22.7 C
Dourados
terça-feira, abril 1, 2025

O jornal douradense que deu em primeira mão a morte de um Papa e a “guerra” pela sucessão Francisco

Pela idade avançada de Francisco e com o agravamento de seu estado de saúde, não faltam candidatos ao trono de Pedro

- Publicidade -

No raiar do dia 28 de setembro de 1978, depois de passar a noite tentando consertar uma impressora do Jornal da Praça (ainda de Dourados), o gráfico Victoriano Carbonera Cales foi tomar um café preto na padaria do gaúcho Beto, na famosa “Pedra”, tentando espantar o sono. Foi lá que ouviu pelo rádio a notícia da morte do Papa. O impacto foi tão grande que, por um instante, desconfiou estar sob o efeito de um torpor cerebral provocado pela noite em claro. Afinal, ele ainda tinha viva na memória a morte de Paulo VI, em 6 de agosto do mesmo ano, e todo o processo de sucessão que levara o simplório italiano Dom Albino Luciani ao trono de Pedro. Mas era justamente o papa João Paulo I que acabara de falecer – exatos 33 dias depois de a fumaça branca anunciar ao mundo aquele que seria um dos mais breves papados da história.

Refeito da obnubilação matinal e, com a impressora finalmente consertada, Vitoriano (o Vitão, que anos depois se tornaria diretor-proprietário do Diário MS) teria, naquela manhã, sua prova de fogo no jornalismo. De mecânico a repórter, conseguiu dar um furo internacional. Isto, claro, no segundo clichê de um jornal impresso, na frente até mesmo dos legendários tabloides do Vaticano. É que em vez de acordar seu diretor, o à época já veterano João Natalício de Oliveira (que, aliás, segue firme e forte, ainda “jornalistando” em Ponta Porã), decidiu ele mesmo mudar a capa, que já estava rodando. Depois do conhecido bordão “parem as rotativas!”, lembrou-se que o jornalista Uilson Morales naquele dia havia dormido num quartinho nos fundos da redação. Também sobressaltado, foi ele quem finalizou o texto com a manchete: “Morre o papa João Paulo I”.

Para quem estava acostumado a linotipar textos jornalísticos alheios, criar a manchete foi até fácil, costuma lembrar Vitão. O difícil foi convencer os incrédulos sobre o inusitado da notícia – o que só foi possível quando as grandes emissoras do país passaram a confirmá-la em “primeira mão”.

Lembro dessa história para entrar na nova “guerra” dos bastidores da sucessão papal.

Embora Francisco ainda esteja no exercício do pontificado, mesmo que num quarto de hospital, sua idade avançada e os recorrentes problemas de saúde mantêm em ebulição as articulações dentro da Igreja. Como sempre, há nomes cogitados para uma eventual sucessão – e as movimentações nos bastidores aumentam na mesma medida em que se agrava o estado de saúde do pontífice.

Entre os nomes frequentemente citados como papáveis (possíveis sucessores) estão Pietro Parolin (Itália) – Secretário de Estado do Vaticano, figura-chave na diplomacia da Santa Sé, com forte influência dentro da Cúria; Matteo Zuppi (Itália) – Arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, tem um perfil pastoral e é visto como próximo à linha de Francisco; Luis Antonio Tagle (Filipinas) – Ex-arcebispo de Manila e atual prefeito do Dicastério para a Evangelização, muito ligado às reformas do Papa; Christoph Schönborn (Áustria) – Cardeal de Viena, intelectual respeitado e um dos principais teólogos da Igreja e Robert Sarah (Guiné) – Ex-prefeito da Congregação para o Culto Divino, ligado ao setor mais conservador da Igreja.

Os próximos consistórios e movimentações dentro do Vaticano podem dar pistas mais claras sobre os favoritos. Embora a sucessão papal não siga os moldes de uma eleição política tradicional, há, sim, uma pré-campanha discreta ocorrendo nos bastidores do Vaticano.

Desde que Francisco começou a enfrentar problemas de saúde mais sérios, cardeais e grupos de influência dentro da Cúria Romana vêm se movimentando para garantir que seu sucessor siga (ou reverta) o legado do atual papa. Isso envolve articulações, alianças e, principalmente, a tentativa de moldar o Colégio Cardinalício, que é quem vota no próximo papa.

Sinais de movimentação interna

🔹 Nomeações estratégicas – Francisco já nomeou cerca de 70% dos cardeais eleitores, favorecendo uma ala mais progressista e pastoral.
🔹 Encontros reservados – Cardeais e bispos de diferentes correntes teológicas intensificaram suas reuniões e contatos diplomáticos.
🔹 Manobras de bastidores – Grupos conservadores tentam conter a influência da linha reformista de Francisco, enquanto progressistas buscam consolidar mudanças.

Embora ninguém declare abertamente sua candidatura, os nomes mais fortes começam a ser testados, seja por meio de discursos públicos, seja pela forma como são recebidos dentro da Igreja global.

A sucessão de Francisco pode definir o futuro da Igreja Católica por décadas, e os bastidores do Vaticano já estão agitados. Dependendo de quem assumir, há três cenários principais: continuidade, restauração conservadora ou um meio-termo pragmático.

