Em um país onde a palavra “golpe” se tornou presença quase diária nas manchetes, o que deve aumentar ainda mais a partir de agora, depois da denúncia apresentada nesta terça-feira pela Procuradoria-Geral da República no processo dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2022 e que podem levar o ex-presidente Jair Bolsonaro e boa parte de seu séquito à prisão, a instabilidade política parece que veio pra ficar. Nem mesmo a CASSEMS, uma das Instituições mais respeitadas do Mato Grosso do Sul, parece imune a essa onda golpista.
Com o slogan “A CASSEMS é nossa”, um grupo no WhatsApp vem incitando servidores contra a diretoria da Caixa de Assistência dos Servidores do Estado. As mensagens revelam um tom conspiratório e ameaçador, sugerindo um movimento articulado: “Não estamos parados, estamos trabalhando e pedimos um pouco de paciência porque, em breve, teremos boas novidades”. Em outro trecho, um alerta mais incisivo: “Paciência, calma, que tudo está se encaixando”. Considerando que o próximo processo eleitoral da CASSEMS ocorre apenas daqui a dois anos, fica evidente a tentativa de tomada de poder por meios não legítimos.
O que chama a atenção é a liderança de um dos articuladores do grupo: o policial militar Jeder Fabiano da Silva Bruno. Em 2023, ele ganhou notoriedade ao participar de rodas de hip-hop com jovens da periferia de Dourados, construindo uma imagem pública de proximidade com a comunidade. No entanto, por trás dessa figura, emerge um histórico de denúncias criminais e acusações de estelionato.
Jeder, mais conhecido como “Brunão”, é sócio da BBTC Brasil Importação e Exportação, empresa fundada em 2013, em Dourados, com capital social de R$ 700 mil. Em 2022, a BBTC fechou contratos para exportação de carnes e outros produtos alimentícios para a Guangdong Dcenti, empresa chinesa que pagou antecipadamente US$ 435 mil (cerca de R$ 2,5 milhões na cotação atual). Entretanto, os produtos jamais foram enviados.
O caso se transformou em investigação policial. Em junho de 2024, a Polícia Civil de São Paulo instaurou inquérito sobre a fraude. O empresário chinês Xu Baiyao, representante da Guangdong, prestou depoimento relatando uma sequência de desculpas dadas por Jeder para justificar o não cumprimento dos contratos. A BBTC alegou greve, atrasos no transporte marítimo, falta de contêineres e até impactos da Covid-19. Em maio de 2023, Jeder admitiu que não conseguiria mais fornecer os produtos e prometeu devolver o dinheiro, o que nunca aconteceu.
Ao buscar Jeder pessoalmente em Dourados, Baiyao foi abordado por um intermediário que o alertou: a BBTC não teria mais condições de ressarci-lo. Segundo o relato à polícia, Jeder e sua sócia, Ágata Silva Bruno, forneceram documentos falsos e agiram de forma ardilosa para obter vantagem financeira.
O histórico de golpes de Jeder não se limita à exportação fraudulenta. Ex-funcionários da empresa Mais Forte Pré-Moldados, também de Dourados, o acusam de ser sócio oculto da companhia, envolvido em processos trabalhistas por falta de pagamento. Formalmente registrada em nome de Ágata, a empresa responde a diversas ações judiciais. Além disso, há processos contra Jeder por emissão de cheques sem fundo e inadimplência em financiamentos.
A presença de um indivíduo com esse perfil à frente de um movimento que busca desestabilizar uma instituição como a CASSEMS levanta preocupações graves. O cenário político nacional, já marcado por tentativas de subversão democrática, encontra eco em iniciativas locais que, sob o pretexto de mudanças, operam manobras obscuras para usurpar o poder sem respaldo eleitoral.
Diante desse contexto, torna-se essencial que servidores, autoridades e a sociedade civil fiquem atentos aos movimentos que visam minar instituições democráticas e atuem para preservar a legalidade e a transparência nos processos de gestão pública.