leandro Ruschel, que “não há evidências concretas de uma tentativa de golpe” —, se dá junto da torcida de que a eleição brasileira espelhe mais uma vez a americana.

Nos Estados Unidos, Donald Trump manteve sua popularidade e se elegeu numa vitória avassaladora no último mês, retornando à Casa Branca a despeito de estar condenado criminalmente e responder como réu em três processos, um deles por tentar interferir no resultado da eleição de 2020, quando perdeu para Joe Biden.

O vereador eleito Gilson Machado Filho (PL-PE), filho do ex-ministro do Turismo de Bolsonaro que acompanhou Eduardo e o pai à mansão de Trump na Flórida na noite em que ele foi confirmado presidente eleito, aposta nisso. Na semana passada, Bolsonaro passou uma semana de férias na companhia da família Machado em São Miguel dos Milagres.

“Eu acredito que (essa perseguição) só fortalece. Para a direita até vai ser bom prender Bolsonaro injustamente, porque o povo se comove com isso. Vai acontecer igual houve com Donald Trump”, ele diz.

O senador Rogério Marinho (PL-RN), secretário-geral do PL e principal interlocutor entre Bolsonaro e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, que estão impedidos pela Justiça de se comunicar, mantém o mesmo discurso: “Isso só fortalece o presidente (Bolsonaro), porque quado você exagera e persegue um grupo político desta forma, isso se reflete na população”, afirma.

Se o líder do Partido Republicano é inspiração para Bolsonaro, Lula pode igualmente ser. Isso porque há conversas no entorno do ex-presidente para ele repetir a estratégia petista em 2018, quando Lula estava preso e foi inscrito como cabeça de chapa presidencial mesmo assim. Com o ex-presidente petista impedido de concorrer, o então vice Fernando Haddad assumiu o seu lugar, beneficiando-se da transferência de votos do aliado e chegando ao segundo turno.

No caso do PL, os nomes de Flávio e Eduardo são cogitados para a empreitada similar, se Bolsonaro continuar impedido de concorrer. Em 2023, ele foi condenado à inelegibilidade por oito anos pela Justiça Eleitoral por ataques à democracia.

A direita, no entanto, se vê numa situação desconfortável: dois dos três nomes melhor posicionados para enfrentar o PT daqui a dois anos estão enroscados em ações que resultam em inelegibilidade. Além de Bolsonaro, Pablo Marçal (PRTB) responde a processos que podem tirar seu direito de disputar eleições, principalmente no caso de um documento inverídico divulgado por suas redes sociais contra Guilherme Boulos (PSOL) na reta final da campanha à Prefeitura de São Paulo.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por sua vez, também sob uma ameaça, ainda que considerada leve. Nesta semana, o ministro Kassio Nunes Marques arquivou uma notícia-crime aberta por Boulos contra Tarcísio que poderia deixá-lo inelegível.

Guilherme Caetano/Estadão-Terra

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