A disputa pelas duas vagas ao Senado em Mato Grosso do Sul, em 2026, mal começou, mas já tem gente se comportando como se o diploma estivesse assinado. O ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o ex-deputado Vander Loubet (PT) tratam a eleição como se fosse um contrato de gaveta. Em tese, ambos têm consolidado o primeiro voto — Azambuja, o da direita; Loubet, o da esquerda. Mas a história política do estado, recheada de gigantes derrotados como Rachid Saldanha Derzi e Pedro Pedrossian, tem o péssimo hábito de frustrar certezas.
Azambuja, campo-grandense de nascença e maracajuense por conveniência eleitoral, se escora na máquina tucana e no apoio de Eduardo Riedel. Conta, também, com a força da Grande Dourados — mais especificamente da terra de seu Marcelino —, onde, durante os oito anos de seu governo, costumava ser considerado o grande prefeito que a cidade vinha precisando há anos. Capital político que aumentou ainda mais com a atenção que seu sucessor e afilhado, Eduardo Riedel, continua dando à cidade, independentemente das diferenças partidárias locais.
O vice-governador Barbosinha, que quanto a isso anda mais calado que influencer cancelado, também está com seu teco-teco na cabeceira da pista do “novo” aeroporto de Dourados. O deputado federal Geraldo Resende é candidato profissional: disputa até se o partido (e não importa qual) mandar num bilhete de padaria. E a vice-prefeita Gianni Nogueira tem o selo Bolsonaro de autenticidade — e o apoio declarado do ex-presidente.
Gianni, aliás, é um capítulo à parte, até pelo imponderável das consequências do tão esperado canetaço de Xandão & Cia. Mesmo proibida por Marçal Filho de falar em política no entorno da prefeitura, tida como candidata azarão, a vice-prefeita deve estar torcendo para que acabe logo essa tormenta golpista e, quem sabe, monte uma tenda de vigília em frente à Papuda, à la Lula em Curitiba. Neste caso, mesmo sem conseguir repetir o feito de Soraya Thronicke, fica a esperança de que seu gordinho continue em Brasília por mais quatro anos — para garantirem um sono mais confortável no revezamento que promete ser longo entre a Papuda e os apartamentos funcionais da Câmara dos Deputados.
O problema é que, caso os três consolidem suas candidaturas, Dourados corre o risco de, mais uma vez, se dividir tanto a ponto de continuar apenas na esperança de acesso ao Salão Azul do Congresso Nacional.
Enquanto isso, Vander Loubet, veterano do PT, prepara o terreno com o empurrão da máquina federal. Tem Lula, tem base sindical, tem narrativa. Mas também tem um problemão: o interior sul-mato-grossense virou reduto da direita — e ainda torce o nariz para a estrela vermelha. Lula e Loubet sabem disso. O desafio será transformar força nacional em voto local.
Fora do eixo principal, o caixeiro-viajante Nelsinho Trad (PSD) ainda flerta com a reeleição, mesmo após um mandato que só sua assessoria lembra. E Gerson Claro (PP), presidente da Assembleia Legislativa, surge como o nome do agro — um setor que nunca confiou totalmente em Azambuja, apesar das aparências. Claro teria o apoio da senadora bolsonarista Tereza Cristina. Além deles, Simone Tebet anda dando toda a pinta de que pode deixar o ministério de Lula para tentar um retorno, ops!, ao Senado, onde Soraya Thronick sabe que não tem a mínima chance de continuar.
No meio disso tudo, a única certeza é que a eleição terá duas vagas em disputa. O que parece aumentar a chance de Dourados eleger seu senador, mas abre espaço para alianças improváveis, traições previsíveis e candidatos que aparecem do nada, ganham do tudo e depois somem com o cargo.
E Dourados, mais uma vez, sonha. Sozinha, dividida e cheia de esperança.
A história, porém, tem sido cruel com quem sonha demais e se articula de menos.
