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quarta-feira, fevereiro 5, 2025

Trump propõe limpeza étnica de palestinos

Todos com humanidade no planeta devem se opor a essas propostas: imaginem algum líder estrangeiro propor expulsar os habitantes dos Rio de Janeiro e passar a controlar o território?

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Desumano, Donald Trump defendeu publicamente e repetidas vezes um crime contra a humanidade ao propor a limpeza étnica de palestinos da Faixa de Gaza com a expulsão de cerca de 2 milhões de pessoas de suas terras. Seres humanos como eu e você, leitor. Como nossos filhos e nossos pais. Horas depois, mantendo sua postura maligna em relação aos palestinos, disse que pegaria o território para os EUA e o transformaria numa “Riviera do Oriente Médio”. Na prática, um roubo de uma região considerada parte de um futuro Estado palestino pela comunidade internacional.

Até o premier Benjamin Netanyahu, líder da mais radical coalizão da história de Israel, pareceu ficar em choque ao escutar Trump falar sobre seu desejo de controlar a Faixa de Gaza, embora tenha sorrido na parte que o presidente defendeu da limpeza étnica de palestinos. Escrevi diversas vezes aqui que os palestinos consideram Joe Biden o pior presidente da História para a Palestina por seu apoio incondicional a Israel na guerra da Gaza, levada adiante depois do atentado do Hamas. Trump, no entanto, consegue ultrapassar esse patamar com suas propostas. Nos EUA, a competição parece ser para quem trucida mais os palestinos.

Não está claro se o presidente dos EUA falou de improviso ou realmente faz tempo que planeja a limpeza étnica de palestinos e o roubo da Faixa de Gaza. Sei que uso termos fortes, mas não podemos tratar com naturalidade. Achar normal expulsar cerca de 2 milhões de pessoas e roubar um território historicamente dos palestinos seria repugnante, uma atrocidade. Todos com humanidade no planeta devem se opor a essas propostas. Imaginem algum líder estrangeiro propor expulsar os habitantes dos Rio de Janeiro e passar a controlar o território?

Trump demonstra enorme ignorância sobre a história dos palestinos. A maioria dos moradores da Faixa de Gaza descende de antigos habitantes de vilas no que hoje é Israel. Na guerra de 1948, foram expulsos ou saíram, tendo de se refugiar no território, que ficou sob controle do Egito até 1967. Naquele ano, em outra guerra, passou a ser ocupada por Israel. Duas décadas atrás, os israelenses retiraram os assentamentos, mas mantiveram o controle terrestre (em coordenação com o Egito), marítimo e aéreo. Dentro, o poder passou para as mãos do Hamas.

Expulsar os palestinos não seria uma tarefa fácil para os EUA. Naturalmente, os habitantes lutariam para impedir a saída forçada. Como seria a logística dessa limpeza étnica do século 21? O mais próximo que vimos foi a realizada pelo Azerbaijão ao expulsar mais de 100 mil armênios do enclave de Nagorno Karabakh. Em segundo lugar, o presidente norte-americano afirma que o Egito e a Jordânia receberiam os expulsos. Ambos os países, assim como todos da Liga Árabe, rejeitaram a proposta. Os EUA poderiam ameaçar com suspensão da ajuda militar a egípcios e jordanianos e suas tradicionais tarifas. Os efeitos, neste caso, seriam catastróficos. Poderiam levar inclusive ao rompimento das relações com Israel. Caso o ditador Sissi e o rei Abdullah cedam à pressão norte-americana, enfrentarão enorme revolta popular com risco de serem depostos.

A melhor alternativa para a Faixa de Gaza seria a manutenção do cessar-fogo, com a libertação dos reféns e retirada israelense. A Autoridade Palestina, ainda que debilitada, deveria assumir a administração. A reconstrução deveria ser feita pelos palestinos com recursos internacionais de nações ricas do mundo árabe e dos EUA. Negociações de paz israelo—palestinos deveriam ser iniciadas, assim como a normalização das relações da Arábia Saudita com Israel. Líbano e Síria também poderiam entrar no pacote de estabilização. Trump, porém, prefere propor crimes contra a humanidade.

Vamos aguardar para ver se é blefe ou se o presidente realmente tentará cometer uma limpeza étnica que o colocará no patamar dos maiores criminosos internacionais do século 21, como Bashar al-Assad, Vladimir Putin e George W. Bush. Aliás, o atual presidente sempre condenou, com razão, seu antecessor pelas guerras do Iraque e Afeganistão. Agora quer fazer algo ainda pior em Gaza. Inacreditável ver esse cenário para quem um dia sonhou em ver palestinos e israelenses vivendo em paz e segurança.

Guga Chacra/O Globo — Nova York

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