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quinta-feira, março 27, 2025

O cortador de cabelos

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O papel plástico usado para proteger o cliente dos cabelos cortados, após o término do corte, é jogado no chão, onde os fios se acumulam. Paquistanês ou indiano? Não sei ao certo, mas ele fala inglês. No entanto, não sei exatamente o quanto compreende do que explico em francês.

O sol brilha lá fora, mas a rua está escura. Dentro, luzes brilham e piscam, enroladas em uma planta. O dia todo. Um desperdício de energia. Em uma parte do muro, uma ferradura. Sobre uma prateleira, um limão dentro de um copo com água. Coisas que devem dar ao cortador de cabelos esperança e sorte para o futuro, suponho.

Para ser bem clara na minha demanda, mostro-lhe, com o auxílio do telefone, duas fotos do corte que desejo: uma de frente e outra de trás, para que ele entenda. Ele é um dos poucos na cidade que corta cabelos femininos, e o preço é imbatível! Não preciso de tinturas ou tratamentos sofisticados oferecidos pelos cabeleireiros tradicionais. Quero algo simples, como no meu passado, quando ia no cabeleireiro em frente à minha casa.

Quando criança, lembro-me que o cabeleireiro usava uma espécie de caixa para me acomodar – o pequeno tamanho – na cadeira tradicional dos anos 60. Verde, com pedal para subir ou descer conforme a necessidade. Achava divertido ver os cabelos caindo enquanto o corte curto transformava minha imagem no espelho. Naquela época, meus cabelos eram lisos. Agora, eles têm vontade própria e adoram se enrolar. Por isso, não podem ser cortados tão curtos.

Esse meu paquistanês ou indiano provavelmente acha que todos, como ele, têm cabelos lisos e faz o corte para esse tipo de cabelos.

Cheguei sem hora marcada, já que raramente esses tipos de cabeleireiros marcam horários. É só aparecer e esperar sua vez. Mas não dei sorte. Ele aguardava um amigo para um corte.

A espera é algo que não foi feito para mim. Parecia que ele nunca terminaria o serviço. Quando finalmente vejo o corte finalizado e me sinto aliviada, ele me surpreende: passa vários minutos fazendo uma massagem na cabeça do amigo!

Mazé Torquato Chotil – é jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP e vive em Paris desde 1985. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.

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