21 C
Dourados
domingo, março 23, 2025

O encanador

- Publicidade -

Depois de dois dias sem poder utilizar o vaso sanitário – desde sábado pela manhã –, por causa de um vazamento, ela ficou feliz com a chegada do encanador na segunda-feira, por volta das 11h. O tempo lhe pareceu longo sem poder usar o banheiro, mas o profissional não podia realizar o serviço no fim de semana. Não devia ter vontade de trabalhar no período dedicado à família e ao merecido descanso.

Foi logo dizendo que, como não era um caso de inundação – já que ela havia conseguido cortar a água –, poderia esperar até segunda-feira. Além do mais, o serviço no fim de semana era cobrado pelo dobro do preço habitual.

O que fazer? Esperar e se acomodar como fosse possível.

Alto, calvo, com uma bolsa preta – que depois ela constatou conter o bloco de faturas –, ele entrou. Atrás dele, um senhor negro, que nada disse. Era ele quem carregava a sacola do encanador, com todas as chaves e utensílios necessários ao conserto.

Nunca tinha visto um encanador com um ajudante. Após mostrar o local e explicar o ocorrido, ela ficou no quarto em frente ao banheiro para acompanhar o trabalho. O encanador, posicionado diante do problema, enquanto o segundo homem colocava a sacola no chão e retirava a chave adequada para que o primeiro desaparafusasse a torneira. Em seguida, o encanador foi pedindo o que precisava, mas o ajudante já sabia exatamente do que era necessário e lhe adiantava as ferramentas. Como em uma cirurgia, ele recebia as peças, devolvia-as… uma verdadeira operação! Só faltaram as luvas.

Não demorou mais de 10 minutos.

— Tudo pronto, serviço concluído! — disse ele, tirando da bolsa preta o talão de faturas.

Mais três minutos foram suficientes para preencher o documento. Incluindo o deslocamento, o trabalho e a troca da torneira, o valor? Uma quantia! Mesmo considerando o trabalho de duas pessoas e o custo da peça nova, o total cobrado equivalia a um dia inteiro de trabalho para ambos.

Mas esse trabalho ela não sabia fazer!

Mazé Torquato Chotil – Jornalista e autora. Doutora (Paris VIII) e pós-doutora (EHESS), nasceu em Glória de Dourados-MS, morou em Osasco-SP antes de chegar em Paris em 1985. Agora vive entre Paris, São Paulo e o Mato Grosso do Sul. Tem 14 livros publicados (cinco em francês). Fazem parte deles: Na sombra do ipê e No Crepúsculo da vida (Patuá); Lembranças do sítio / Mon enfance dans le Mato Grosso; Lembranças da vila; Nascentes vivas para os povos Guarani, Kaiowá e Terenas; Maria d’Apparecida negroluminosa voz; e Na rota de traficantes de obras de arte.
Em Paris, trabalha na divulgação da cultura brasileira, sobretudo a literária. Foi editora da 00h00 (catálogo lusófono) e é fundadora da UEELP – União Européia de escritores de língua Portuguesa. Escreveu – e escreve – para a imprensa brasileira e sites europeus.

- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -

Últimas Notícias

Últimas Notícias

- Publicidade-