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terça-feira, março 18, 2025

O ‘rei’ Azambuja,  a esperança do Mato Grosso do Sul para a retomada do protagonismo nacional perdido para o Amapá

Ex-governador leva para o Senado a responsabilidade de fazer tão bonito quanto Filinto Muller, José Fragelli e Ramez Tebet

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Vendo aqui as fotos das comemorações dos 40 anos do retorno à democracia, com a posse de José Sarney na presidência da República pelas mãos de um senador do Mato Grosso do Sul, bateu o sentimento de frustração, por uma das coisas que mais me encafifam como observador à distância do intramuros do Congresso Nacional e de seu lindeiro Palácio do Planalto, na Praça dos Três Poderes: a impressionante força política de um estado como o Amapá, com seus setecentos e poucos mil habitantes – bem menos que nossa capital Campo Grande – sendo a maioria, cerca de quinhentos mil, na capital Macapá. Ou seja o restante da população amapaense não chega nem à de Dourados. Mesmo assim um de seus três senadores, o mesmo número do estado de São Paulo (outra aberração no contexto federativo), David Alcolumbre, está, pela segunda vez, presidente do Congresso Nacional.

Ainda bem, a prevalecer a tradição do velho Mato Grosso e de sua parte desmembrada, o Mato Grosso do Sul, um protagonismo que pode estar com data marcada para acabar. Até porque, na parte que nos toca, o estado precisa dar a volta por cima, para esquecer o fiasco da eleição do então petista Delcídio do Amaral, que saiu do plenário do Senado direto para a cadeia, depois de flagrado numa gravação em que mapeava um plano de fuga de Nestor Cerveró, um dos expoentes da Operação Lava Jato, que pôs Lula também na cadeia. Mais recentemente a obscura Soraya Thronicke, que só virou senadora na onda bolsonarista, além do caixeiro-viajante Nelsinho Trad, nas manchetes mais por conta de suas falcatruas como prefeito de Campo Grande, em que pese o esforço de sua assessoria em só falar de suas questionáveis “conquistas” orçamentárias.

O ‘rei’ Azambuja,  a esperança do Mato Grosso do Sul para a retomada do protagonismo nacional perdido para o Amapá
Presidente do Congresso Nacional, senador José Fragelli, dando posse a José Sarney na Presidência da República (foto: arquivo Senado Federal)

Que Alcolumbre, Soraya, Nelsinho e outros quetais, como diz o colega escrevinhador José Henrique Marques, da Folha de Dourados, fiquem espertos porque agora vai… Reinaldo!, quem sabe levando na garupa o tão sonhado senador douradense – desde que um nome viável e gabaritado para tal, como, por exemplo, o vice-governador Barbosinha ou o deputado federal de seis mandatos, Geraldo Resende. Só assim para Azambuja fazer jus ao cognome de ‘rei”, mas para isso ele precisa jurar que vai fazer das tripas coração para pôr fim a essa patifaria quando chegar lá, no alvorecer de 2027. Sim, porque é claro que por traz da segunda eleição de Alcolumbre estão as famigeradas emendas secretas (razão de ser do mandato de Nelsinho) às quais o ministro do STF Flávio Dino deu um fim, mas ressuscitadas semana passada por uma manobra de Alcolumbre com seu comparsa presidente da Câmara, o ilustre desconhecido Hugo Mota, mas também do Norte-Nordeste, já que esta parece ser uma condição sine qua non para presidir as duas Casas do Congresso.

O ex-governador Reinaldo Azambuja é apontado como favorito para uma das vagas a serem abertas no próximo ano. Embora pertencendo a uma geração política posterior, suas raízes como mato-grossense do Sul da melhor cepa reforçam a expectativa de que ele tenha um desempenho à altura de outros três mato-grossenses que ocuparam a presidência do Senado em momentos cruciais da história da República: Filinto Müller, José Fragelli e Ramez Tebet.