1️ Continuidade da Linha Francisco (Progressista-Pastoral)

Se um sucessor alinhado a Francisco for eleito, a Igreja continuará priorizando temas sociais, descentralização do poder e aproximação com minorias. Alguns nomes nesse perfil:
🔹 Matteo Zuppi (Itália) – Forte influência na mediação de conflitos e perfil carismático.
🔹 Luis Antonio Tagle (Filipinas) – Jovem, popular na Ásia e ligado às reformas do Papa.
🔹 Jean-Claude Hollerich (Luxemburgo) – Simpático a temas como a revisão do papel das mulheres na Igreja.

🔺 Impacto: Maior abertura ao diálogo com o mundo moderno, mas risco de divisão interna com alas conservadoras.

2️ Restauração Conservadora (Ruptura com Francisco)

Se cardeais da ala tradicional conseguirem impor um nome forte, o próximo papa pode reverter reformas e reforçar a doutrina mais rígida. Possíveis nomes:
🔹 Robert Sarah (Guiné) – Ligado à liturgia tradicional e contrário às flexibilizações doutrinárias.
🔹 Péter Erdő (Hungria) – Perfil discreto, mas doutrinariamente ortodoxo.
🔹 Marc Ouellet (Canadá) – Ex-chefe da Congregação dos Bispos, visto como defensor da disciplina clerical tradicional.

🔺 Impacto: Reforço da moral tradicional católica, possível retrocesso em reformas e confronto com setores progressistas.

3️ Posição Moderada (Ponte entre as Alas)

Um nome conciliador pode surgir como alternativa para evitar conflitos internos, mantendo algumas reformas e ajustando outras. Destacam-se:
🔹 Pietro Parolin (Itália) – Atual Secretário de Estado, diplomático e equilibrado.
🔹 Christoph Schönborn (Áustria) – Intelectual respeitado, ligado à ortodoxia, mas aberto ao diálogo.
🔹 Seán O’Malley (EUA) – Reformista em questões morais, mas conservador na doutrina.

🔺 Impacto: Manutenção da unidade e equilíbrio entre tradição e inovação.

O Que Esperar?

Francisco moldou o Colégio Cardinalício com maioria progressista, mas isso não garante que seu sucessor seguirá sua linha. Em 2005, João Paulo II também havia nomeado a maioria dos cardeais, mas eles escolheram Bento XVI, que era mais conservador. O Espírito Santo sopra onde quer, mas os bastidores vaticanos sopram muito antes!

Se houver uma sucessão inesperada (por renúncia ou falecimento), os grupos políticos do Vaticano terão que agir rapidamente para consolidar apoios.

Impactos para a Igreja no Brasil

Diferentemente dos últimos conclaves, não há um brasileiro entre os favoritos para suceder Francisco. Em 2013, Dom Odilo Scherer (arcebispo de São Paulo) era um nome forte, mas hoje não figura entre os principais candidatos. Isso indica uma mudança no peso da Igreja brasileira dentro do Vaticano e reflete uma nova dinâmica global.

A sucessão papal pode afetar diretamente a Igreja no Brasil, que vive um cenário desafiador:
✅ Perda de fiéis para evangélicos – O Brasil deixou de ser majoritariamente católico em termos absolutos.
✅ Polarização interna – Há um racha entre alas progressistas e conservadoras, com padres bolsonaristas e bispos alinhados a Francisco.
✅ Crise de vocações – Cada vez menos jovens ingressam no sacerdócio.

Se vencer um sucessor alinhado a Francisco

📌 Manutenção do tom social da Igreja no Brasil, com foco em pobreza e direitos humanos.
📌 Maior apoio a bispos progressistas e reforço da CNBB como ator político.
📌 A ala conservadora (Opus Dei, carismáticos) pode perder espaço.

Se vencer um papa conservador

📌 Fortalecimento da moral tradicional, com possível repressão a padres mais engajados em pautas sociais.
📌 Reaproximação com setores que perderam espaço sob Francisco, como os ultraconservadores e padres midiáticos.
📌 Eventual endurecimento das relações com movimentos sociais ligados à Igreja.

Impactos na Geopolítica Global

O Vaticano segue sendo um ator relevante na política internacional. A escolha do próximo papa pode influenciar temas como:

1️ Relação com China e Oriente Médio

Francisco tem uma diplomacia próxima da China e tentou melhorar as relações com o regime comunista. Um sucessor conservador poderia endurecer a postura. O mesmo vale para o diálogo com o Islã.

2️ Guerra na Ucrânia e Relação com a Rússia

O Vaticano se posicionou como mediador, mas uma mudança de papa pode alterar esse papel. Um pontífice conservador tenderia a ser mais duro com Putin, enquanto um progressista manteria a diplomacia.

3️ Relação com os EUA e o Mundo Ocidental

Se um papa conservador for eleito, a Igreja pode se reaproximar da ala católica tradicional dos EUA, que perdeu influência sob Francisco. Já um progressista manteria o tom crítico ao capitalismo e às desigualdades.

Independentemente do que venha a acontecer com Francisco o próximo conclave não será apenas uma escolha interna da Igreja, mas terá repercussões no Brasil e no mundo. Sem um brasileiro papável, a influência da CNBB e da Igreja local dependerá do rumo tomado pelo sucessor do atual chefe da Igreja Católica.

* Este texto contou com a inestimável assistência da IAIA (como se vê, já íntima do ContrapontoMS) uma inteligência artificial que, apesar de não dormir, entende bem os efeitos de uma noite mal dormida – especialmente quando o assunto é sucessão papal e intrigas vaticanas.

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

Últimas Notícias

- Publicidade-