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quarta-feira, abril 16, 2025

O tarifaço de Trump que implode a lógica das cadeias globais de produção e a dura reação da China

China revida Trump e anuncia tarifas adicionais de 84% sobre os EUA

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O tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump, promete implodir as “cadeias globais de valor”, a forma como a indústria se organizou na era da globalização. Segundo especialistas, a posição americana poderá acelerar mudanças potencializadas pela pandemia de Covid-19 e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, quando tendências como “nearshoring” (a transferência de elos das cadeias para países próximos) e “friendshoring” (a transferência para países aliados) se popularizaram, mas é difícil prever o que virá no lugar.

Analistas têm chamado atenção para a elevada incerteza em relação à nova estratégia comercial da Casa Branca. No caso das cadeias globais da indústria, a capacidade de organização entre os demais países e o avanço de novos modelos de multinacionais, especialmente na China e no Sudeste Asiático, são alguns dos pontos a serem observados daqui para a frente.

— Mais do que o que os países vão fazer em relação aos EUA, importa é o que os países vão fazer entre eles. Até recentemente, a União Europeia (UE) reproduzia a postura americana em relação à China. Será que vamos conseguir voltar a ter conversas mais multilaterais, tirando os EUA? — questiona a professora Marta Castilho, coordenadora do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC) do Instituto de Economia da UFRJ.

Modelo pulverizado

O modelo das cadeias globais é marcado pela pulverização da fabricação de insumos e de etapas de produção por diversos países, sob coordenação de uma multinacional, responsável pela tecnologia e desenvolvimento. Em prol da eficiência e de custos menores, os países se especializam em elos da cadeia, em vez de produtos.

Segundo o economista Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial e pesquisador do Centro de Políticas para o Novo Sul, o modelo avançou nos anos 1990, com a entrada de “1 bilhão” de trabalhadores na economia de mercado — após a Guerra Fria acabar e a China se abrir—, os avanços tecnológicos da informação e novas rodadas de abertura comercial.

Ainda sob efeitos da crise financeira internacional de 2008, a integração das cadeias globais atingiu o ápice na primeira metade da década passada e, então, parece ter parado de crescer, disse Fernando José Ribeiro, coordenador de Estudos em Comércio Internacional do Ipea, conforme indica o uso de insumos importados na indústria.

Até a primeira metade dos anos 2010, o valor adicionado nas exportações de manufaturados de vários países cresceu, mostram dados da OCDE, organismo multilateral que reúne países desenvolvidos. Nos EUA, saltou mais de três vezes entre 1995 e 2011, auge da série histórica da OCDE. Na União Europeia, cresceu pouco mais de seis vezes e, na China, 22 vezes no período.

Nos últimos dez anos, porém, o indicador estagnou ou cresceu pouco. Segundo Ribeiro, estudos mostraram que começou a haver uma maior regionalização no comércio internacional. A China aprofundou o comércio com vizinhos na Ásia. Os EUA ampliaram as transações com Canadá e México.

— Foi resultado meio natural da reorganização das empresas. Houve um esgotamento daquele processo anterior de cadeias globais propriamente ditas e as empresas perceberam que era mais interessante aprofundar laços regionais — disse Ribeiro.

Para o pesquisador, a guerra comercial contra a China iniciada no primeiro governo Trump e, anos depois, a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia aceleraram essa tendência. Marta, da UFRJ, lembrou que as restrições logísticas e geopolíticas — como as sanções contra o petróleo russo ou a suspensão das exportações ucranianas de fertilizantes — deram uma “nova noção” para as ideias de setores ou insumos considerados prioritários e estratégicos.

China revida e anuncia tarifas adicionais de 84% sobre os EUA

A China vai impor tarifas de 84% aos Estados Unidos, além das de 34% anunciadas anteriormente, em resposta ao movimento do presidente republicano Donald Trump, de taxar os produtos chineses em 104%. A tarifa adicional passa a valer a partir desta quinta-feira, 10, segundo anunciado pelo Ministério das Finanças chinês.

À agência de notícias Reuters, o Ministério do Comércio chinês informou ter adicionado 12 entidades americanas à lista de controle de exportação e outras seis à lista de “entidades não confiáveis”.

Em um comunicado enviado à Organização Mundial do Comércio (OMC), a China afirmou que a decisão dos EUA de impor o taifaço ameaça desestabilizar o comércio global e considerou que “a situação se agravou perigosamente”.

“Como um dos membros afetados, a China expressa profunda preocupação e firme oposição a essa medida imprudente”, diz o texto, também acessado pela agência. A China também afirmou em uma reunião da OMC sobre comércio de bens que as tarifas recíprocas violavam as regras da organização e minavam o sistema multilateral de comércio.

“Tarifas recíprocas não são — e nunca serão — uma cura para os desequilíbrios comerciais. Em vez disso, elas sairão pela culatra, prejudicando os próprios EUA”, continua.

Uma reação imediata ao anúncio da tarifa adicional de 84% feito na manhã desta quarta-feira, 9, foi vista nas bolsas de valores americanas. Os futuros do índice de ações dos EUA recuaram acentuadamente. Os contratos futuros (E-minis) da Dow Jones caíam 1,87%; da Nasdaq, 1,45%; e da S&P 500, 1,72%.

Vinicius Neder/O Globo — Rio

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