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sábado, fevereiro 22, 2025

Amor tardio

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Meu tio C. teve uma amante quando já tinha mais de 80 anos, caminhando para os 90. Tempos antes, outro tio muito querido — grande amigo dele nos tempos difíceis da juventude — me contou que ele estaria traindo minha tia com uma amante. Comentou ainda que não achava justo ele fazer aquilo com sua comadre. Aquela afirmação soou como um choque nos meus ouvidos.

Por alguns segundos, fiquei imóvel, sem saber o que pensar, tentando processar a informação. Era uma notícia inacreditável. Não tive coragem de perguntar mais detalhes, nem sobre o porquê ou o que realmente estava acontecendo. Apenas ouvi.

O tio C. sempre foi, para mim, uma referência de casal. Ele era o conselheiro dos meus pais nos momentos em que a relação deles enfrentava dificuldades. Aquela informação derrubava por terra tudo o que eu pensava sobre ele. Inconscientemente acho que não queria enfrentar a realidade, demolir o importante pilar.

Mazé Torquato Chotil – é jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP e vive em Paris desde 1985. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.

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