Nos últimos dias, tenho escutado — com uma mistura de surpresa e desconfiança — comentários curiosos sobre os textos que assino. “Você está escrevendo bem demais”, dizem em tom de ironia. Outros, mais desconfiados, arriscam: “isso aí tem dedo de inteligência artificial”. Despeito? E há ainda os que, incapazes de conviver com a crítica, voltaram à velha prática da intimidação. Pelo que aqui rolou nos últimos dias, e por uma triste coincidência, justo no Dia do Jornalista, comemorado anteontem, 7 de abril.
Talvez o estopim tenha sido a crônica em que voltou à tona a surra no Gordinho do Bolsonaro, como é conhecido o deputado Rodolfo Nogueira. Um episódio constrangedor, abafado nos bastidores da política local, mas simbólico do grau de decadência da nossa representação. O texto, aqui publicado em janeiro passado, escancarou mais que a briga de bastidores: revelou o silêncio conveniente da direita douradense, a promiscuidade política e as negociatas familiares que se disfarçam de estratégia eleitoral.
O problema, ao que parece, não está no texto em si, mas no incômodo que ele ainda provoca. O Brasil vive tempos em que a mediocridade virou método, e qualquer discurso que fuja do pasto ideológico é imediatamente rotulado como suspeito. Se é crítico, é “militante”; se é bem escrito, é “obra da IA”; se é verdadeiro, é “ameaça”.
Mas para os que chegaram agora — e para os desmemoriados de ocasião —, é bom lembrar: não comecei a escrever ontem. Estava no trecho já havia alguns anos quando, em 2010, a Operação Uragano sacudiu Dourados e levou para a cadeia prefeito, vice, 99% dos vereadores, secretários municipais e grandes empresários. Denunciei o esquema com provas, nomes e datas — e, como sempre, assinei embaixo. IA? Nem se pensava nisso!
É claro que o tempo fez o escândalo virar pizza, como manda o receituário da impunidade nacional. Mas a denúncia ficou registrada. Assim como ficam registradas todas as ameaças, tentativas de intimidação e os “elogios” enviesados que surgem quando a palavra escrita volta a incomodar.
Para quem prefere jornalistas dóceis, há muitos por aí. Alguns à disposição, para aluguel, inclusive.
Mas este aqui — que vos escreve — segue insubordinado. E se isso está “bom demais pra ser verdade”, talvez o problema não esteja no texto, mas em quem o lê.