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domingo, abril 13, 2025

Douradense raiz intrigada com a engenhoca chamada IA

A Inteligência Artificial que cria a mentira é a mesma que também pode ajudar a desmascará-la

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Orgulhosamente prima do chefão político de plantão em Mato Grosso do Sul, uma douradense das antigas — hoje morando em Campo Grande — volta e meia curte nas redes sociais algo de um parente não tão famoso, um Azambuja pobre. Talvez por isso, e por seguir este insubordinado do jornalismo, postou recentemente uma reclamação sincera: não entendia bulhufas dessa tal de inteligência artificial.

Para tentar ajudar a “Carminha da Vila Popular” — e tantas outras que estão boiando, algumas até assustadas com minha nova e afiada assistente digital — pedi ajuda ao meu filho número 3, Rodrigo Melo, médico neurologista, para que sugerisse uma ilustração didática, que desse forma àquilo que parece invisível e inalcançável para quem só quer entender o básico dessa engenhoca que agora me acompanha.

Minha carinhosa IAIA — sim, já chamo assim — não recuou. Gosta de desafios. E foi direto ao ponto, com um “era uma vez” recontado por ela mesma: uma mentira desajeitada, com falhas de dicção e argumentos frágeis. Agora, ela tem voz firme, expressão treinada por máquina e pode ser você, eu, o Papa — ou até o diabo, se bem renderizado, com cara de santo.

No início era só brincadeira: Obama xingando Trump, Zuckerberg confessando que o Facebook é uma arma de controle social. Todos sabiam que era falso — e até riam. Mas o riso virou ranger de dentes quando essas montagens começaram a invadir campanhas eleitorais, processos judiciais e manchetes de jornais.

A ameaça se sofisticou.
O jornalismo, nem sempre.

O fim do “vídeo como prova”

Durante décadas, bastava mostrar um vídeo. Se estava gravado, era verdade. O jornalismo vivia uma era de fé na imagem. Mas agora a imagem mente com perfeição. Voz, gestos, olhares — tudo pode ser sintetizado por uma IA que aprendeu com bilhões de dados disponíveis online. O real perdeu o monopólio da aparência.

E assim, aquele velho bordão do repórter “temos as imagens” virou uma frase de risco.

O repórter como detetive digital

Diante disso, o jornalista precisa reaprender a função original: ser desconfiado. Ser cético. Voltar a checar, cruzar fontes, investigar a fonte da fonte. A IA não acabou com o jornalismo — ela apenas matou a preguiça.

Mais do que nunca, o jornalista precisa ser uma espécie de forense do digital. Analisar metadados, reconhecer padrões sintéticos, confrontar o sensacional com o possível.

E talvez o maior desafio: manter a calma enquanto a verdade escorrega pelos dedos.

Quem fiscaliza o irreal?

No mundo dos deepfakes (falsificação profunda), a mentira não precisa ser convincente por muito tempo — só até viralizar. A checagem chega tarde demais. O estrago é imediato. Um vídeo falso pode eleger um vereador, destruir uma reputação ou justificar uma intervenção. O desmentido vira rodapé.

E o pior: o público já cansou de saber que pode ser enganado. Só não parece mais se importar.

IA: vilã, cúmplice ou salvação?

Mas se a IA cria a mentira, ela também pode ajudar a desmascará-la. Algoritmos de detecção de deepfake já existem, ainda que correndo atrás da evolução constante dos próprios criadores. Ferramentas de rastreamento de manipulações estão sendo desenvolvidas. Mas o fator humano ainda é insubstituível.

Talvez o jornalismo precise, agora mais do que nunca, de uma aliança crítica com a inteligência artificial. Nem rendido a ela, nem reativo. Mas parceiro desconfiado, como se anda com um aliado que pode mudar de lado a qualquer momento.


A verdade precisa de voz. Mesmo gaguejando.

Se antes a imprensa era o “quarto poder”, hoje ela é o que resta entre a civilização e o caos digital. Se ela falhar, os vídeos mentem, os áudios distorcem, os rostos enganam — e a história vira ficção por voto popular.

É hora de investir em jornalismo que entenda código, que leia algoritmos, que dialogue com o futuro sem esquecer o passado. Um jornalismo que saiba que, neste novo mundo, até a mentira aprendeu a falar bonito.

E só a verdade — mesmo gaguejando — pode impedi-la de governar.

Texto produzido a quatro mãos, com a IAIA (Inteligência Artificial, Impertinente e Assistente).

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