O Brasil é o país que mais mata pessoas trans da América Latina e Caribe, segundo um levantamento feito pela Rede Nacional de Pessoas Trans – Brasil (RedeTrans), em parceria com a Trans Murder Monitoring 2024. De acordo com o estudo, este é o 17º ano em que o País lidera o ranking, com 70% dos casos.
Segundo dados divulgados pelo Dossiê: Registro Nacional de mortes de pessoas trans no Brasil em 2024, publicado nesta quarta-feira, 29, em 2024, foram registrados 350 assassinatos, sendo 255 deles na América Latina e Caribe — liderados por Brasil, México e Colômbia.
Os números foram coletados entre os dias 1º de outubro de 2023 e 30 de setembro de 2024. Outros dados alarmantes apontam que, deste total, 94% foram feminicídios, ou seja, as vítimas eram mulheres trans ou transfemininas. Ao todo, 93% dos assassinatos relatados foram de pessoas negras ou pardas, apresentando um aumento de 14% em relação ao ano passado.
Cerca de 46% dos assassinatos foram tiroteios e, deste recorte, cerca de 34% dos assassinatos registrados ocorreram na rua e 22% na própria casa da vítima. A maioria das vítimas tinha entre 19 e 40 anos. Sendo que um terço tinha entre 31 e 40 e um quarto entre 19 e 25.
São Paulo, Minas Gerais e Ceará são os Estados com mais casos
São Paulo é o Estado com mais registros de assassinatos de pessoas trans, com 17 casos, segundo os dados levantados pela Rede Trans Brasil. Seguido por Minas Gerais, com 10 casos, e Ceará, com nove casos.
São Paulo, Minas Gerais e Ceará são os estados com mais casos
Caminho longo
A secretária adjunta de comunicação da Rede Trans Brasil, Isabella Santorinne, comemorou a queda no número de assassinados no Brasil em comparação ao ano passado, onde o número era de 119. No entanto, ela aponta que há um longo caminho a ser percorrido.
“A queda no número de mortes de pessoas trans em relação a 2023 é um pequeno alívio, mas não podemos ignorar que elas ainda acontecem. Isso reflete como o Brasil está em um processo lento e desigual de mudança. Apesar de avanços em debates públicos e maior visibilidade, a violência e o preconceito ainda são uma realidade para muitas pessoas trans. Essa trajetória mostra que, embora existam sinais de progresso, a luta está longe de acabar”, explica Santorinne em entrevista ao Terra.
De acordo com ela, são necessárias mais políticas públicas, educação sobre respeito às diferenças e ações concretas para garantir que as vidas de pessoas trans sejam protegidas e valorizadas no país. “O Brasil precisa ir além dos números e construir uma sociedade onde essas mortes não sejam mais uma estatística”, diz.
“Ter esses dados mensurados permite entender a gravidade da situação, identificar padrões de violência e cobrar ações efetivas de governos e instituições. Faltam políticas públicas voltadas para a proteção de pessoas trans. […] É urgente criar ações que promovam educação inclusiva, empregabilidade, acesso à saúde e segurança, além de garantir que crimes transfóbicos sejam devidamente investigados e punidos”, afirma a secretária.
Gabriella Reis/Redação Terra