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sábado, dezembro 21, 2024

Aceno a Galípolo, 8 de janeiro e busca por marca para 2026: os recados de Lula durante a reunião ministerial

Presidente deu detalhes da cirurgia na cabeça a que foi submetido há dez dias, destacou os esforços na economia e avisou que haverá mudanças no governo no que vem

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Em almoço que reuniu os 38 ministros no Palácio da Alvorada, nesta sexta-feira, para confraternização de fim de ano, o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) deu detalhes da cirurgia na cabeça a que foi submetido há dez dias, destacou os esforços na economia e avisou que haverá mudanças no governo em 2025. A fala ocorreu em meio às discussões de uma reforma ministerial para a segunda metade do mandato. Enquanto agradeceu pelo trabalho dos subordinados, Lula citou que o ritmo de trabalho deve continuar, mas que “coisas vão mudar” e “coisas estão faltando”. Ministros deixaram o Alvorada com entendimento de que o chefe quer ajustes.

As iminentes trocas têm movimentado partidos da base e gerado cobranças por mais espaço na Esplanada. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem dito a aliados que uma eventual reforma deve incluir a entrada de nomes que atendam aos interesses do Congresso, uma vez que o governo não tem votos suficientes para aprovar pautas importantes e precisa ampliar o diálogo com a Casa.

Um sinal claro de mudança foi a presença do marqueteiro Sidônio Palmeira no almoço com os ministros. Ele deve assumir a Secretaria de Comunicação Social (Secom), hoje chefiada por Paulo Pimenta. Marqueteiro de Lula na campanha de 2022, Palmeira acompanhará a gravação do pronunciamento de final de ano do presidente que será feita neste final de semana, no Palácio do Alvorada.

Sidônio não foi citado ou anunciado por Lula, mas acompanhou o almoço como se já fosse um integrante da equipe. Lula deve bater o martelo nos próximos dias sobre a indicação do marqueteiro para o comando da Secom.

A reforma ministerial foi tema frequente do almoço. Nas rodinhas de ministros, uma brincadeira recorrente era perguntar onde o colega estaria no próximo ano. Em determinado momento, Pimenta disparou, aos risos, para Márcio Macêdo, titular da Secretaria-Geral:

— Não sei para onde você vai, mas fui chamado para o seu lugar — brincou.

Evento sobre o 8/1

O encontro durou cerca de duas horas e não tratou de ações específicas dos ministérios. Lula abriu sua fala dizendo que não seria uma reunião de trabalho, mas um momento de confraternização. O presidente pediu que todos os ministros estejam em Brasília no dia 8 de janeiro para um evento que lembrará os dois anos do ataque às sedes dos três Poderes. O petista não deu detalhes de que tipo de evento, disse que irá pensar em um formato, mas que faz questão de que uma cerimônia marque a data.

O presidente também avisou os ministros que fará uma reunião ministerial no fim de janeiro, na qual fará um balanço da gestão até aqui e discutirá as prioridades para a segunda metade de seu mandato. Preocupado com o desempenho do governo, o Planalto iniciou um giro na Esplanada em busca de projetos que possam ter impacto eleitoral até 2026. O plano é organizar o cardápio de prioridades após os dois primeiros anos de gestão e trabalhar a trilha para a reeleição do petista. Ministérios como Agricultura, Minas e Energia e Justiça já foram acionados e outros estão à espera do chamado. A ideia é chegar no início do ano que vem com um mapa das ações nas quais o governo deve investir.

Durante o almoço — uma ceia com peru, farofa e arroz —, Lula disse que o país está vivendo momento economicamente importante. Também citou a importância do combate à inflação e disse que o governo estará sempre atento a esse tema. Aos ministros, também falou da autonomia do Banco Central sob a gestão de Gabriel Galípolo.

Lula contou aos ministros os momentos de tensão que viveu ao receber o diagnóstico de que precisava fazer uma cirurgia de emergência em São Paulo para retirada de um coágulo de sangue no cérebro, na noite de 9 de dezembro. Lula relatou aos ministros que chegou às 18h30m ao Hospital Sírio-Libanês de Brasília e, logo após ressonância magnética, houve a decisão de ser deslocado para São Paulo para fazer uma cirurgia às pressas. O tempo de espera para que o avião fosse do Rio a Brasília para buscá-lo teria deixado Lula indignado, no relato de ministros.

