A saga espacial mais acompanhada dos últimos anos está prestes a acabar: os astronautas da Nasa Sunita Williams e Butch Wilmore, “presos” há nove meses na Estação Espacial Internacional (ISS), estão a caminho da Terra e finalmente devem pousar às 18h57 desta terça-feira. Mas o que acontece se você é um astronauta que fez as malas para uma ou duas semanas em órbita, mas acabou ficando nove meses na Estação Espacial Internacional?
Não existem shoppings no espaço, e os correios não fazem entregas a 400 quilômetros de altitude. Suni Williams e Butch Wilmore tiveram que usar as mesmas roupas repetidamente? Havia comida suficiente para todos? Como eles mantiveram contato com amigos e familiares?
No início, Williams e Wilmore ficaram sem roupas extras. Um dos banheiros da estação quebrou, e suas malas foram retiradas da espaçonave Starliner — que os levou à órbita — para dar lugar a uma bomba de reposição. Isso significou que eles precisaram contar com roupas sobressalentes disponíveis na estação.
A Nasa enviou seus pertences alguns meses depois, a bordo de uma nave de carga da Northrop Grumman. Essas naves robóticas chegam periodicamente da Rússia e dos Estados Unidos, trazendo alimentos, suprimentos e experimentos.
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A tripulação da estação espacial está, sem dúvida, fisicamente separada dos outros 8 bilhões de habitantes do planeta abaixo. Mas eles não estão completamente isolados da civilização, como os exploradores de séculos passados, que navegavam para novos continentes e ficavam anos sem dar notícias — às vezes, nunca mais eram vistos novamente. Hoje, astronautas podem enviar e-mails do espaço e até fazer chamadas de vídeo com amigos e familiares.
No mês passado, em conversa com Michael Barbaro, apresentador do podcast The Daily, do The New York Times, Wilmore falou sobre como os desafios de uma permanência no espaço mais longa que o esperado não se comparam ao que as pessoas enfrentam em desastres naturais, como o furacão Beryl, que atingiu Houston em julho passado.
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A saga de Williams e Wilmore
Para Williams e Wilmore, essa missão se tornou uma jornada muito mais longa do que o previsto. A dupla chegou à ISS em junho do ano passado para um voo teste de poucos dias da cápsula Boeing Starliner.
No entanto, devido a falhas na espaçonave, a Nasa decidiu deixar os astronautas na estação e retornar a cápsula vazia. Desde então, eles passaram nove meses em órbita, aguardando a chegada de novos tripulantes para substituí-los e garantir a continuidade das operações. O voo de retorno estava previsto para fevereiro, mas sofreu sucessivos adiamentos até este mês.
Embora extensa, a permanência dos astronautas na ISS não é incomum – muitos tripulantes passam meses no espaço, e alguns já ficaram mais de um ano na estação. Durante esse período inesperado, Williams e Wilmore se dedicaram a experimentos científicos, especialmente estudos sobre os efeitos da ausência de gravidade no corpo humano.
O prolongado tempo em órbita despertou o interesse de entusiastas do espaço e do público em geral, fascinados pelo desenrolar da missão. Os astronautas demonstraram grande entusiasmo com a experiência, compartilhando transmissões frequentes da estação e falando positivamente sobre sua estadia.
Os astronautas estão sendo resgatados?
Não exatamente. A espaçonave que trará Williams e Wilmore de volta está acoplada à estação espacial desde setembro do ano passado e poderia ter retornado à Terra a qualquer momento.
Os dois astronautas partiram para a estação espacial em junho de 2024 a bordo da Starliner, uma cápsula construída pela Boeing sob contrato da Nasa. A missão era um voo de teste, mas problemas de propulsão fizeram com que funcionários da Nasa decidissem não utilizar a Starliner para trazer os astronautas de volta após levantaram preocupações sobre sua confiabilidade.
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O maior receio da Nasa era que a Starliner não conseguisse gerar impulso suficiente para deixar a órbita e iniciar a descida segura ao planeta. Diante desse impasse, a agência espacial decidiu modificar seus planos: a missão Crew-9, da SpaceX, que já estava programada para decolar no fim de setembro, levaria apenas dois astronautas, em vez de quatro.
Em setembro, a Starliner desacoplou da estação espacial, reentrou na atmosfera e pousou no Novo México sem problemas – mas sem nenhum tripulante a bordo.
Há cerca de dez anos, a Nasa contratou tanto a Boeing quanto a SpaceX para desenvolver novas cápsulas capazes de levar astronautas à ISS. A ideia era ter dois veículos operacionais, garantindo alternativas em caso de falhas em um deles. No entanto, os recentes problemas enfrentados pela Starliner tornaram a SpaceX a única operadora ocidental de viagens para a ISS e consolidou a empresa de Elon Musk como a principal escolha da agência para missões tripuladas.
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O que os astronautas disseram sobre o tempo extra no espaço?
Em uma entrevista no mês passado, o apresentador Michael Barbaro, do podcast The Daily, perguntou aos astronautas:
“Se vocês não estão exatamente presos, como descreveriam essa situação?” Wilmore respondeu: “Ótima pergunta. Eu diria que é trabalho. É um prazer maravilhoso. É divertido. É desafiador às vezes, sem dúvida. Mas presos? Não. Isolados? Não. Abandonados? Também não”.
Essa foi a terceira missão espacial de Williams, 59 anos, e Wilmore, 62, e pode ser a última. “Estamos voltando para casa. E isso faz você querer aproveitar cada momento que ainda tem aqui em cima”, disse Williams.
O Globo, com Agências Internacionais