Em despacho publicado no Diário Oficial, o presidente Getúlio Vargas, nega provimento à renovação do contrato de arrendamento dos ervais de Mato Grosso à empresa Mate Larangeira.¹ O processo teve início com o parecer desaprovando o prosseguimento da concessão, expedido pelo Conselho de Segurança Nacional, em 26 de dezembro de 1940 e sofreu a resistência tenaz da empresa, através de seu presidente Heitor Mendes Gonçalves, que em ofício ao presidente Vargas, em 28 de janeiro de 1941, tenta demover o chefe da Nação da decisão de revogar o arrendamento:
Não é tanto pela lado material como o aspecto moral do caso, o que mais impressiona e interessa a companhia cuja longa existência de dedicação e trabalho não merece a ingratidão e a injustiça clamorosa que essa decisão representaria.
Apelo, portanto, para o nobre patriotismo de V. Exa. que sabe pairar acima das paixões e teve sempre a grande serenidade de encarar os fatos do alto do mais apurado sentimento de justiça e respeito a todos os direitos.
“Já tive ocasião de convidar V. Exa. para chegar até a zona da Mate Larangeira por ocasião de sua próxima visita a Mato Grosso. Não seria o caso de se aguardar essa visita para depois se tomar uma decisão final sobre a questão?
V. Exa. que tem com tanta abnegação percorrido regiões as mais afastadas do país para formar juízo próprio e pessoal de suas riquezas e de seus homens, teria assim oportunidade de ver e ajuizar com segurança do papel da Mate Larangeira em nossa fronteira com o Paraguai e verificar que ela do que precisa é de animação e apoio dos poderes públicos para completar sua obra de povoamento e civilização.
Em agosto de 1941, Getúlio visita Ponta Porã. “O ditador – observa o historiador -seguiu então para a fazenda Pacury, onde recebeu uma homenagem dos campeiros, cerca de duzentos homens a cavalo, portando bandeiras, bem ao estilo gaúcho das cavalgadas e tropeadas. O presidente desceu do auto, montou no criollo Guapo e ao lado de sua comitiva, também montada, cavalgaram os seiscentos metros que separavam a entrada, da sede da fazenda.”
Neste momento o homem forte da Mate Larangeira teria feito o último apelo para convencer o presidente:
No grande gramado em frente à propriedade, deu-se uma cena antológica: o discurso com que Heitor Mendes Gonçalves, montado em Caudilho, saudou o presidente. Quem a presenciou pode entender a dimensão do esforço que fazia o administrador da Cia. Mate para sensibilizar Getúlio sobre as dificuldades do setor ervateiro, cujas exportações àquela altura já minguavam irremediavelmente, inviabilizadas pela concorrência dos misioneros. O próprio capitão reconhecia, em sua fala, que o futuro da região estava na pecuária.
“Getúlio Vargas, como sempre sorria. Continuou sorrindo ao adentrar a residência da Pacury para descansar momentaneamente num dos aposentos que lhe haviam reservado. Enquanto isso Aracy, esposa de Mário Mendes Gonçalves, fazia as honras da casa, servindo ao presidente um banquete que entraria para a história da cidade.²
Em 1944, três meses depois de indeferir o pedido de renovação de contrato com a Mate, o presidente esteve em Guaíra (Paraná) e assinou decreto onde encampava alguns bens da empresa, como a estrada de ferro Porto Mendes-Guaíra, a casa sede da administração e várias embarcações. Os bens foram repassados para o Serviço de Navegação da Bacia do Prata, autarquia com sede em Corumbá. A partir de então, a Mate permaneceu explorando a erva apenas em terras de sua propriedade.
FONTE: ¹Pedro Ângelo da Rosa, Resenha Histórica de Mato Grosso (Fonteira com o Paraguai), Livraria Ruy Barbosa, Campo Grande, 1962, página 86; ²Luiz Alfredo Marques Magalhães, Retratos de uma época – Os Mendes Gonçalves & a Cia. Matte Larangeira, (2a. edição), edição do autor, Ponta Porã, 2013, página 135.
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