De acordo com auxiliares, Lula parecia bem disposto, estava de chapéu panamá branco, fez brincadeiras com o procedimento na cabeça e disse que, “depois da cirurgia”, ele tem “a cabeça mais limpa do Brasil”. Lula e a primeira-dama Janja da Silva foram os únicos a falar no almoço. Janja agradeceu pelas orações e ligações buscando notícias de Lula durante a internação.

Apesar de um discurso curto, o presidente aproveitou para fazer um gesto ao futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que estava presente no encontro. A seus ministros, Lula disse querer reforçar que “confia muito” em Galípolo e aprendeu com ele que “dialogar com o mercado é melhor do que brigar”. Foi o único nome citado pelo presidente em sua fala. Para um ministro, Lula fez questão de “encher a bola” do futuro chefe da autoridade monetária, que está “empoderado”. A própria presença de Galípolo no evento foi vista como indicação de prestígio.

Nas palavras de ministros presentes, o almoço foi “leve” e a fala de Lula, “breve”. Os convidados foram divididos em grupos e acomodados em diferentes mesas. Ao lado do presidente, estavam Janja, Nísia Trindade (Saúde), Ricardo Lewandowski (Justiça), Margareth Menezes (Cultura), Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda) e o vice, Geraldo Alckmin. Sentado junto ao presidente, Haddad parecia aliviado depois de vencer a semana e aprovar o pacote, na descrição de um de seus colegas.

Lula aproveitou a proximidade com o vice para relembrar os achados do inquérito do golpe, que revelou uma trama para assassinar ambos. Em tom descontraído, falou: “pô, Alckmin, você imagina o que seria desse país se tivessem conseguido nos matar!”. Os ministros foram chamados ao Alvorada meia hora antes para que todos pudessem fazer teste de Covid-19. Foi uma recomendação médica diante do procedimento feito pelo presidente em São Paulo.

Diálogo com o Congresso

Além dos ministros, estiveram presentes o líder do governo na Câmara, José Guimarães; no Senado, Jaques Wagner; e no Congresso, Randolfe Rodrigues. Lula deve ligar, nos próximos dias, para os presidentes das duas Casas, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Em suas últimas semanas à frente da Câmara, Lira tem defendido maior presença do presidente junto aos parlamentares, com participação ativa dos diálogos em eventos e reuniões, a exemplo do que fez nos seus dois primeiros mandatos.

Sobre as trocas previstas, Lira tem reclamado que o PT ocupa ministérios relevantes na Esplanada, mas possui apenas 12% dos votos do plenário. Em paralelo, o PSD, partido que possui três ministérios, não tem um nome indicado pela Casa em um ministério considerado “forte”. Representando a Câmara, André de Paula (PSD) ocupa a Pesca e Aquicultura. Aos aliados, Lira reforça que mudanças neste sentido, atreladas a uma maior interlocução de Lula, poderiam impedir dificuldades em aprovações de projetos, a exemplo do que aconteceu nesta semana com a votação do pacote fiscal apresentado pelo ministro Fernando Haddad.

Os recados da reunião

  • Presença de Sidônio: Cotado para assumir a Secretaria de Comunicação, na vaga de Paulo Pimenta, o marqueteiro Sidônio Palmeira participou do almoço como se já fosse parte da equipe de governo.
  • Citação a Galípolo: Lula aproveitou o discurso para fazer um gesto ao futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que estava presente. O presidente reforçou que “confia muito” em Galípolo.
  • Busca por marca: Lula marcou reunião para janeiro para fazer balanço e planejar os dois próximos anos. A Casa Civil, de Rui Costa, já está conversando com ministérios sobre projetos mirando 2026.
  • 8 de janeiro: O presidente pediu ainda para os ministros estarem em Brasília em 8/1 para evento de dois anos do ataque golpista. Lula não deu detalhes, mas quer relembrar a data ao lado da equipe.

Jeniffer Gularte, Renata Agostini, Sérgio Roxo e Gabriel Sabóia/O Globo — Brasília

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