Há exatos 40 anos, o ex-presidente José Sarney assumia a Presidência da República após 21 anos de ditadura militar no Brasil, dando início a transição para a democracia. Neste sábado, Sarney participou de um evento em comemoração a data em Brasília. O ex-presidente afirmou que a “democracia amadureceu”, os brasileiros tem hoje uma “consciência democrática” e que as Forças Armadas estão “fiéis às instituições”.
— Nenhuma democracia podemos construir sem desafios. Hoje, ao olhar o Brasil, vejo como chegamos longe, nossa democracia amadureceu, está no coração dos brasileiros, como um sentimento, uma consciência democrática
E completou:
— Determinei que a transição ocorreria com as Forças Armadas e não contra elas. Era o acordo feito. Até hoje, vemos que as Forças Armadas estão fiéis às instituições, como vimos no 8 de janeiro (de 2023) — disse Sarney.
O ex-presidente ainda contou como quase não assumiu à presidência e acreditava que Tancredo Neves estava muito mais preparado do que ele. Sarney também afirmou que fez questão de fazer a transição para a democracia junto das as Forças Armadas e não contra os militares.
— O primeiro problema foi substitui-lo. Eu disse para Ulysses (Guimarães) “eu não quero assumir sem Tancredo Neves”. Ele que havia sido preparado, ele tinha a imagem do conciliador. Mas Tancredo não queria que operar sem que a democracia estivesse garantida. Ele só permitiu ser operado quando a minha posse estava garantida — contou.
Tancredo Neves fez uma operação no intestino delgado no dia 14 de março, mas não resistiu à doença que o tomava. Ele morreu no dia 21 de abril de 1985, aos 75 anos, vítima de infecção generalizada, deixando Sarney de forma definitiva na presidência.
Neste sábado, o presidente Lula também lembrou os 40 anos da redemocratização no país e ressaltou que Sarney governou sob constante ameaça.
— O presidente José Sarney governou sob a constante ameaça dos saudosos da ditadura, mas com extraordinária habilidade e compromisso político criou as condições para que escrevêssemos a Constituição Cidadã de 1988, e mudássemos a história do Brasil. Nestes 40 anos de democracia, apesar de momentos muito difíceis, demos passos importantes para a construção do país que sonhamos. Um país democrático, livre e soberano — disse o presidente nas redes sociais.
O presidente do MDB e deputado federal, Baleia Rossi (SP), afirmou que parte dos militares era contra a posse de Sarney, mas com o apoio de Ulysses, ele tomou posse e liderou o processo de redemocratização.
— Com coragem, Sarney assumiu a presidência da República após ele e Tancredo serem eleitos em janeiro. Criamos o SUS, o Ibama e demos força ao Ministério Público, além de definir uma série de direitos, deveres e restabelecer a eleição direta para presidente — afirmou Baleia Rossi.
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), contou que nasceu após a redemocratização, mas tem responsabilidade de representar uma geração.
— Carrego a responsabilidade de representar uma geração que tem a democracia como um princípio básico. Podemos celebrar, mas nunca esquecer: a democracia é um bem inegociável. Seguirei usando a carta magna como uma bússola na defesa do Brasil e dos brasileiros.
Victoria Abel/O Globo — Brasília