Chegou com as chuvas de março! E contou que era sozinho , que viajava por aí e não tinha morada ! E aceitou a água , o café , o carinho gratuito, a amizade ! E ela o aceitou com primeiro nome, sem se importar com crendices , sem colocar desconfiança ! Era como se tivessem nascido naquele primeiro olhar ! E foram ficando …
Não se importavam com a falta de proseio , com os longos silêncios, com o ensimesmamento ! Os dias se acumulavam de calor brejeiro e o finais de tarde lânguidos se tingiam de um arebol intenso ! As borboletas floriam as manhãs como versos de poemas daquele viver sertanejo !
Alternavam longas caminhadas com observar o passar do tempo e iam se acostumando com o respirar , com as pigaras, com o som do caminhar de cada um … e iam entrelaçando o viver com a mesmice do dia a dia !O cheiro do café recém passado, do bolo de fubá , do torresmo que enchiam os silêncios que se arrastavam …
O som do rio que cortava o fundo do quintal , o vento de abril que flopava mais forte , as maritacas que festejavam os peitos vazios com fatias de felicidade !
E já não conseguiam mais pensar o tempo que viveram só! O cilindrar do pão era feito em parceria! O ordenhar das vacas era feito a quatro mãos ! Um era a extensão do outro na imensidão do silenciar ! O entrelaçar das mãos o roçar de pés nas madrugadas frias , o ranger das molas do colchão denunciava o entendimento cabisbaixo que crepitava como as brasas do Velho fogão a lenha ! E assim
Partilharam anos decorridos! Em parceria embarcararam na canoa da travessia e juntos alcançaram a terceira margem …
Gicelma Chacarosqui – Pós-doc pelo ECCO, UFMT, Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP; Mestrado em Estudos Literários e graduação em Letras Português Literatura Brasileira pela UFMS .É professora Titular da UFGD.