Mesmo com a biografia nublada pelo período em que foi chefe de polícia do governo Getúlio Vargas, Filinto Muller, senador por quatro mandatos pelo Mato Grosso, no último deles presidente do Senado (1969-1973), quando morreu em acidente aéreo na França, é, indiscutivelmente, um dos grandes nomes da política nacional em todos os tempos. Além de presidente do Congresso Nacional, Filintão – como era chamado pelos íntimos, entre os quais o folclórico vereador Lamparina, de Dourados – foi também presidente nacional da toda poderosa ARENA, o partido que deu sustentação ao regime militar instalado em 1964.

Depois, já pelo Mato Grosso do Sul, o ex-governador José Fragelli (1970-1974) quando senador (1980-1987), ocupando a vaga deixada por Pedro Pedrossian, como presidente do Senado (1985-1987), deu posse a José Sarney, há exatos 40 anos.

O ‘rei’ Azambuja,  a esperança do Mato Grosso do Sul para a retomada do protagonismo nacional perdido para o Amapá
Presidente do Congresso, senador Ramez Tebet, dando posse a Lula da Silva, para seu primeiro mandato na Presidência da República (foto: Arquivo Senado Federal)

Assim como Azambuja, Fragelli foi uma daquelas figuras que a história muitas vezes relega a um papel discreto, mas fundamental. Percorreu uma trajetória política marcada pela competência e pela discrição, características que, paradoxalmente, o colocaram no centro de um dos momentos mais dramáticos da história recente do Brasil, como o da posse de Sarney. Coube a ele conduzir a sessão que investiria Tancredo Neves na Presidência da República, após a eleição indireta que pôs fim ao ciclo militar iniciado em 1964. No entanto, Tancredo estava gravemente enfermo, internado no Hospital de Base de Brasília, e sua posse tornou-se inviável.

Naquela madrugada de incertezas de 15 de março de 1985, Fragelli teve de assumir uma responsabilidade histórica. O Brasil estava em suspenso, sem saber se haveria um vácuo de poder ou se a transição democrática seria interrompida – coisa que, certamente, pensando nas emendas secretas, Alcolumbre não daria conta de fazer. O militarismo ainda era uma sombra presente, e qualquer decisão errada poderia ser o pretexto para uma nova crise institucional. Foi então que, com a serenidade que lhe era peculiar, Fragelli proclamou a posse de José Sarney como presidente interino, garantindo a continuidade do processo democrático e afastando o risco de uma intervenção militar.

A cena, carregada de tensão, representava o ápice da transição democrática. Fragelli, que até então não figurava entre os protagonistas da Nova República, foi essencial para que o país não mergulhasse em uma crise institucional sem precedentes. Seu papel, embora muitas vezes relegado ao segundo plano nos registros históricos, foi determinante para assegurar que a democracia brasileira desse seu primeiro passo concreto após duas décadas de regime autoritário.

Seu nome talvez não esteja entre os mais lembrados quando se fala da redemocratização do Brasil, mas José Fragelli foi, naquela noite, a voz da legalidade, da estabilidade e da prudência. Um homem que compreendeu o peso da história e soube agir com firmeza e equilíbrio num dos momentos mais delicados do Brasil moderno.

O ex-governador Ramez Tebet, que estava licenciado do Senado quando ministro da Integração Nacional no governo FHC, foi chamado para reassumir sua cadeira e disputar a presidência da Casa, depois das denúncias por corrupção que obrigaram o então presidente Jader Barbalho a renunciar ao cargo. Nessa condição Tebet deu posse a Lula, no primeiro mandato do petista. Foi um dos oradores mais brilhantes da Tribuna Congresso Nacional em todos os tempos. Anos depois sua filha Simone Tebet, hoje ministra do Planejamento do governo Lula, tentou suceder ao pai também na cadeira de presidente do Senado, mas mas retirou a candidatura com a votação já em curso, para unificar a oposição. Contra quem? Contra Alcolumbre, que tinha o apoio do alagoano Renan Calheiros.

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