A manifestação bolsonarista do último fim de semana na Avenida Paulista parecia, antes de tudo, uma reedição tardia do Baile da Ilha Fiscal — aquele, de 1889, que embalou os últimos suspiros do Império. Só que, desta vez, o anfitrião não vestia farda de gala, mas a indumentária mofada do ressentimento, cercado de palanques pagos e meia dúzia de fiéis remanescentes. A grandiosidade prometida virou um sarau de viúvas políticas, com direito até a participação especial de uma vice-prefeita interiorana, inexpressiva até nos bairros onde mora.
Gianni Nogueira, sim, ela mesma — a pastora, mulher do tal gordinho de Bolsonaro em Mato Grosso do Sul (o deputado Rodolfo Nogueira, um dos mais assíduos nos cercadinhos do “mito”) — teve seu momento de glória. Subiu ao palco ao lado de ninguém menos que Silas Malafaia, o último bastião da fé cega que sustenta o ex-presidente em seus devaneios de retorno. Malafaia é, hoje, mais do que conselheiro: é produtor, locutor e animador de palanque, um Silvio Santos gospel, que sopra vida onde a política já feneceu.
Gianni, coladinha no pastor, engrossou o coro dos hereges com uma comparação digna de meme evangélico: Bolsonaro seria o Daniel na cova dos leões. Faltou dizer que os leões, no caso, são o Supremo Tribunal Federal, o TSE, a Receita e a PF. Isto num momento em que os ratos dos porões dos navios que já zarpam apressados do com os produtos do agro Grande Dourados para o Oriente — carregados de soja, milho e gente que, discretamente, pulam fora do barco bolsonarista.
Sim, os ratos sabem: a água bateu na quilha. O agro, que sempre foi um bloco silencioso e oportunista, já calcula perdas e ganhos e, como de costume, se antecipa ao naufrágio. Não se vê mais na Paulista os velhos líderes de sindicato rural, os barões da proteína vermelha, os CEOs de veneno líquido e grão dolarizado. No lugar deles, o palco agora é ocupado por Giannis e Malafaias — uma espécie de segunda divisão da cruzada neopentecostal que sonha em manter Bolsonaro como mártir de uma guerra imaginária.
E se a esperança de Bolsonaro é a vice-prefeita Gianni Nogueira, convenhamos: o gordinho Rodolfo vai ter que se virar nos trinta. Não bastasse a irrelevância crescente no cenário estadual, agora também precisa se recuperar moralmente da surra que levou — isso mesmo, uma surra — no banheiro do Sindicato Rural de Dourados, pelas mãos, mais fortemente pelos pés, do genro do poderoso Zé Teixeira. Um vexame de fazer corar até os bois dos leilões virtuais.
No fim, o baile da Paulista parece mais uma despedida. Sem música. Sem conhaque. E com os rostos cada vez mais vazios de esperança.